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Getúlio Abelha: "Se o pastor faz espetáculo para emocionar, vou fazer a mesma coisa"

Multiartista LGBTQIA+ tem feito sucesso ao levar para o forró uma estética pop e alternativa

20 abr 2023 - 05h00
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Getúlio Abelha aposta no forró para levar sua mensagem para público heteronormativo
Getúlio Abelha aposta no forró para levar sua mensagem para público heteronormativo
Foto: Divulgação / Sillas H

Getúlio Abelha é o que pode se chamar de "um acontecimento" e uma das figuras mais difíceis de se descrever na música atualmente: cantor de forró, performer, multiartista, provocador. Ele é um pouco de tudo isso, mas também nada disso. 

Para o Terra NÓS, falou sobre as origens, sua produção artística, inspirações e o preconceito. 

O cantor de 30 anos nascido em Teresina, no Piauí, migrou para Fortaleza, no Ceará, onde viveu 10 anos e há pouco mais de um ano está na capital de São Paulo. "Passei no vestibular para Teatro em Fortaleza e fui porque precisava sair de Teresina, que infelizmente não tem incentivo suficiente para cultura. Como Fortaleza é perto e com muito mais dotação para cultura, acabei indo para lá". 

A ida para o sudeste do país se deu por questões de carreira. "Aqui, ganha-se melhor, faço mais shows, tenho mais qualidade técnica, esses são os pontos positivos, ainda que seja uma cidade muito difícil e com uma qualidade de vida bem complicada", relata ele, que deixou a faculdade de Teatro depois de dois anos para se dedicar à produção musical. 

Descobrindo o forró 

"Fui para o forró quando comecei exercitar a música. No início, achei que tinha que ir para o eletrônico, para o gótico, mas percebi que não tinha que buscar outro estilo. Foi o forró que me alimentou a vida toda", conta ele, que entende o forró não como um ritmo ou estilo musical, mas como um movimento. 

"A gente mesmo fala que 'vai para o forró', ou seja, é um local de encontro", declara. "Foi aí que percebi que o forró não precisar estar distante do que eu quero propor esteticamente, porque isso já estava estabelecido".

A escolha de caminhar pelo ritmo, ou movimento, como prefere Getúlio, também foi política. "Um dos motivos de escolher forró foi dar um golpe na heteronormatividade. As pessoas começam dançando, mergulhando e só depois percebem o que está sendo falado. Meu truque é criar um espetáculo para amaciar. O forró e o humor fazem com que as pessoas entendam". 

O resultado são letras como: "A cegonha que me trouxe passou por um arco-íris que invadiu minha alma e me deixou assim, mas um urubu fedido trouxe um pastor bandido que quer afundar comigo e me deixar em perigo. Eu não vou sofrer castigo, não exploda meu juízo, minha vibração vai te repulsar", trecho da canção "Tamanco de Fogo" do álbum "Marmota". 

"Todas as formas de militância de discursos são importantes"

Para Getúlio, o importante é expressar, independente do como. "No meu álbum inteiro eu passo por vários cenários, metáforas, uma panela cheia de mosca, um sertão. Quando eu comecei a compor não sonhava em ser um cantor incrível, mas um compositor incrível. O meu processo criativo tem a narrativa do teatro, como se fosse dramaturgia", conta.

Suas principais referências para chegar a essa produção são pessoas com as quais trabalha e trabalhou ao longo da vida."Quando entrei na faculdade, me falaram um monte de nome de europeus que de nada me serviram, minha referência de teatro mesmo é a Andrea Pires", conta ele se referindo à bailarina e coreógrafa da Inquieta Cia, de Fortaleza. 

Para além do nome de Andrea, Getúlio se mostrou timido em apontar outros artistas. "É difícil citar nomes específicos porque é um universo muito vasto, com muitos estilos. Sempre consumi muitas artistas femininas que não têm a ver com a minha voz e com o que produzo, mas refletindo muito cheguei no Zé Ramalho e no Depeche Mode", afirma, citando o cantor paraibano e a banda de música eletrônica britânica. 

E para completar o hall de inspiração: "Uma das pessoas que acho mais apaixonadas e incriveis é a Joelma". 

Perguntado como era para ele ser fã de uma artista que já fez comentários LGBTfóbicos, foi direto: "Não tenho nada a ver com isso. Não que eu esteja diminuindo o caso dela, mas para mim não faz o menor sentido jogar fora uma bagagem cultural, como se não tivesse existido, porque a Joelma, há 10 anos, fez uma declaração homofóbica". 

A declaração da cantora que admira, inclusive o estimulou na sua criação. "Fez com que eu fosse contra esse discurso na minha música, por exemplo, usando os recursos que os evangélicos usam. Se o pastor está fazendo espetáculo para emocionar, soltando fogos, vou fazer a mesma coisa", revela. 

E, para o futuro, o desejo de Getúlio é elaborar novas músicas. "Mas é algo que eu vou trabalhar em paz e com calma, sem pretenções específicas, mas com maior frequência. Talvez saidinhas rápidas do forró para visitar novos estilos", conta propenso também a voltar para atuação e "mergulhar no audiovisual".

Fonte: Redação Nós
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