Janja e mais nove primeiras-damas que ressignificaram esse papel
Michelle Obama, Evita Perón, Ruth Cardoso e outras que fizeram história indo além do esperado para o posto
Antes mesmo de Lula assumir a presidência da República, em 1º de janeiro deste ano, o nome, ou melhor, o apelido Janja já corria pelos quatro cantos do país por sua postura extremamente ativa na campanha do marido. De lá para cá, embora não encabece formalmente um ministério, a socióloga Rosângela Lula da Silva, de 56 anos, exibe cada vez mais uma atuação marcante como primeira-dama do país. Com falas contudentes, ela tem uma presença que, se não agrada a todo mundo, certamente já garantiu um destaque na história do Brasil.
"Sou uma pessoa que é propositiva, que não fica sentada", disse Janja em entrevista exclusiva ao "Fantástico" em novembro de 2022. Um bom exemplo das atitudes do tipo "gente como a gente" ocorreu em julho, em Brasília (DF), durante evento no Ministério da Gestão e Inovação que instituiu o grupo de trabalho interministerial para combater o assédio no serviço público. Feminista declarada, Janja revelou já ter sofrido assédio moral e sexual. Não entrou em detalhes, mas a força de seu discurso numa nação em que a violência contra a mulher apresenta estatísticas alarmantes reverberou, principalmente, pelo ineditismo de expor tamanha intimidade.
Só o tempo poderá confirmar, mas Janja também pode ganhar sua posição em um hall mundial de primeiras-damas que fizeram história por fatores como carisma, pioneirismo e autenticidade e por irem além do esperado para o posto. Confira algumas delas:
Ruth Cardoso
Paulista de Araraquara, Ruth Vilaça Correia Leite Cardoso (1930-2008) foi a companheira de Fernando Henrique Cardoso e a primeira esposa de um presidente do Brasil a conquistar um diploma universitário. Antropóloga reconhecida nacional e internacionalmente no mundo acadêmico, era feminista engajada e promoveu diversas ações de assistência social voltadas as políticas de combate à pobreza no país. Uma curiosidade: Ruth rechaçava o título de primeira-dama que ocupou entre 1995 e 2003.
Eva Perón
Mais de 70 anos após sua morte, Evita segue com uma forte presença na sociedade argentina - seja com boas lembranças, seja com críticas ao seu estilo populista. Atriz de origem humilde, ao se tornar esposa do presidente Juan Domingo Perón passou a lutar em defesa dos direitos das mulheres e dos setores mais vulneráveis.
Michelle Obama
A autobiografia "Minha História" (Ed. Objetiva) já vendeu mais de 10 milhões de exemplares ao redor do mundo. Em suas páginas, a primeira afro-descendente a ocupar o posto de primeira-dama dos Estados Unidos fala de feminismo e racismo e narra momentos de sua trajetória como advogada, além de fornecer detalhes de seu relaciomento com Barack Obama, presidente de 2009 a 2017.
Lucy Webb Hayes
Tida como a primeira-dama americana mais carismática do século XIX, Lucy Webb Hayes (1831-1889) foi casada com o presidente americano Rutherford B. Hayes e responsável por popularizar a expressão. Até então, não havia um termo específico para referir-se às esposas de presidentes. Segundo historiadores, a origem remete às "prima-donnas" das companhias de ópera italianas.
Jacqueline Kennedy Onassis
Considerada uma das mulheres mais elegantes do século XX, Jackie O (1929-1993) foi primeira-dama dos Estados Unidos de 1961 a 1963, quando John F. Kennedy foi assassinado. Culta e inteligente, ocupou o papel de esposa perfeita e amorosa de um homem problemático, ambicioso e notoriamente infiel - um retrato um tanto quanto triste do que se esperava de uma mulher em sua época. Viúva, casou-se anos depois com o magnata grego Aristóteles Onassis num casamento que agregou interesses de ambos e, após a morte deste, se reinventou na carreira de editora.
Eleanor Roosevelt
Primeira-dama dos Estados Unidos de 1933 a 1945, após a morte do marido (Franklin Roosevelt, em 1945), continuou a ser uma defensora das trabalhadoras, embora tenha sido contra a política dos direitos iguais, pois acreditava que ela afetaria negativamente as mulheres. Dplomata e embaixadora de seu país na Organização das Nações Unidas (ONU) entre 1945 e 1952, teve papel fundamental na criação de um dos mais importantes documentos do mundo, a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948).
Betty Ford
Esposa de Gerald Ford, presidente dos EUA entre 1974 e 1977, Betty (1918-2011) foi bastante ativa na implementação de políticas sociais e fez história ao abordar publicamente sua experiência com o câncer de mama após fazer uma mastectomia em 1974. Feminista, falava abertamente sobre questões polêmicas da época - como drogas e aborto - e jogou luz sobre o tabu da dependência química ao compartilhar sua luta contra o alcoolismo.
Hillary Clinton
A dupla experiência como primeira-dama nos mandatos de governador e presidente de Bill Clinton acenderam na advogada nascida em 1947 a paixão pela política numa trajetória marcada pela defesa da igualdade de gênero. Enquanto muitos estadunidenses ainda sonham em vê-la na presidência, um posto ainda inédito para as mulheres, Hillary atua hoje como chanceler da Queen's University de Belfast, na Irlanda do Norte, e lançou este ano seu primeiro livro de ficção, "Estado de Terror" (Ed. Aqueiro), com Louise Penny.
Brigitte Macron
Aos 70 anos de idade, a esposa de Emmanuel Macron, presidente da França, ostenta tudo aquilo que o país costuma valorizar em suas mulheres: charme, inteligência, elegância e maturidade. Brigitte tem 25 anos a mais que o marido, de quem foi professora, e o casal compartilha uma parceria única. Apesar de o título de "primeira-dama francesa" não existir, foi formalizado o papel público de "cônjuge do chefe de Estado". Ela não recebe remuneração e não tem orçamento, mas tem dois assessores e uma secretária.
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