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Clube de Leitura Ossos de Pássaro é o primeiro finalista do Prêmio Jabuti dedicado a temáticas das pessoas com deficiência

Thais Pessanha, criadora do projeto que está na disputa pela categoria 'Fomento à Leitura', fala ao blog Vencer Limites e à coluna Vencer Limites no Jornal Eldorado (episódio 212) sobre mercado editorial, autores, obras e as expectativas com a premiação. Iniciativa estreou em 2022 e já tem quatro temporadas, recebeu mais de 70 convidados e abordou mais de 65 livros que tratam de pautas da população com deficiência. "Temos autores publicando em todos os gêneros: ficção, não-ficção, poesia, graphi

21 out 2025 - 07h30
(atualizado às 11h21)
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O Clube de Leitura Ossos de Pássaro é o primeiro finalista dedicado a temáticas das pessoas com deficiência da história do Prêmio Jabuti, mais tradicional premiação literária do Brasil, concedida pela Câmara Brasileira do Livro. Os vencedores da 67ª edição serão apresentados em cerimônia no dia 27/10. A iniciativa concorre na categoria 'Fomento à Leitura'.

Criado em 2022 pela escritora Thais Pessanha, professora de letramento anticapacitista na pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), o clube já completou quatro temporadas, abordou mais de 65 livros, recebeu mais de 70 convidados, entre pessoas com e sem deficiência, nacionais e internacionais, de escritores a atletas. As transmissões são feitas por um canal no YouTube com aproximadamente mil inscritos.

"Foi uma surpresa ser finalista do prêmio de maior importância da literatura brasileira, mas ao mesmo tempo, não foi, porque a gente se inscreve e eu havia feito minha inscrição com nenhuma expectativa de passar pelas primeiras etapas, que dirá chegar até a final", diz Thais Pessanha, que nasceu em Macaé (RJ), é curadora e mediadora literária, palestrante e ativista. Mulher com deficiência, tem Osteogênese Imperfeita, condição genética rara conhecida popularmente por causar os 'ossos de vidro'. É embaixadora no Brasil do 'Cordão de Girassol', que identifica pessoas com deficiências raras ou deficiências ocultas. Em 2023, ganhou o Prêmio Literário Clarice Lispector, da editora ZL Books, de melhor autora estreante com o livro 'Sobre Rodas - Um Espírito em Movimento'.

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blog Vencer Limites (Estadão) - Quais livros são essenciais para começar e entender as temáticas das pessoas com deficiência

Thais Pessanha (Clube de Leitura Ossos de Pássaro) - Essa é a pergunta mais difícil que alguém pode me fazer. É como se você perguntasse para um pai ou para uma mãe qual filho é o preferido. O universo literário é muito vasto. O legal é que ele tem para todos os gostos e estilos literários. Podemos começar olhando para os clássicos de uma outra forma. Muita gente não sabe, por exemplo, que 'A Bela e a Fera' (escrito por Gabrielle-Suzanne Barbot, Dama de Villeneuve, e publicado em 1740) tem uma história original inspirada em uma pessoa com deficiência, Pedro Gonzáles, que nasceu nas Ilhas Canárias em 1537 e tinha uma síndrome rara, a hipertricose, conhecida popularmente como a Síndrome do Lobisomem, porque o indivíduo tem pelos por todo o corpo. Em 'O Corcunda de Notre-Dame' (romance histórico do escritor francês Victor Hugo publicado em 1831), o personagem principal, Quasímodo, é uma pessoa com deficiências múltiplas e, por esse motivo, achincalhado em praça pública.

Também podemos olhar para os livros mais contemporâneos, nacionais e internacionais. 'Como Eu Era Antes de Você' (de Jojo Moyes, publicado em 2013) foi best-seller e um sucesso de bilheteria nos cinemas (em 2016, com por Emilia Clarke e Sam Claflin no papéis principais Louisa Clark e Will Traynor, jovem que fica tetraplégico após um acidente).

A gente pode olhar para autoras nacionais independentes, que também estão fazendo muito sucesso, como Vanessa Reis, Rebecca Keen e o Felipe Macedo, com livros sobre literatura inclusiva que são maravilhosos e super recomendo.

A primeira temporada do clube, em 2022, chamada de 'Do grotesco ao heroísmo', analisou a representação de pessoas com deficiência na literatura. O objetivo era debater a sociedade através dos livros, que retratam o pensamento e a vida da época. Livros clássicos e contemporâneos foram comparados para analisar a persistência do preconceito. Um dos episódios abordou 'Frankenstein' (que a britânica Mary Shelley escreveu quando tinha 19 anos, entre 1816 e 1817, primeiramente publicado em 1818), que, apesar de não ser uma pessoa com deficiência, sofria preconceito por ter um corpo diferente. A conclusão foi que os atos do 'monstro' foram motivados pela falta de amor e pertencimento.

blog Vencer Limites (Estadão) - Qual é a situação hoje do mercado literário com essa temática? Tem uma abertura? Os livros são bem aceitos pelas editoras vira nicho específico para um público específico? O mercado editorial é capacitista e se recusa a abordar esse assunto de maneira abrangente e aprofundada ou essa barreira já está sendo quebrada?

Thais Pessanha (Clube de Leitura Ossos de Pássaro) - O mercado literário está começando a se abrir para pautas da diversidade como um todo, mas especificamente para o nicho da literatura relacionada à pessoa com deficiência, esse movimento ainda é muito incipiente, sutil. Muitos escritores e escritoras com livros publicados e fazendo o seu trabalho, mas a maioria com publicação independente e uma outra parcela menor por editoras independentes, pequenas. O grande mercado literário, as grandes editoras, ainda não têm muita abertura para escritores e escritoras com deficiência. Temos algumas participações, como o Marcelo Rubens Paiva, mas ainda é bem pontual, principalmente se comparado com pautas da população negra ou LGBTQIAPN+.

Temos autores publicando em todos os gêneros: ficção, não-ficção, poesia, graphic novel e até literatura de cordel. O que falta é espaço, visibilidade para mostrar os seus trabalhos, os talentos, para que muitas pessoas possam ler. A literatura sobre pessoas com deficiência não é restrita à leitura por pessoas com deficiência, ao contrário, queremos justamente estourar essa bolha, levar esse tipo de literatura, esse pertencimento, essa vivência, esses corpos, para outras pessoas, e construir uma sociedade mais inclusiva, respeitosa, empática em que todas as pessoas tenham as mesmas oportunidades em todas as áreas do saber, inclusive na publicação de livros.

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Estadão
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