Quintanilha: GWM tem ouro na mão com Ora 03 GT e pode ousar mais

OPINIÃO: O mais bonito carro elétrico chinês tem design, carisma e alcance para ações de fidelização no Brasil; Fórmula E mostra o caminho

Sergio Quintanilha

18 mar 2024 - 10h45

(atualizado em 19/3/2024 às 10h02)

Exibir comentários

Ora 03 GT no GWM Experience Drive Days de Interlagos
Foto: GWM / Guia do Carro

Confesso que fiquei impressionado com a presença visual do Ora 03 GT, da GWM, no circuito de Interlagos, em recente ação promocional. Depois, por coincidência, vi um Ora 03 GT vermelho na estrada. Então minha mente voou.

Mas antes de falar sobre a ideia que tive para o Ora 03, quero falar um pouco do contexto. Antecipo que tem a ver com automobilismo. E o recente e-Prix de São Paulo de Fórmula E, que conheci por dentro a convite da Nissan, reforçou minha convicção.

Todos sabemos que a Fórmula E já existe há uma década como a categoria de monopostos elétricos da FIA. E que a F1, que tem carros híbridos desde 2014, passará a ter mais potência no motor elétrico do que no V6 1.6 Turbo a partir de 2026.

Acrescento também que a Mitsubishi, que há décadas realiza um rali de regularidade no Brasil, é uma marca que conseguiu grande fidelização por parte de seus clientes.

No mercado de carros elétricos, a GWM (Great Wall Motor) tem apenas a linha Ora no mundo e o modelo Ora 03 no Brasil. Não existe um Haval elétrico. Mas a BYD, por outro lado, tem uma linha enorme de elétricos, com destaque no Brasil para os modelos Dolphin, Seal, Yuan Plus e Dolphin Mini.

Com exceção do Seal, entretanto, os carros da BYD não combinam com uma pista de corridas. Já o Ora 03 GT, sim. Ele é um hatch baixo e largo, com um design arrebatador que mistura elementos de Porsche e de Mini, mas não os copia; trata-se de um visual exclusivo.

Com motor de 126 kW de potência (171 cv) e 250 Nm de torque, e bateria de 63 kWh que permite um alcance de pelo menos 319 km, o Ora 03 GT poderia inspirar a GWM a criar um Torneio de Turismo elétrico. Ou um raid, passando por cidades bonitas escolhidas a dedo, em estradas visuais.

Mas o Ora 03 GT é bom de pista? Bem, o carro tem algumas características que precisam ser consideradas. Como todo carro elétrico, o peso da bateria prejudica um pouco o comportamento direcional. Além disso, o entre-eixos grande reduz sua performance em curvas fechadas.

Como não dirigi o carro na pista, perguntei para um colega que o experimentou em Interlagos, o jornalista Juliano Barata, do site FlatOut. "Achei o Ora 03 até bem equilibrado na pista, mas os freios apresentaram um pouco de fading na Junção", me disse Barata.

Fading é o superaquecimento dos freios, que reduz sua performance. Em Interlagos, a Curva da Junção fica quase no final da volta de 4,3 km, após uma sequência de muitas frenagens no miolo do circuito.

"Mas o maior problema é que a bateria aquece bastante, como em todo carro elétrico, e na volta seguinte o desempenho piora", completa Barata. Sim, basta ver que até na F1 os pilotos não conseguem dar duas voltas seguidas no máximo.

Esses detalhes, entretanto, podem ser minimizados de acordo com a condução do motorista. Da mesma maneira que a Fórmula E ensina os pilotos de competição a pouparem bateria durante grande parte da corrida, uma corrida de Ora 03 GT poderia ser bastante didática.

Sem contar que a GWM ainda poderia convidar os clientes de todas as outras marcas de carros elétricos a levarem seus automóveis para a pista, para um passeio de carro elétrico nos circuitos do calendário. Também seria uma ótima oportunidade para empresas de energia elétrica exporem seus produtos para carregamento das baterias.

O mundo do carro elétrico é muito interessante e pode ser tão aspiracional quanto o dos V8 que superaquecem o planeta. Mas há uma verdadeira legião de pessoas, inclusive jornalistas, que o desmerecem por uma questão ideológica. Por isso, ações como a Fórmula E são importantes.

Claro que a ideia que serve para o Ora 03 GT, da GWM, pode servir também para outras marcas que têm carros elétricos. Imagine uma Copa Peugeot e-208 GT ou uma Copa Fiat 500e: seriam fantásticas. Mas duvido que a Stellantis coloque energia e dinheiro a favor dos carros elétricos no Brasil neste momento.

Portanto, a GWM tem ouro nas mãos. No GWM Experience Drive Days mais de 1.600 pessoas estiveram em Interlagos. Agora, basta ousar ainda mais e criar uma categoria CBA para aumentar sua estima perante o consumidor brasileiro; de hoje e do futuro próximo.

GWM Ora 03 GT: um chinês elétrico e cheio de charme :