Honda Accord Hybrid: 1.200 km de silêncio a bordo e economia de combustível
Do Guarujá a Londrina, ida e volta com revezamento no volante, trechos noturnos e um sedã que confirma por que é um dos melhores híbridos
A viagem começou no Guarujá, naquele ritual de sempre: abrir o bagageiro, posicionar malas, empilhar necessaires, separar lembranças, ajeitar encomendas e observar como tudo cabia com folga. O Honda Accord Hybrid tem 574 litros de porta-malas. Parece exagero até você precisar dele – e foi exatamente o nosso caso.
Eu e Cris Prado saímos cedo. O destino: Londrina. A missão: 1.200 km de ida e volta. Na ida, só nós dois. Na volta, quatro ocupantes – dois acima de 80 anos, meus pais, Flavio e Dirce. Uma viagem completa, real, cheia de nuances que só aparecem quando o carro cruza estados e atravessa o dia até virar noite.
Não houve surpresa: o Accord Hybrid apenas confirmou (de novo, mas agora em viagem longa) o que eu já sabia desde que o modelo japonês foi lançado no Brasil, em outubro de 2023.
Diferentemente de outros testes, aqui não existia suspense. O Honda Accord Hybrid já tem reputação de beber pouco. Eu conheço a engenharia da Honda, conheço o powertrain e conheço os resultados em outros cenários. O que a viagem fez foi confirmar tudo com precisão.
- 18,6 km/l na ida
- 17,8 km/l na volta (mais carga, mais calor, mais trânsito em pista simples)
- 20 km/l no melhor trecho, na Rodovia Castello Branco
O que impressiona não é o número isolado, mas a consistência. Não importa quem estava ao volante – eu ou a Cris. O Accord Hybrid fazia seu papel com serenidade. E é curioso reabastecer (só uma vez nos 1.200 km), pois o tanque é muito pequeno, tem apenas 48 litros.
O motor que realmente traciona: 184 cv de eletricidade
O segredo está no conjunto híbrido da Honda, que tem uma pequena bateria de 1 kWh de capacidade e não exige carregamento na tomada. O motor elétrico de tração é a estrela do carro: 184 cv de potência (ou 135 kW) e 315 Nm de torque.
O motor 2.0 a combustão, com 146 cv e 174 Nm, trabalha na maior parte do tempo como gerador e como apoio ocasional. É quase um maestro de bastidores: deixa o palco para o elétrico, mas garante que tudo funcione com harmonia. O resultado são 207 cv de potência combinada e ótimos 334 Nm de torque.
Esse arranjo dá ao Accord um comportamento de sedã grande com alma de carro elétrico: acelera suave, responde rápido e mantém o giro baixo. Prova disso: a 120 km/h, o motor a combustão marcava apenas 2.200 rpm, um sussurro difícil de perceber, graças também ao câmbio e-CVT.
Castello Branco: 20 km/l sob céu limpo
A cena está registrada: Accord preto brilhando ao sol, placa azul da SP-280, horizonte limpo e aquela sensação de estrada que embala. Foi ali que veio a melhor média: 20 km/l.
A Rodovia Castello Branco favorece eficiência, mas o Accord parece projetado para ela. Estabilidade direcional impecável, suavidade de rodagem, silêncio quase absoluto a bordo – e olha que eu tinha acabado de sair de um BYD Seal totalmente elétrico.
Eu e Cris Prado revezamos a direção. Essa alternância sempre entrega uma leitura mais honesta do carro.
A Cris, com tocada menos comprometida com o consumo, aproveitou o silêncio e a naturalidade com que o Accord embala. Vai de 0 a 100 em 8,8 segundos. Eu, que gosto de firmeza em ultrapassagens, mas tento fazer isso com boa eficiência, percebi como o motor elétrico dá respostas seguras mesmo com o carro cheio.
O comportamento dinâmico do Accord é puro equilíbrio: firme nas curvas, confortável nas retas, previsível em tudo. O sedã é grande, mas nunca parece exagerado, pelo menos para quem o dirige. Bem, em algumas garagens não é bem assim, devido aos 4,97 m de comprimento.
Noite na estrada – e o farol alto automático pensa devagar
A ida incluiu um longo trecho à noite, numa estrada sinuosa do Paraná (BR-369) e de mão dupla. Foi ali que um detalhe se destacou: o farol alto automático demora um pouco para reagir. Baixa rápido, sempre, mas demora a subir quando a frente fica limpa.
Com curvas sucessivas e muitos aclives e declives nos trechos de reta, preferi assumir o comando: luz alta, luz baixa, luz alta, luz baixa. Nada grave, mas digno de nota num carro tão refinado e que custa R$ 332.400.
Às vezes, o verdadeiro teste de um carro se revela nas reações de quem está no banco de trás. Com dois idosos acima dos 80 anos, qualquer vibração, ruído ou desconforto aparece rápido. O Accord passou por esse crivo com distinção:
- baixíssima vibração, mesmo em asfalto remendado;
- ruído quase inexistente, a ponto de conversarmos sem elevar a voz;
- suspensão equilibrada, firme sem ser dura;
- bancos amplos, envolventes e estáveis.
A maior reclamação veio do sol forte na volta: faltou cortina no vidro traseiro. Detalhe simples, mas que fez arder as costas de meu pai, pois a traseira é muito alongada e o sol estava baixo e quente, no trajeto de oeste para leste.
A principal novidade do Honda Accord 2026 é a chegada do sistema Google Assistente Integrado. O painel digital continua com tela de 10,2” e oferece várias opções ao motorista. O display central tem 12,3” e traz a opção de usar o Google, ao invés dos tradicionais Android Auto e Apple CarPlay. Há também todos os itens de segurança do Honda Sensing, que é fácil de usar.
O Accord também tem alma – e isso aparece à noite
Numa das paradas noturnas, estacionamos perto de uma antiga estação ferroviária revitalizada, no simpático Posto Kafé, perto de Santa Cruz do Rio Pardo (SP). Sob as luzes amarelas, o Accord Hybrid parecia outro carro – elegante, imponente, quase um fastback executivo.
As lanternas horizontais iluminando o calçamento de pedra criaram uma cena inesperada, quase cinematográfica. Aquelas pequenas pausas em viagem contam tanto quanto o deslocamento.
As rodas de 18" e os pneus 235/45 chamaram atenção pela estética e pelo baixo de ruído de rodagem, sem impactos secos. O conjunto pneumático, mesmo largo e de perfil baixo, não comprometeu o conforto – mérito da calibração da Honda.
Conclusão: um sedã híbrido que dá gosto de rodar
Depois de 1.200 km, fica a sensação de que o Accord Hybrid não tenta surpreender – ele tenta convencer. E convence:
- grande sem ser bruto;
- silencioso sem ser isolado;
- econômico sem ser lento;
- confortável sem ser mole.
É um sedã para quem gosta de estrada. E, mais importante, um sedã que não erra no essencial: eficiência, estabilidade, silêncio, conforto e previsibilidade. Ele não virou herói da viagem. Não foi protagonista. Mas foi o companheiro perfeito – e é exatamente esse o papel de um bom carro de estrada.