A reinvenção do clássico: como o Fusca entrou para o mundo do luxo?
O Fusca é um marco da indústria automotiva, conhecido por sua praticidade, economia e simplicidade. Por mais de meio século, o modelo atravessou gerações como carro de famílias comuns e, no Brasil, virou patrimônio afetivo com várias caras, incluindo táxi e carro de autoescola.
No circuito internacional, o modelo já foi símbolo de reconstrução no pós-guerra, como na Alemanha, e ícone da contracultura dos Estados Unidos nos anos 1960. Apesar de suas diversas facetas, o Fusca nunca foi visto como um item de luxo, e por isso, talvez cause estranhamento no público saber que uma versão radicalmente transformada do modelo já circulou em eventos de gala, como o Oscar, e vale mais que um Rolls-Royce clássico.
O Fusca Limousine é considerado um veículo único, artesanal e exclusivo, que deixou de ser o "carro do povo" para se tornar uma peça de colecionador milionário. Avaliado em mais de 310 mil euros, o modelo representa uma das principais inversões simbólicas da história do automóvel.
Uma história destinada ao sucesso
John von Neumann, um imigrante alemão que se estabeleceu na Califórnia durante a Segunda Guerra Mundial, foi o responsável por iniciar essa história. Como um dos primeiros distribuidores da Volkswagen nos Estados Unidos, Von Neumann viu potencial no Fusca além do utilitarismo simples.
Com acesso a recursos e influência no mercado automobilístico, o alemão encomendou a transformação do carro à Trautman-Barnes, oficina conhecida por projetos exclusivos e trabalhos em carros de competição, como Chaparral e Scarab. O orçamento original do projeto girava em torno de 30 mil euros, considerado um gasto inimaginável em comparação ao modelo, que custava uma fração disso.
A marca aceitou o desafio de transformar o modelo sem descaracterizá-lo, assim a silhueta arredondada, os faróis ovais e a essência visual do Volkswagen em proporções inéditas. O chassi foi alongado, a carroceria recebeu extensões estruturais e o projeto foi convertido em uma limusine clássica.
O Fusca celebridade
Foi nesse momento que a comparação com o Rolls-Royce surgiu, devido ao padrão de tratamento artesanal, e o Fusca deixou de ser um veículo de série para se tornar um veículo de autor.
Em seu interior, a simplicidade do Fusca desaparece nesse novo projeto, que inclui revestimentos em madeira nobre e couro fabricado à mão, frigobar interno e iluminação ambiente, formato lounge, sistema de som premium e toca-fitas Philips, símbolo de status da década, e portas com abertura invertida.
Apesar da participação simbólica no Oscar, o modelo limousine também esteve presente em eventos de gala, campanhas promocionais e produções de estúdios. O carro também foi fotografado em casamentos de luxo, usado em desfiles cômico-elegantes e exposto como peça de marketing.
Décadas depois, ainda em perfeito estado e com histórico comprovado, o Fusca limousine chegou aos salões de leilão da Sotheby's, uma das casas mais prestigiadas do mercado global. O modelo foi vendido por 310 mil euros, cerca de R$ 1,6 milhão, valor que surpreendeu até mesmo colecionadores experientes.
Em comparação, o Rolls-Royce Silver Shadow dos anos 1970, modelo muito procurado por colecionadores, é vendido na média entre 100 e 150 mil euros. De forma que o Fusca, carro antes considerado simples e "do povo", vale o dobro do veículo lendário.
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