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"Era um mantra, repetia todos os dias: 'Filho, mamãe não enxerga'", diz Nathalia Santos

Jornalista e influenciadora PcD, Nathalia mostra a maternidade real com os filhos Davi e Amora: “Não é fácil, mas também não é impossível”

10 mai 2024 - 05h00
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Nathalia e o filho, Davi, com um livro em braille
Nathalia e o filho, Davi, com um livro em braille
Foto: Reprodução/Instagram/nathaliasantos

Desde criança, quando perguntavam para Nathalia Santos, 31, o que ela queria ser quando crescesse, a resposta era sempre a mesma: “mãe”. Esse sonho se realizou. No convívio e cuidado de Davi, de três anos, e Amora, de um, a jornalista e influenciadora mostra ao público uma maternidade honesta, com dificuldades e também beleza.  

Em sua página no Instagram, ela compartilha as vivências como mãe, mulher negra e PcD (pessoa com deficiência), e até criou um projeto chamado “maternar às cegas”. Em entrevista ao Terra NÓS, ela fala sobre a aproximação e troca com outras mães, com ou sem deficiências. 

“O projeto surgiu da minha vontade de compartilhar minha experiência como mãe cega, destacando que as dificuldades maternas vão além da cegueira. Enfrento desafios específicos, como identificar fraldas e produtos para bebês, mas vamos nos adaptando”, diz Nathalia, comunicadora que já foi comentarista do “Esquenta”, programa apresentado por Regina Casé.

Além disso, ela também aborda e vive questões universais da maternidade, como cuidar da saúde dos filhos, “ensinar valores e princípios, escolher brinquedos e preparar a casa para a chegada de um bebê”. 

“Meu primeiro vídeo, sobre a dificuldade de amamentar, recebeu muitas mensagens, levando-me a criar o ‘maternar às cegas’ para compartilhar essas experiências e adaptações do dia a dia. E isso me aproximou de outras mães, tanto cegas quanto não cegas”, destaca. 

Para ela, há uma complexidade em “ensinar” as crianças sobre as diversidades do mundo. No entanto, é preciso ser intencional e tudo deve ser falado.

“Não tem uma fórmula pronta para criar seres humanos conscientes da diversidade. Mas, aqui em casa, o que fazemos é intencional. O Davi sabe, desde a barriga, que a mãe dele não enxerga.” 

“Era como um mantra, repetia todos os dias: ‘filho, mamãe não enxerga’. Tudo aqui em casa é descrito, o Lucas [de Carvalho, o marido] descreve tudo que vê de forma natural. O Davi entendeu, então quando quer me mostrar algo, pega minha mão e a coloca no que deseja. Mesmo que não haja relevos, ele sabe que tenho uma deficiência e que as coisas são diferentes comigo, precisam ser faladas”, descreve a jornalista. 

A naturalidade com que a família lida com as adaptações é fruto de um processo. Desde pequeno, Davi tinha a noção de que as brincadeiras com Nathalia seriam diferentes das atividades com o pai, por exemplo. 

“Quando ele [Davi] começou a andar, eu tinha medo dele cair comigo, bater nas esquinas. Ele entendia que brincadeiras com a mamãe eram diferentes das com o papai. Corremos de mãos dadas até hoje. Ele fala para a Amora: ‘mamãe não enxerga’. Tem consciência disso, mesmo que não totalmente.”

“Somos diferentes e isso é falado”, acrescenta ela. “Na nossa casa é assim: convívio, intencionalidade, diálogo. Agora estou na cadeira de rodas, então nos adaptamos. Ele agora senta na cadeira e anda comigo. Não é fácil, mas também não é impossível.”

Ter filhos sempre foi um sonho, diz Nathalia
Ter filhos sempre foi um sonho, diz Nathalia
Foto: Reprodução/Instagram/nathaliasantos

Nathalia está em cadeira de rodas por conta da recuperação após ser baleada no quadril em uma tentativa de assalto. O caso ocorreu durante o carnaval deste ano, quando ela e o marido saíram da Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, em um táxi. Ela precisou passar por cirurgia e segue em recuperação, quase três meses depois. 

Agora, ela novamente será submetida a uma cirurgia. “A minha rotina de cuidados e reabilitação já passou por muitas fases. Atualmente, tenho feito fisioterapia duas vezes por semana e as outras duas vezes faço um pouco de exercício. Nada muito forçado, porque eu estou no momento pré-operatório”, comenta. 

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A influenciadora cita a fé como um dos principais alicerces para lidar com essas situações adversas e que segue inabalável. Além disso, tem como base de apoio bons profissionais e a família. “Mesmo enfrentando muita dor, tento compartilhar minha jornada por meio de vídeos. O amor e carinho que recebo são os melhores alicerces possíveis.”

“Apesar de já ser uma pessoa com deficiência, enfrentar mais desafios será difícil, especialmente as dores. No entanto, o apoio que recebo é reconfortante e me dá forças para seguir em frente.”

Os rótulos

Sendo mulher negra, cega e favelada, Nathalia avalia que esses muitos rótulos exigem uma inteligência emocional gigantesca. Ela conta que nunca teve tempo para se preocupar com questões emocionais no passado, mas que, hoje, terapia e filhos são essenciais nesse equilíbrio. 

“Meus filhos me fazem rir, chorar e me desafiam de todas as formas. Cuidar da saúde mental inclui terapia, autocuidado físico, como skincare, consultas médicas e atenção à vaidade”, pontua. 

“Gerenciar tudo isso, junto com meu esposo e família, ajuda a manter esses rótulos em equilíbrio, embora às vezes um pareça mais pesado que o outro. É essa dinâmica que mantém a balança estável”, finaliza.

Fonte: Redação Nós
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