Jovens de hoje enxergam carros como nós víamos no passado?
Conversamos com personagens Geração Z, os "Zoomers" - nascidos após 1997 -, para saber: ainda há aquela ansiedade para fazer 18 e dirigir?
Conversamos com Luiz Fernando Vieira, Motion Designer; Giovanna Cunha, professora e bióloga; e com a psicóloga Laís Santos para explicar essa tendência cada vez maior
Estamos no meio da Semana da Mobilidade 2024 - que vai até domingo, dia 22 (o Dia Mundial Sem Carro). E nos perguntamos: por que os jovens de hoje em dia, conhecidos como "Zoomers", ou Geração Z, não são tão fanáticos por carros como a maioria das pessoas da Geração Y, os famosos "Millenials"?
Você viu aqui no Terra uma lista com transportes alternativos aos carros, análise sobre a transformação pela qual as marcas já começaram a passar - inclusive no Brasil - e, mais recentemente, uma lista com meios de transporte diferentes já criados pelas marcas mais tradicionais.
Para responder a essa questão, conversamos com dois personagens da Geração Z - Luiz Fernando Vieira (23), Motion Designer, e Giovanna Cunha (22), professora e bióloga, ambos de São Paulo - e consultamos uma opinião profissional psicológica.
São algumas perguntas, que você verá abaixo, seguidas da opinião da psicóloga Laís Santos, cujo CRP (Conselho Regional de Psicologia) é 06/162782.
- 1. Você foi obcecado para fazer 18 anos e começar a dirigir? Por que?
Luiz: Nunca fui obcecado. Nunca me interessei 100% em carros. Sempre achei legal, mas nunca tive o interesse próprio em dirigir. Ultimamente, com 23, sinto um pouco mais interesse, mas também vejo que a ascensão dos aplivativos de transporte me ajudaram muito.
Giovanna: Fui mais obcecada em fazer 18 e dirigir do que de fato realizar isso quando a data aconteceu. Tirei minha carta com 19 anos, atrasada por causa da pandemia, e hoje tenho pavor de dirigir. Mas me vi obrigada a guiar por não gostar de transporte público. E até gosto de dirigir.
Laís (psicóloga): Antigamente dirigir era muito ligado à liberdade, que era associado ao lance de fazer 18 e poder sair sozinho. Fazia parte dessa fantasia de independência. Mas isso diminuiu com o crescimento dos apps de carona, porque isso é muito mais barato. Hoje em dia esse "prazer" é caro, afinal a CNH ficou cara, o carro é um bem custoso e sai muito mais em conta chamar um Uber, mesmo para menores de idade. E até para maiores: o certo, hoje, é sair de Uber se você for beber. O carro, portanto, virou só um sinônimo de status.
- 2. Por que você acha que sua geração não é tão fanática por carros como a anterior?
Luiz: Eu sei que ainda existem muitas pessoas fascinadas, tenho muitos amigos que são, mas também está muito mais caro hoje em dia ter um carro né? Não existe mais carro popular, a gasolina, o seguro, os impostos são todos caros. Mas eu acho que a paixão ainda existe.
Giovanna: Acho que é uma questão financeira, também... O carro ficou muito caro nessa geração. E acho que tem o lance da era digital: antes os nossos pais se uniam para mexer com carro e se encontrar; hoje em dia, isso deixou de ser "hype", afinal dá para fazer a maioria das coisas pela internet.
Laís (psicóloga): É uma questão financeira, principalmente. Mas hoje o mundo mudou, principalmente o Brasil. Antes, o que as pessoas podiam exibir? Algumas coisas, mas principalmente carros. Hoje, existem várias outras formas de ostentação, ainda mais nas redes sociais, como tênis, celular, roupas... E essa transformação pela qual passamos é constante.
- 3. Você acha que a facilidade oferecida pela tecnologia ajuda?
Luiz: Completamente. Influencia muito. Tenho uma facilidade enorme de me locomover para os lugares pelos apps e até mesmo com os transportes públicos, que também têm seus aplicativos.
Giovanna: Com certeza, principalmente para as classes mais altas ou mesmo para quem pode ter um celular. Não tem mais essa de ficar horas no ponto, fila para carregar bilhete, etc. Atualmente, dá para saber a hora que o ônibus passa e até recarregar o bilhete pelo app. Tudo ficou fácil e prático.
Laís (psicóloga): Sim. Hoje você tem na palma sua mão uma infinidade de opções de locomoção, não só de caronas. Dá para saber onde tem ponto de ônibus, quiosque de bicicletas, patinetes e uma série de outras coisas de modo rápido e quase instantâneo.
- 4. Como você acha que será essa ligação entre jovens de 18 anos e os carros no futuro?
Luiz: Acho que vai continuar nessa pegada. Sempre vai existir o nicho dos apaixonados pelos carros, mas acho que cada vez mais a tecnologia vai interferir no modo como é possível se locomover.
Giovanna: Eu acho que a tendência é diminuir o interesse. Essa visão de carro como status está deixando de existir, afinal eles estão virando apenas meio de transportes, como acontece em outros países.
Laís (psicóloga): Vai continuar diminuindo. Além da questão financeira, aqui no Brasil já existe uma certa movimentação de conscientização pela melhora do planeta. Surgem cada vez mais carros elétricos, cada vez mais apps de carona ou mesmo soluções inteligentes de mobilidade... Acho que os jovens estão progressivamente mais conectados e ligados a isso.
- 5. Vocês acreditam que o carro será 100% sustentável e autônomo em quanto tempo?
Luiz: Acho que daqui uns 20 anos. Esse assunto de sustentabilidade é cada vez mais presente e estamos vendo o lance de conscientização das pessoas e empresas. É um tema urgente, mas que não deve engrenar tão rápido justamente pelo preço que essas novas tecnologias ainda exigem.
Giovanna: Acho que uns 10 anos aqui no Brasil. Mas não vai ser popular e deve ficar só com as classes mais altas.
Laís (psicóloga): Isso é muito difícil de prever, mas acredito que vai levar bastante tempo, porque isso não envolve só a tecnologia - que já deve até existir -, mas também política, dinheiro e comportamento.