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Coragem de se autodeclarar pardo mostra mudança de comportamento importante - e isso é só o início

É fundamental falar sobre isso, pois é histórica a vergonha que muitas pessoas tinham de se conectar com qualquer coisa que viesse da África

22 dez 2023 - 17h20
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Os dados são no Censo 2022 e foram divulgados nesta sexta-feira (22)
Os dados são no Censo 2022 e foram divulgados nesta sexta-feira (22)
Foto: iStock/simonkr

No ano passado, mais de 92 milhões de pessoas se autodeclararam pardas, enquanto 88 milhões se declararam brancas. Em porcentagem, o números de pardos subiu de 43,1% para 45,3% e brancos, que eram 47,7%, agora são 43,5%. O aumento da população preta também chamou a atenção: antes eram apenas 7,6% e, agora, são 10,2% da população basileira. Teve aumento também na população indígena e diminuição na amarela. Os dados são no Censo 2022 e foram divulgados nesta sexta-feira (22) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Eu achei importante falar sobre isso, pois é histórica a vergonha que muitas pessoas tinham de se autodeclararem qualquer coisa que fosse minimamente ligada à África. Quantas vezes eu fui chamado de "moreno" ou "cor de jambo" e tive minha negritude negada por pessoas que estavam tentando me elogiar? Se eu, que moro em Salvador, a capital mais negra fora do continente africano, passei por isso, imagina pessoas de outras localidades?

Eu sei também que pardo é uma definição bem abrangente e, talvez, abstrata. Para alguns, pardos são pessoas que não são negras retintas; para outros, são pessoas negras de pele clara; e, para outros ainda, são pessoas com traços europeus e a pele bronzeada. Há também quem ache que com qualquer tipo de miscigenação a pessoa é parda e por aí vai.

Eu tenho a minha própria leitura e quero dividir com vocês. Ao meu ver, pessoas pretas são retintas, tal qual a Clara Moneke, de pele marrom tipo eu, e de pele clara tipo que tem traços negróides e/ou cabelo crespo como o L7nnon. Já os pardos são pessoas negras de pele clara que têm traços menos largos e cabelo mais mole, como a Bella Campos. Todos são negros, ok? Mas a divisão dentro da minha cabeça é essa.

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Tem gente que não gosta do termo pardo porque diz que é uma tentativa de apagar a identidade das pessoas, o que eu acho bem pertinente. Por outro lado, uma galera já defende e traz o ponto de que tem tanta mistura de raças na população brasileira que devemos ressignificar o pardo e trazê-lo como uma identidade brasileira, o que eu também acho que faz sentido.

Acredito que essa grande diferença que se deu nos números do Censo 2022 tem um fator determinante que se chama consciência racial. Após décadas de luta dos nossos mais velhos, como Abdias do Nascimento e Lélia Gonzalez, passando pela Sueli Carneiro e Ana Maria Gonçalves, chegando em Silvio de Almeida e Djamila Ribeiro, e com participação das páginas voltadas a falar sobre questões raciais, trabalho de base do movimento negro unificado e outras iniciativas importantes, as pessoas negras estão mais confiante na sua autodeclaração.

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A população negra, de maneira geral, segue sendo a mais oprimida, a mais empobrecida, a que tem menos acesso à itens materiais, a que mais morre de forma violenta e tantas outras estatísticas ruins. A única diferença é que, em 2010, tínhamos menos informação e muitos de nós ainda acreditavam no mito da democracia racial, que preto é algo pejorativo, que se autodeclarar branco iria trazer algum tipo de orgulho e benefício. Ou seja, temos muitos negros de todas as cores se autoafirmando como pretos, temos muitos de pele clara e pardos que antes se diziam branco assumindo sua negritude.

Isso é só o início! Penso que, aos poucos, a informação irá chegar a mais pessoas e que a população negra (pretos e pardos) tende a crescer ainda mais e exterminar de vez o sonho dos racistas eugenistas que fizeram de tudo para acabar com a raça que construiu através do sangue e suor esse país ingrato e desigual.

Fonte: Redação Nós
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