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Ibama e Aeronáutica demoram três dias para retirar corpo de piloto morto em acidente de helicóptero

Instituto alega que 'demora para retirar o corpo do comandante deu-se por conta da aeronave ter caído em uma região lamacenta, o que dificultou o resgate'

3 dez 2020 - 12h57
(atualizado em 4/12/2020 às 10h46)
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BRASÍLIA - A agilidade, característica que, por anos, orientou o trabalho do piloto Mauro Tadeu da Silva Oliveira em combates a incêndios País afora, não esteve presente no momento em que o governo brasileiro teve de resgatar seu corpo, preso a ferragens do helicóptero do Ibama que caiu no Pantanal, na última segunda-feira, 30.

Por três dias, o corpo do comandante Oliveira, 54 anos, ficou submerso, em meio às ferragens do helicóptero do Ibama. A aeronave caiu enquanto fazia uma manobra para retirar água na região do Parque Nacional do Pantanal Matogrossense, em Porto Jofre (MT), para apagar focos de incêndios criminosos.

Desde a notificação do acidente, servidores do Ibama tentaram realizar a articulação junto à FAB para viabilizar o resgate do corpo, já que autarquia federal não possui os meios necessários para essa atividade.

Em cerca de 12 horas, os técnicos do Centro Especializado do Ibama conseguiram, com o apoio do Prevfogo, resgatar, por acesso pelos rios, a tripulação que estava isolada na mata. Ocorre que não tinham meios, porém, de içar o helicóptero e resgatar o corpo do piloto.

Foi acordado que a FAB ajudaria a fazer o içamento e a retirada do corpo. Na operação, porém, a Aeronáutica informou que só atuaria na retirada do helicóptero e que os agentes do Ibama deveriam remover o corpo de Mauro. Ao fim da operação, quem acabou trasladando o corpo até Cuiabá/MT, em um helicóptero menor, foi o próprio Centro de Operações Aéreas do Ibama.

Nesta quinta-feira, o Ibama divulgou uma nota para informar sobre a retirada. Alegou que "a demora para retirar o corpo do comandante deu-se por conta da aeronave ter caído em uma região lamacenta, o que dificultou o resgate".

Uma aeronave da Aeronáutica chamada Black Hawk (Falcão Negro), que consegue carregar até quatro toneladas fará a retirada do helicóptero do Ibama, que pesa 1.200 quilos.

A "ação", segundo o Ibama, foi resultado de uma "força-tarefa" que envolveu o Centro de Operações Aéreas (Coaer) do Ibama, a Aeronáutica, a Helisul Táxi Aéreo, o Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer) do Mato Grosso e o Corpo de Bombeiros. As causas do acidente serão investigadas pelo Centro de Investigações da Aeronáutica (Cenipa).

Oliveira era funcionário da empresa contratada para prestar serviços de helicóptero ao Ibama. Coronel da reserva do Corpo de Bombeiros, era piloto desde 2005, com mais de 5 mil horas de voos. Deixou mulher e dois filhos.

O Ibama não possui helicópteros próprios. Trata-se de equipamentos alugados de terceiros. Neste último trimestre do ano, o órgão vinha atrasando uma série de pagamentos à empresa prestadora do serviço. Em outubro, as contas em aberto com helicópteros chegavam a R$ 5 milhões.

Em agosto, o Ibama decidiu reduzir o número de helicópteros que aluga para vigiar o desmatamento e as queimadas no Pantanal e Amazônia. Por determinação do Ministério do Meio Ambiente para diminuir gastos, o órgão passou a contar com quatro aeronaves para auxiliar na vigilância de uma área de 5 milhões de quilômetros quadrados. Até então, havia seis aeronaves.

Os helicópteros são utilizados para fiscalizar todo o País. Em época de seca, quando os incêndios proliferam na região Norte, as horas de voo dos equipamentos aumentam significativamente. Servidores que atuam no setor afirmaram à reportagem que os equipamentos operam no limite, dadas as limitações das máquinas.

Em agosto, o responsável pelo setor alertou que as reduções trariam consequências graves para o trabalho de fiscalização, mas foi exonerado uma semana depois de encaminhar uma série de ofícios nesse sentido. Sob o argumento de que é preciso reduzir os gastos, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, determinou ao Ibama que fizesse mais cortes, limitando o aluguel a somente quatro aeronaves porque o orçamento dos helicópteros não pode ultrapassar o custo anual de R$ 60 milhões.

Com o número atual de seis helicópteros, cada um já tinha a missão de fiscalizar cerca de 833 mil km², mais de três vezes o Estado de São Paulo. Com quatro aeronaves, esse volume sobe para 1,25 milhão de km². É como se um único helicóptero fosse usado para sobrevoar todo o Estado do Pará. O contrato atual, de seis aeronaves, vence em fevereiro do ano que vem.

O Ministério do Meio Ambiente já tem aprovada uma ação dentro do Fundo Amazônia, programa mantido pela Noruega e Alemanha, voltada justamente para pagar contas com aeronaves e caminhonetes. Há mais de R$ 63 milhões de recursos a fundo perdido, que já poderia ter sido utilizado pelo Ibama, bastando-se que seja acionado junto ao BNDES, que é o gestor do dinheiro.

O chamado Projeto de Fortalecimento do Controle e do Monitoramento Ambiental para o Combate ao Desmatamento Ilegal na Amazônia (Profisc I-B) recebeu uma verba de R$ 140 milhões em abril de 2018, para ser usada no período de 36 meses. Até dezembro do ano passado foram desembolsados R$ 67 milhões. Neste ano, houve um único saque de R$ 10,2 milhões. Os demais R$ 63 milhões estão paralisados.

Estadão
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