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Quantas mulheres negras já tiveram suas prisões adiadas?

Justiça de SP não aceitou o pedido de prisão preventiva contra Alicia Dudy Muller, estudante da USP suspeita de desviar um milhão de reais

6 fev 2023 - 14h35
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No caso da USP, a estudante Alicia Muller, de 25 anos, confessou à polícia que desviou R$ 937 mil arrecadados por alunos para a formatura
No caso da USP, a estudante Alicia Muller, de 25 anos, confessou à polícia que desviou R$ 937 mil arrecadados por alunos para a formatura
Foto: Reprodução redes sociais / Flipar

Pois é, o Ministério Público de São Paulo se manifestou contra o pedido de prisão preventiva de Alicia Duddy Muller Veiga e devolveu os autos para a polícia civil para que novos procedimentos sejam feitos. Segundo eles, só após essas alterações o pedido será analisado. Para quem não sabe, Alicia é a estudante de medicina da USP acusada de desviar um milhão de reais do dinheiro arrecado pelos alunos para a festa de formatura.

Em seu depoimento, ela disse que investiu o valor, mas perdeu por falta de conhecimento. E então passou a jogar na lotaria para tentar recuperar o dinheiro. A investigação mostrou que a “pobre menina” utilizou parte da grana para benefícios pessoais, como pagar aluguel de apartamento, locação veicular e até a compra de um iPad. Chocado, mas não surpreso, com tudo isso quero relembrar alguns casos em que mulheres negras, por crimes menores, não tiveram tanta condescendência do poder público.

Primeiro caso foi quando o Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu manter presa uma mãe de cinco filhos por causa de um furto de alimento. Essa senhora, que à época tinha 41 anos e filhos entre 2 e 16 anos, foi presa ao ser flagrada pelas câmeras de um mercado pegando um refrigerante e um pacote de leite condensado. Segundo a justiça, a reincidência foi o motivo da decisão. Não por coincidência a reincidência sempre foi em supermercados e por comida.

Outro caso que lembrei é um pouco mais antigo, de 2005, quando uma mulher, que trabalhava com serviços domésticos, mas estava desempregada, foi presa por furtar um pote de manteiga no valor de R$ 3,20. Na época, Angélica tinha 18 anos, um filho de dois e ficou presa também em São Paulo. O advogado dela alegou que ela não resistiu ao ver o filho chorando de FOME. Sem antecedentes criminais, sem violência durante o furto, muito pelo contrário, segundo a defesa ela que foi agredida pelo dono do local. Nesse período descrito acima, ela já tinha meses presa e dois habeas-corpus negados.

O último, mas não menos impressionante, é o caso da Fabiana Soares da Silva, que ficou mais de três meses na prisão porque furtou três baldes de água da Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais). A história da diarista não é diferente de nada que vemos até hoje. Uma mãe que teve sua água cortada e que, em um momento de necessidade, rompeu o lacre para saneamento básico e cozimento de alimentos. A fiscalização foi novamente na residência de Fabiana após o lacre ter sido rompido e ela foi presa.

Existem muitos outros episódios que eu poderia trazer de maneira mais abrangente para elucidar sobre casos de privilégios brancos, como o caso do menino Miguel, menino de 5 anos que caiu do nono andar de um prédio de luxo em Recife. A mãe dele, Mirtes Renata de Souza, luta até hoje pela prisão da ex- patroa Sari Corte Real, que apesar de condenada, segue livre. Miguel estava sob os cuidados de Sari quando morreu. Infelizmente, a figura de fragilidade e doçura destinada às mulheres e que, por vezes, facilita alguns benefícios sociais não contempla em momento algum mulheres negras, que além de encarar todos os malefícios da questão de gênero, não são vistas como mulher pela maioria racista da sociedade, assim como já disse brilhantemente a abolicionista e ativista dos direitos da mulher negra Sojourner Truth no texto “E não sou uma mulher?”.

Fonte: Redação Nós
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