Viajei 1.400 km com o Mercedes EQB elétrico e gastei só R$ 76
Como é viajar 1.400 km num carro elétrico de meio milhão de reais, em estradas com pouca infra-estrutura de carregamento
Dá para viajar de carro elétrico pelo Brasil? Dá. Mas é preciso planejamento e paciência. Afinal, quando a gente diz “carro elétrico” é elétrico mesmo. Não confunda com híbrido plug-in, cujo alcance elétrico só dá para a cidade. Viajei 1.400 km com o Mercedes EQB, a versão elétrica do Mercedes GLB.
A primeira coisa a se fazer para uma boa viagem de carro elétrico pelo Brasil é conhecer o próprio carro. Afinal, nosso país ainda não tem boa infra-estrutura de carregamento nas estradas. O Mercedes EQB é 27 cv mais potente do que o Mercedes GLB: 190 cv contra 163 cv. E também muito mais caro: R$ 502.900 (EQB) contra R$ 386.900 (GLB).
Carro de rico, portanto, mas rico também tem seus perrengues. O Mercedes EQB 250 não tem estepe; apenas o kit de reparo. Mas, se um pneu se danificar, não é tão difícil encontrar um substituto, pois suas medidas são comuns: 235/50 R19.
Num carro elétrico é bom mudar a “chave” de sua cabeça para kW. Portanto, os 190 cv são 140 kW. Uma boa potência, mas nada exagerado, e isso é bom, pois no carro elétrico é mais importante ter boa capacidade da bateria e nem tanto a potência (pelo menos enquanto a infra-estrutura for precária).
A bateria do Mercedes EQB tem 66,5 kWh de capacidade utilizáveis. Não é muito. Uma carga de bateria tem autonomia de apenas 291 km (PBEV). Mas, já sabendo que de São Paulo a Londrina, PR, eu teria apenas um ponto de carregamento rápido, no Posto Bizungão III da Rodovia Castello Branco, que fica a 240 km de São Paulo, eu andei sempre no modo Eco e consegui um alcance de 386 km.
Não é fácil controlar isso, pois o Mercedes EQB 250 tem 385 Nm de torque imediato e acelera de 0 a 100 km/h em 9,1 segundos. É o mesmo tempo do Mercedes GLB a combustão, cujo alcance oficial é de 650 km. Oficial, porque o GLB não faz isso na prática, assim como o Mercedes EQB não faz os 474 km medidos pelo WLTP.
Bem, o carro é uma delícia e traz a multimídia MBUX de 10,2” grudada no painel totalmente digital. Felizmente dá para conectar Waze e Google Maps pelo Android Auto ou pelo Apple CarPlay, pois o navegador do carro é muito ruim, incapaz de achar locais básicos, como o posto de carregamento do Binzungão (que é público, da parceria Eney Way e Volvo), mesmo estando quase lá.
Fiz dois carregamentos na ida: um na Ecoparada Madero (10% de bateria em 30 min, parada para almoço) e outro no Bizungão III, que tem um ponto de recarga rápido de 100 kW. Levou uma hora e meia para carregar porque só havia 45 kW disponíveis. Cheguei com 34% e saí com 100%. Com melhor planejamento, eu teria almoço do Bizungão e não perderia tanto tempo parado.
A culpa da demora não foi do Mercedes EQB, pois ele tem uma ótima potência de carregamento: 112 kW. Os dois carregamentos foram grátis. Na volta carreguei novamente no Binzungão III (durou uma hora) e isso daria para chegar em São Paulo. Grátis novamente. Mas, como eu teria que ir até o Guarujá, SP, e depois voltar para a capital, decidi fazer mais uma carga.
Meia hora no Frango Assado que fica no Km 73 da Castello Branco e carreguei 36 kW no eletroposto de 150 kW da Tupinambá. Custou R$ 76. E isso foi tudo que eu gastei de “combustível” nesta viagem, pois em Londrina eu tinha duas opções: carregamento lento na casa de um amigo (seriam cerca de 5 horas num carregador de 11 kW) ou rápido na Audi Center Londrina.
O pessoal da Audi gentilmente cedeu o carregador rápido de 150 kW e em uma hora eu carreguei o Mercedes EQB. Sem custo, pois a concessionária instalou painéis solares e reduziu seu custo mensal de eletricidade de R$ 16.000 para cerca de R$ 700. Com a gasolina custando em média R$ 5,80 no percurso, eu gastaria no mínimo R$ 812 se tivesse viajado com o Mercedes GLB 1.3 turbo.
Como já dissemos, o SUV alemão é ótimo de dirigir. Não se trata de um elétrico das novas plataformas da Mercedes, mas sim do próprio GLB transformado em EQB. Ele é produzido em Kecskemét, na Hungria. O motor elétrico dianteiro substituiu o motor 1.3 turbo e a bateria de 66,5 kWh substituiu o tanque de 52 litros.
O carro é bastante pesado, você sente na condução, mas é bem confortável. Os pneus de perfil médio são muito adequados e permitem um rodar macio. É um carro perfeito para a família, pois há dois bancos escamoteáveis no porta-malas que aumentam a capacidade para 7 pessoas.
Eu precisei usar em Londrina e os bancos extras salvaram o dia. Cabem duas pessoas de até 1,65 m. Paulinha Secco, minha sobrinha, foi “sorteada” para ir no banco da terceira fileira e não reclamou. Além disso, o banco da segunda fileira tem várias etapas de inclinação. Uma das vantagens do Mercedes-Benz EQB é a longa distância entre-eixos (2,829 m).
O EQB também vem com vários itens eletrônicos de condução semiautônoma, mas eles não são invasivos na condução como em outros carros. Veja abaixo a lista dos equipamentos.
O carro é bastante confiável na informação da autonomia e do consumo. Um marcador que ocupa o lugar do conta-giros mostra a porcentagem de potência utilizada e também a média de km percorridos por kWh (como se fosse km/litro). Rodei a maior parte do tempo na média de 5 km/kWh, o que deu um alcance médio de 332 km. E olha que deixei o pé bem leve.
Minha conclusão desta experiência é que já é possível viajar de carro elétrico, mas ainda é preciso planejar bastante e ter paciência. O Mercedes EQB é um ótimo carro, mas seu alcance é um pouco limitado. Seria melhor se tivesse uma bateria maior. Porém, a Mercedes acertou em trazer a versão 250 de 140 kW, pois a 350, de 215 kW (292 cv), usa a mesma bateria e teria um alcance menor.
Notas
- Desempenho - 9 (ótimo)
- Consumo - 6 (bom)
- Alcance - 6 (bom)
- Dirigibilidade - 10 (ótimo)
- Conforto - 10 (ótimo)
- Segurança - 10 (ótimo)
- Usabilidade - 10 (ótimo)
- Conectividade - 8 (muito bom)
- Design - 7 (muito bom)
- Inovação - 8 (muito bom)
- Média: 8.4
Principais números
Preço: R$ 502.900
Potência: 140 kW (190 cv)
Torque: 385 Nm
Comp/Larg/Alt: 4,684 / 1,834 / 1,688 m
Entre-eixos: 2,829 m
Peso: 2.110 kg
Pneus: 235/50 R19
Porta-malas: 495 litros
0-100 km/h: 8s6
Velocidade máxima: 160 km/h
Bateria: 69,7 kWh
Bateria utilizável: 66,5 kWh
Consumo oficial: 17,3 kWh/100 km
Alcance oficial: 291 km (PBEV) a 474 km (WLTP)
Autonomia real: 5,9 km/kWh (avaliação)
Alcance real: 386 km (avaliação)
Carregamento AC : 11 kW / 7h15min
Carregamento DC: 112 kW / 29min
Emissão de CO2: 0 g/km
Principais equipamentos de série
- Assistente ativo de distância Distronic
- Assistente ativo de direção
- Assistente ativo de frenagem
- Assistente ativo de manutenção de faixa
- Assistente ativo de ponto cego
- Assistente de tráfego cruzado
- Assistente de aviso de desembarque
- Ar-condicionado Thermotronic de duas zonas
- Assentos revestidos em Artico/dinâmica, sendo os dianteiros esportivos, elétricos (inclui ajuste lombar) e memória
- Assistente de distância ativa Distronic
- Assistente ativo de manutenção de faixa
- Assistente ativo direção
- Apoio para manobras evasivas
- Sensores traseiros para manutenção de faixa
- Assistente ativo de estacionamento com Parktronic
- Faróis Full Led
- Keyless-Go (Fechamento da tampa do porta-malas, abertura de portas, função partida sem chaves)
- MBUX com integração para smartphones (Apple CarPlay/Android Auto) e Wireless Charging
- Retrovisores externos rebatível eletricamente e função antiofuscante
- Teto solar panorâmico