Julgamento de Paulo Cupertino, acusado de matar ator de Chiquititas e família, começa nesta quinta
Empresário é réu pelo homicídio de Rafael Miguel e dos pais do rapaz, em junho de 2019. Primeiro julgamento, em 2024, foi anulado após Cupertino destituir seu advogado. 'Estadão' tenta contato com a defesa
O novo julgamento de Paulo Cupertino, acusado de matar o ator de Chiquititas, Rafael Miguel, e os pais dele, começou nesta quinta-feira, 29, no Fórum Criminal da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo. Isabela Tibcherani, filha de Cupertino, foi a primeira a prestar depoimento.
Segundo o MP, em 9 de junho de 2019, o empresário matou com 13 tiros Rafael, de 22 anos, e seus pais, o casal João Alcisio Miguel, de 52, e Miriam Selma Silva Miguel, de 50. Conforme a acusação, o crime foi cometido por ciúmes: ele não aceitava o namoro da filha com o ator. Na época, ela tinha 18 anos.
Cupertino conseguiu anular o primeiro julgamento, que ocorreu em outubro de 2024. Na ocasião, o réu destituiu seu advogado, levando o juiz Antônio Carlos Pontes de Souza a suspender o julgamento.
Ele é julgado por homicídio doloso com duas qualificadoras: crime cometido sem chance de defesa das vítimas e por motivo fútil. A reportagem tenta contato com a defesa.
O crime aconteceu em frente à casa da família, na Estrada do Alvarenga, no bairro Pedreira, na zona sul de São Paulo. Cupertino fugiu após os disparos. Outras duas pessoas, Eduardo Machado, de 45 anos, e Wanderley Ribeiro Senhora, de 59, acusados de ajudar na fuga do empresário, são réus no mesmo processo.
Ambos respondem em liberdade e, em seus depoimentos, negaram relação com o crime. O Estadão tenta contato com os defensores de Eduardo e Wanderley.
'Só vai namorar depois dos 30, se eu deixar'
Isabela Tibcherani Matias e sua mãe, Vanessa Tibcherani de Camargo, relataram um relacionamento familiar conturbado em que Cupertino era possessivo e agressivo em relação às duas mulheres.
Na ocasião, a mãe afirmou que ele era agressivo e batia nela. Isabela disse que o pai sempre a tratou de forma diferenciada em relação ao irmão. Depois que ela começou a namorar, ele se tornou mais agressivo e a proibiu de se relacionar com Rafael ou outro garoto.
Segundo o depoimento, o pai monitorava o celular de Isabela e a proibia de sair de casa. Quando a promotora Soraia Bicudo Simoes Munhoz perguntou quanto tempo ela ficou sem sair de casa, Isabela respondeu: "Oito meses, sem contato, sem celular, sem convívio com outras pessoas, só dentro de casa."
Ela pedia o celular da mãe para falar com o namorado. Isabela contou ainda que o pai falava, em conversas com conhecidos: "Você só vai namorar depois dos 30, se eu deixar."
O relacionamento entre Isabela e Rafael durou pouco mais de um ano. A jovem deu detalhes sobre o que seria seu último encontro com ele. Ela saiu de casa para se encontrar com o namorado em uma praça, mas viu o carro do pai chegando e não quis voltar para casa. "Eu estava abalada, nervosa, chorava muito", disse.
No depoimento, a filha chegou a se referir ao pai como "réu". "Nossa relação (com o pai) era algo que me deixava aflita", disse. O casal decidiu ir à casa dos pais de Rafael mas, chegando lá, foram convencidos a ir até a casa de Cupertino para esclarecer a situação.
Ela conta que, quando chegaram, Rafael foi abrir a porta e se deparou com o pai de Isabela. "Ele não falou nada e me puxou para dentro e fechou o portão de maneira agressiva. A mãe do Rafael perguntou: 'você que é o pai de Isabela?' ele respondeu: 'Não, eu sou a mãe'. Quando o Rafael falou, 'vamos conversar', ele disse: 'conversar nada'. Segurou o portão, eu já estava dentro (da casa). A partir daí só ouvi os disparos. Foram muitos disparos."
Isabela contou que, quando os tiros cessaram, viu o corpo de Rafael sobre o corpo da mãe dele, perto do carro. O corpo do pai de Rafael estava no meio da rua.
Prisão após anos foragido
Cupertino foi preso quase três anos após o crime, em maio de 2022, quando a polícia o encontrou escondido e disfarçado, com uma identidade falsa, em um hotel de São Paulo. Com ele foram encontrados chapéus, tintas de cabelo e lentes de contato que, segundo a polícia, o procurado usava para se disfarçar.
Para prendê-lo, a Polícia Civil de São Paulo usou um leque variado de estratégias. Investigadores do caso chegaram até a monitorar o velório da mãe de criação do suspeito, em 2020, na expectativa que ele fosse disfarçado ao local.
Foram também por algumas vezes a fazendas no Mato Grosso do Sul, possivelmente onde o réu se escondeu por mais tempo. Pouco antes de uma dessas idas, ele teria fugido em um caminhão carregado de melancias.
Rafael era conhecido por sua participação na versão brasileira da novela Chiquititas, do SBT, exibida entre 2013 e 2015. Ele representava o personagem Paçoca.
O ator atuou também em novelas da Globo, como Pé na Jaca e Cama de Gato, além do especial de fim de ano O Natal e o Menino Imperador.