Cronos: The New Dawn é imperdível para quem se amarra em survival horror
Jogo reúne toda a experiência adquirida pela Bloober Team ao longo dos anos fazendo jogos de terror
Se consolidando como um dos principais estúdios quando o assunto é survival horror, a Bloober Team marcou um golaço no ano passado com o remake de Silent Hill 2 e ganhou a confiança da Konami, que já a colocou para trabalhar também no remake do primeiro jogo da sua aclamada franquia.
Enquanto esperamos por novidades deste projeto, a desenvolvedora polonesa nos agraciou com mais um título, Cronos: The New Dawn. Após terminar a campanha, que me levou cerca de 17h, digo com tranquilidade que você não vai querer perder este jogo por nada, caso seja fã de ficção científica e terror, ou esteja sedento por algo parecido com Dead Space.
O fim da humanidade
Cronos: The New Dawn começa com a protagonista, conhecida apenas como Viajante, uma agente do misterioso Coletivo, despertando em um futuro onde a raça humana não existe mais. No seu lugar, restaram apenas criaturas grotescas chamadas Órfãos, que são fruto de algo conhecido como Mutação, nome dado ao evento que alterou o mundo para sempre.
O objetivo inicial como Viajante é ir atrás do seu Antecessor, pois você despertou unicamente porque ele falhou em sua missão, então é necessário achá-lo primeiro para saber quais serão seus próximos passos.
Mais adiante após isso, você precisa ir atrás de fendas temporais que levarão você ao passado, na Polônia dos anos 1980, onde a missão será encontrar e extrair a Essência de pessoas importantes deste período, para entender como a Mutação aconteceu e se algo pode ser feito para mudar o destino da humanidade.
O game conta com diversos locais a serem explorados, como uma metalúrgica e um hospital, e o foco na sobrevivência acompanha você do início ao fim da jornada. Cada região apresenta alguns segredos que, se encontrados, podem representar a diferença entre ficar vivo ou morrer, pois os inimigos são implacáveis.
Os monstros com os quais você precisa lidar em Cronos: The New Dawn representam um bom desafio, mesmo para jogadores experientes. A mecânica que permite a eles se fundirem para ficarem mais fortes será sua principal preocupação em todos os combates, pois se deixar que um deles faça isso muitas vezes, ele fica tão forte que você acaba precisando usar mais munição para detê-lo, isso se ele não te matar antes.
Deixar os inimigos se fundirem com os corpos dos monstros derrotados permite que eles ganhem até mesmo uma armadura à prova de balas, fazendo com que você tenha de mirar nas partes do corpo que não estão protegidas para poder causar dano significativo.
Não existem apenas monstros comuns, mas também chefes que são duro na queda, isso sem falar de seres rastejantes que explodem ao encostarem em você, pústulas de ácido explosivas e criaturas que ficam camufladas nas paredes nos ninhos delas, com você precisando usar seus ouvidos para ver onde estão, de modo a surpreendê-las antes que elas o façam.
Essas abominações grotescas, que claramente são muito inspiradas na franquia Dead Space e no filme “O Enigma de Outro Mundo”, de John Carpenter, aliada com uma ambientação de primeira linha, faz com que Cronos: The New Dawn deixe você atento a todo instante. Mesmo quando você achar que está tudo ok, pode acabar sendo surpreendido por algo totalmente inesperado.
Recursos são limitados e você precisa se acostumar com isso se quiser continuar vivo
Um dos aspectos da jogabilidade que me chamou a atenção em Cronos: The New Dawn é que, ao contrário de outros survival horrors como Resident Evil, Silent Hill ou Dead Space, onde a munição e itens de cura nunca foram um problema para mim, aqui a situação se inverte totalmente.
Embora eu tenha adorado isso, pois me forçou a gerenciar melhor as coisas que eu encontrava e a forma de abordar os inimigos, trata-se de algo que pode irritar jogadores menos pacientes, juntamente com a movimentação um pouco dura da personagem.
Existem várias armas à disposição no game, que você vai achar enquanto progride na história, mas munição para usá-las não é assim tão fácil de obter. Por isso, volto a dizer que explorar cada milímetro dos cenários é fundamental, pois ajudará na sua própria sobrevivência, fora que para voltar ao trajeto dos objetivos principais, basta ativar a bússola e ela lhe mostrará onde ir.
Os melhores lugares com itens escondidos geralmente estão atrás de portas trancadas com correntes ou através de alguma passagem na parede. Há também situações (opcionais e obrigatórias) onde você precisa usar senhas e chaves para abrir certas portas, queimar biomassa fragilizada dos ninhos dos monstros usando fogo para abrir passagens ou bolar uma maneira de dar energia a um determinado gerador para que uma porta se abra. Isso sem falar dos cenários onde você faz uso das Botas Gravitacionais, que te permitem levitar de um lugar a outro e andar em certas paredes, e momentos onde você consegue manipular Anomalias de Espaço-tempo para alterar o estado delas e, consequentemente, do cenário, abrindo ou criando novas passagens.
Cada bala ou cartucho encontrado deve ser valorizado. E em alguns casos, convém mais fugir do que enfrentar os oponentes, pois há situações onde você não terá essa escolha e precisará lutar até matar todos os inimigos. Existe a possibilidade de realizar golpes de corpo a corpo ou pisões, mas causam pouquíssimo dano, não sendo muito eficazes.
O lança-chamas é provavelmente a arma mais importante do jogo, porque é com ela que você queima os corpos dos inimigos derrotados, impedindo que outros os usem para se fortalecer. Em todos os locais de descanso do game, que servem inclusive para salvar o jogo, comprar e guardar itens, há sempre uma cabine que fornece o combustível de lança-chamas de forma ilimitada, mas permitindo que você tenha apenas um deles consigo, seja no inventário ou no Estoque onde você deixa itens sobressalentes.
Como o game depende muito que você queime os corpos dos monstros, essa foi uma sacada inteligente da Bloober Team para garantir que você sempre tenha acesso a pelo menos um combustível de lança-chamas, desde que ache uma das cabines que dê isso. Há também situações onde você encontra barris explosivos afetados pelas Anomalias citadas anteriormente, o que permite restaurá-los alguns segundos após eles explodirem, para que você possa atirar neles e explodi-los novamente, atingindo inimigos próximos.
Para melhorar as armas, você usa Energia coletada de diversos itens que encontra pelo jogo. É essencial maximizar o potencial do seu arsenal, para aumentar suas chances de ficar vivo. As primeiras armas que você encontra, aliás, requerem que você segure o botão de disparo para carregá-las e dispará-las com mais potência, aumentando consideravelmente o dano. Fazer uso do disparo normal com essas armas, ao meu ver, é inútil, pois o dano é muito baixo e a tendência é que você fique sem balas mais rápido dessa forma, pois precisará de mais tiros para dar cabo dos monstros.
Mais adiante, surgem armas onde essa prática não é mais necessária, permitindo que você escolha continuar a usar os armamentos iniciais cujos disparos carregados são a melhor opção, ou então equipe as armas mais avançadas que têm equilíbrio entre tiros rápidos e dano causado.
Você também pode melhorar sua armadura com itens raros chamados de Núcleo, fazendo com ela fique mais resistente e o espaço do seu inventário aumente. Além disso, existem produtos químicos e peças metálicas que você pode coletar para criar munições, granadas explosivas (chamadas aqui de Piras), combustível de lança-chamas e itens de cura.
Descobrindo mais sobre o passado
Cronos: The New Dawn também conta com diversos documentos e áudios espalhados pelos muitos locais do jogo, que contam mais da história envolvendo o fim da humanidade por causa da Mutação, os personagens importantes que você encontra e até mesmo diários de Viajantes que pereceram antes de você. Isso sem falar de coletáveis na forma de gatos (sim, gatos!) que te entregam itens valiosos se você os encontrar e salvá-los, e histórias em quadrinhos.
Voltando a falar das Essências que mencionei no início do texto, sempre que você a pegar de alguém do passado, pode equipá-la e ela lhe dará algum benefício especial, como por exemplo causar mais dano em inimigos que estejam em chamas. É possível equipar no máximo três Essências. Se quiser usar outra, terá de descartar uma das três que você já possui e de forma permanente. Existe um motivo para isso, mas evitarei contar devido aos spoilers da história.
Ao longo da jornada, você também se deparará com Viajantes mortos, com alguns deles tendo Essências que você pode extrair, se assim desejar. Vale ressaltar que todas as Essências mudam algumas coisas no game e fazem a personagem ficar assombrada e ter alucinações, o que ajuda ela a descobrir mais sobre a trama do game e também contribui para o fator de terror de Cronos: The New Dawn.
Além disso, há algumas escolhas que você faz no jogo que impactam certos acontecimentos da história. Há múltiplos finais, com eu tendo conseguido ver dois após zerar o game pela primeira vez. Nenhum deles me pareceu ser aquele que muitos dizem ser o “final verdadeiro” encontrado em jogos com desfechos distintos, então creio que há pelo menos um terceiro final que falta descobrir.
Ao terminar a jornada, você tem a opção de jogar o Novo Jogo+, inclusive numa dificuldade mais elevada, se preferir.
Otimização na Unreal Engine 5 aceitável no PC, exceto com Ray Tracing
Uma das preocupações de muitos jogadores nos jogos atualmente é quando eles são feitos na Unreal Engine 5. Se a desenvolvedora não fizer um bom trabalho de otimização nesse motor gráfico, podem levar semanas, meses ou até mais tempo para que o jogo fique “redondo” depois de ser lançado.
Em Cronos: The New Dawn, eu joguei a maior parte do tempo em 1440p, com a qualidade gráfica máxima, DLSS no modo Qualidade e sem Frame Generation, mantendo mais de 60 fps quase o jogo inteiro, com exceção de alguns momentos onde a taxa de quadros ficou entre 50-60 fps, mas que não chegaram a me incomodar. Isso utilizando um PC com Ryzen 5 7600, 2x16GB de RAM, SSD NVMe Gen4, GeForce RTX 4070 e Windows 11.
Com o Frame Generation, no entanto, o desempenho ficou sempre muito acima de 60 fps, mas não vi necessidade de usá-lo, então preferi deixar desligado.
Dito isso, se for jogar com Ray Tracing, prepare-se para se decepcionar. O jogo aí sim mostra seu peso real e nem mesmo com Frame Generation ativado o desempenho fica em algo que eu consideraria satisfatório, me fazendo crer que o recurso aqui foi pensado mais para Multi Frame Generation, o qual não tenho acesso.
Aliás, não notei mudanças substanciais nos gráficos usando Ray Tracing, que são bonitos mesmo sem isso, especialmente nos locais infestados pelos monstros, apesar de uma ou outra textura em baixa resolução. Desta forma, não vi sentido manter essa tecnologia visual ativada na maior parte do tempo, já que isso resultaria em uma queda significativa da taxa de quadros, que fica ainda mais acentuada nos pontos mais pesados do jogo.
Havia também alguns problemas técnicos graves com os quais me deparei em Cronos, em especial um que obrigava a pular um trecho envolvendo um diálogo importante mais adiante na história, mas felizmente quase todos foram resolvidos ontem com o lançamento de um patch.
A única situação mais grave que ainda precisa de reparos é o HDR. Ele agora funciona (não estava funcionando direito antes do patch), mas ao ligá-lo, a resolução do jogo fica travada àquela que estiver selecionada na área de trabalho do Windows. Mudá-la no menu de opções do game não surte efeito algum, então tenha isso em mente caso decida jogar com HDR no PC.
Considerações
Cronos: The New Dawn me prendeu com sua atmosfera sinistra, história intrigante, boa jogabilidade e dificuldade acima da média para jogos deste gênero. Fiquei a todo momento observando para ver qual seria a próxima surpresa a me pegar desprevenido, enquanto explorava cada canto dos cenários para achar itens (e gatos) que me ajudassem a sobreviver. O game poderia ser melhor otimizado com o Ray Tracing, mas isso não impede que ele ofereça uma experiência bastante sólida para quem está em busca de uma nova franquia de survival horror.
O lançamento de Cronos: The New Dawn ocorre em 5 de setembro para Mac, PC, PlayStation 5, Switch 2 e Xbox Series.
Esta análise foi feita no PC, com uma cópia gentilmente cedida pela Bloober Team.