Estudante de medicina e filha de secretário do Acre revolta web após ofender acreanos: 'Povo seboso'
Natural do estado, estudante é da Universidade Federal do Acre (Ufac); após repercussão, ela postou uma nota de retratação nas redes sociais
O MP pediu abertura de inquérito para investigar postagens feitas pela estudante de medicina Assúria Mesquita contra acreanos. Ela é natural do estado e filha do secretário de Indústria, Ciência e Tecnologia do Acre (Seict), Assurbanípal Mesquita.
O Ministério Público do Estado do Acre (MPAC) instaurou uma notícia-crime e requisitou inquérito policial para apurar postagens ofensivas contra acreanos feitas pela estudante de medicina Assúria Nascimento de Mesquita, de 20 anos, da Universidade Federal local (Ufac). Natural do estado, ela é filha do secretário de Indústria, Ciência e Tecnologia da região, Assurbanípal Mesquita.
"Odeio tanto essa roça, quando me formar vou estudar tanto pra passar numa residência que seja bem longe desse umbral e poder ser feliz sem ter acreanos estragando meu dia", disse em uma das postagens. "Acabei de ver uma menina tão bonita que nem parece que é acreana", afirmou em outra.
Em outra publicação, ela afirmou que acreanos são 'sebosos'. "A coisa que mais amo no meu namorado é que ele não é acreano, pois tenho asco de acreanos, se Deus quiser eu nunca mais vou precisar ter que olhar pra esse povo tão seboso (infelizmente não posso falar mais nada pq [sic] vou parecer preconceituosa)", escreveu.
Receba as principais notícias direto no WhatsApp! Inscreva-se no canal do Terra
Após as postagens causarem polêmica entre os usuários do X (antigo 'Twitter'), a estudante publicou, nas redes sociais, uma nota de retratação em que afirmou estar "profundamente arrependida e refletindo com seriedade sobre o impacto disso".
O pai dela, o secretário de Indústria, Ciência e Tecnologia do Acre, Assurbanípal Mesquita, também publicou nota (veja mais abaixo) e se desculpou pelas falas da filha. "Conversamos longamente com a nossa filha, que está verdadeiramente arrependida", afirmou.
O promotor Thalles Ferreira, do Ministério Público do Acre, explicou que o inquérito irá investigar três aspectos: o contexto dos supostos ataques xenofóbicos, as intenções da autora e se o caso se enquadra na legislação sobre xenofobia. O MPAC estabeleceu prazo máximo de dez dias para abertura das investigações.
A Atlética Sinistra, do curso de medicina da Ufac, da qual Assúria faz parte da diretoria, repudiou as falas dela por meio de nota. "Não compactuamos com manifestações que desrespeitam a dignidade humana, promovem a exclusão ou, discriminam qualquer indivíduo ou grupo com base em sua origem, etnia, condição social, cultural ou qualquer outro marcador. Acreditamos em um ambiente universitário inclusivo, plural e respeitoso, onde a diversidade é força e não motivo de ataque", destacou.
Nota publicada pela estudante
"Eu cometi um erro muito grave ao me manifestar em rede social e é natural que as pessoas, especialmente quem, como eu, nasceu no Acre, se sintam atingidas ou ultrajadas.
Confesso que estou profundamente arrependida e refletindo com seriedade sobre o impacto disso. Admito que me expressei de forma profundamente imatura e desrespeitosa.
Sou profundamente grata por ser acreana e tudo o que consegui até o momento foi com apoio de minha família e de amigos que também são acreanos.
Não transfiro a ninguém a responsabilidade do dano que causei a mim e a terceiros e assumo o compromisso de buscar escuta, aprendizado e a corrigir minha atitude equivocada.
As palavras têm poder, e eu falhei no uso desse poder. Portanto, peço desculpas sinceras à minha família, amigos e a todas as demais pessoas que feri."
Nota publicada pelo secretário
"Como pai da Assúria Mesquita, venho por meio desta, expressar minha solidariedade e apoio àqueles que se sentiram afetados pelas palavras de minha filha, Assúria Mesquita. Nossa família não compactua com as mesmas e também nos indignamos e tomamos as medidas devidas e a uma avaliação profunda sobre este fato.
É fundamental reconhecer o impacto das palavras e ações, e, neste momento, é nosso dever ouvir, aprender e evoluir. Estamos todos em um processo constante de formação e conscientização. A empatia, o respeito e a responsabilidade são pilares fundamentais que devemos cultivar em nossas relações e na nossa sociedade. Essa é a educação que repassamos à nossa filha.
Conversamos longamente com a nossa filha, que está verdadeiramente arrependida. Ela reconheceu o erro, está refletindo sobre o impacto de suas atitudes e buscando formas de se retratar e aprender com essa péssima experiência.
Em reconhecimento a este grave erro, ela fez retratação pública em suas redes sociais. Aos que se sentiram ofendidos, deixo minha mais profunda solidariedade. Estamos juntos na busca por um diálogo construtivo e pela promoção de um ambiente onde todos possam ser respeitados e valorizados.
Agradeço a cada um de vocês pela oportunidade de refletirmos sobre nossas atitudes e pelas lições que podemos aprender juntos."