'É uma minoria', dizem populares sobre atos de vandalismo em SP
Dia foi de limpeza e conserto nos estragos causados por manifestantes na região da prefeitura de São Paulo
Um dia depois das cenas de destruição nos arredores da prefeitura de São Paulo, as pessoas que passavam pela região pararam nesta quarta-feira para ver os estragos causados por vândalos que depredaram prédios públicos e comércios durante o protesto de terça-feira, e lamentaram o ocorrido.
“É triste. É muito triste, porque não tem de ser assim (com violência). Não é assim que se reivindica, se faz protesto”, disse a assessora imobiliária Vanessa Correia Pereira, 31 anos, que passava apressada pelo local, mas parou para conferir os danos causados no prédio da prefeitura de São Paulo. “E é uma minoria que faz isso e estraga o que os outros estão tentando fazer.”
Para o empresário Raildo Silva de Sousa, 71 anos, os estragos têm significado especial. “É difícil de ver isso, essa bagunça. Trabalhei aqui por 14 anos. Esse prédio é histórico, é muito antigo. Faz parte da história de São Paulo”, afirmou.
Segundo o subprefeito da Sé, Marcos Barreto, a ação de um grupo de vândalos deixou um saldo de 29 estabelecimentos depredados, entre lojas e agências bancárias. Prédios antigos que são tombados pelo patrimônio histórico, como o Theatro Municipal de São Paulo e a prefeitura, foram pichados.
Ao todo, 189 lixeiras públicas foram depredadas pelo grupo. O pórtico na praça do Patriarca também sofreu várias pichações. Sete bandeiras do município e do Estado foram danificadas e serão recolocadas.
“É feio, não é assim (com vandalismo). Mas mostra que o povo não aguenta mais, que tá revoltado, afirmou a copeira Rosineide Rodrigues de Sousa, 30 anos.
Segundo a subprefeitura, 350 pessoas trabalham na limpeza no centro e na região da rua Augusta. Segundo o subprefeito Marcos Barreto, o serviço começou ainda durante a madrugada e já está bem avançado. "O trabalho já começou a ser feito, para devolver à cidade o que foi destruído", disse ele.
“Apoio totalmente os protestos, as manifestações. O povo tem que lutar mesmo. Isso (as manifestações em todo País) repercutiu no mundo todo. (...) Acho que o pessoal que quebrou tudo se aproveitou que não tinha polícia aqui, que a polícia não estava agindo com força, para fazer esse vandalismo”, afirmou o comerciante Uelinton Barbosa dos Santos, 33 anos.
A equipe da subprefeitura se reuniu com o Departamento do Patrimônio Histórico da cidade para avaliar como será feita a limpeza. Os trabalhos de remoção do rastro de destruição deixado pelos vândalos nesses edifícios começaram nesta quarta-feira. A expectativa é que as pichações sejam removidas até quinta-feira.
Enquanto Uelinton acredita que as imagens de vandalismo não superaram a beleza dos protestos pacíficos, o servente de pedreiro Antônio Nascimento Pereira Neto, 23 anos, que trabalha para a prefeitura e recolocava no local pedras que formam o calçamento e foram retiradas e atiradas, diz que a imagem do País saiu prejudicada após esta terça-feira.
“Está todo mundo de olho aqui (no Brasil). Cheio de gente de fora vindo, por causa da Copa das Confederações. Qual a imagem que fica? É isso (de violência). É uma minoria, que faz com que a imagem que fique seja essa”, afirmou. “Tem de protestar mesmo, mas tem de pensar no modo certo”, ponderou.
Cenas de guerra nos protestos em SP
A cidade de São Paulo enfrenta protestos contra o aumento na tarifa do transporte público desde o dia 6 de junho. Manifestantes e policiais entraram em confronto em diferentes ocasiões e ruas do centro se transformaram em cenários de guerra.
Durante os atos, portas de agências bancárias e estabelecimentos comerciais foram quebrados, ônibus, prédios, muros e monumentos pichados e lixeiras incendiadas. Os manifestantes alegam que reagem à repressão da polícia, que age de maneira truculenta para tentar conter ou dispersar os protestos.
Veja a cronologia e mais detalhes sobre os protestos em SP
Mais de 250 pessoas foram presas durante as manifestações, muitas sob acusação de depredação de patrimônio público e formação de quadrilha. A mobilização ganhou força a partir do dia 13 de junho, quando o protesto foi marcado pela repressão opressiva. Bombas de gás lacrimogêneo lançadas pela Polícia Militar na rua da Consolação deram início a uma sequência de atos violentos por parte das forças de segurança, que se espalharam pelo centro.
O cenário foi de caos: manifestantes e pessoas pegas de surpresa pelo protesto correndo para todos os lados tentando se proteger; motoristas e passageiros de ônibus inalando gás de pimenta sem ter como fugir em meio ao trânsito; e vários jornalistas, que cobriam o protesto, detidos, ameaçados ou agredidos.
As agressões da polícia repercutiram negativamente na imprensa e também nas redes sociais. Vítimas e testemunhas da ação violenta divulgaram relatos, fotografias e vídeos na internet. A mobilização ultrapassou as fronteiras do País e ganhou as ruas de várias cidades do mundo. Dezenas de manifestações foram organizadas em outros países em apoio aos protestos em São Paulo e repúdio à ação violenta da Polícia Militar. Eventos foram marcados pelas redes sociais em quase 30 cidades da Europa, Estados Unidos e América Latina.
As passagens de ônibus, metrô e trem da cidade de São Paulo passaram a custar R$ 3,20 no dia 2 de junho. A tarifa anterior, de R$ 3, vigorava desde janeiro de 2011. Segundo a administração paulista, caso fosse feito o reajuste com base na inflação acumulada no período, aferido pelo IPC/Fipe, o valor chegaria a R$ 3,40.
O prefeito da capital havia declarado que o reajuste poderia ser menor caso o Congresso aprovasse a desoneração do Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) para o transporte público. A proposta foi aprovada, mas não houve manifestação da administração municipal sobre redução das tarifas.