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Rogério Caboclo assume presidência da CBF com desafio de modernizar entidade

Advogado de 46 anos chega ao cargo na terça-feira sob incógnita sobre mudanças ou continuísmo no futebol brasileiro

7 abr 2019 - 04h40
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Início de um ciclo que pode levar a mudanças no futebol brasileiro ou continuísmo? É sob essa dúvida que o paulista Rogério Langanke Caboclo, advogado e administrador de empresas de 46 anos, assume na terça-feira a presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para um período de quatro anos, até 2023. Jovem em relação aos anteriores, metódico, detalhista, ele promete marcar sua gestão por dois pilares: eficiência e integridade. Mas se moverá em um campo minado, resquício de métodos arcaicos de administração e da sucessão de escândalos de corrupção envolvendo os antecessores. Hoje, a CBF tem um ex-presidente preso nos Estados Unidos e outros que não saem do País com receio de parar atrás das grades.

Diretor executivo de gestão da entidade desde 2014, Caboclo garante estar preparado para o desafio. Rebate os que dizem que ele não é um conhecedor profundo do futebol lembrando que aos 28 anos já era diretor executivo do São Paulo, seu clube de coração - paixão que herdou do pai, Carlos, também ex-dirigente do Tricolor -, e que de 2002 a 2015 esteve na Federação Paulista, ocupando vários cargos nas áreas administrativa e financeira.

Rogério Caboclo assume neste domingo a presidência da CBF.
Rogério Caboclo assume neste domingo a presidência da CBF.
Foto: Divulgação/CBF / Estadão

No entanto, terá de superar outro tipo de desconfiança. Afinal, foi eleito como candidato da situação, dando prosseguimento a uma espécie de "dinastia" que comanda o futebol brasileiro desde que João Havelange fez de seu então genro, Ricardo Terra Teixeira, presidente da CBF, 30 anos atrás.

Cria de Marco Polo del Nero - o levou para a FPF, para ser um dos diretores do Comitê Organizador Local da Copa de 2014 e depois para a CBF -, Caboclo procura descolar sua imagem da do criador. Promete tornar a CBF mais moderna e transparente e dar mais espaço e voz aos clubes, atendendo aos seus anseios em questões como a melhora do calendário.

"Eu tenho uma expectativa muito boa dele no sentido de a CBF ser um fator transformador do futebol e que trabalhe em favor dos clubes. Não só promover campeonatos bem organizados, mas que sejam criadas estruturas que apoiem os times", disse ao Estado Alexandre Campello, presidente do Vasco. "Ele já mostrou que é uma pessoa extremamente competente, qualificada para o cargo", acrescenta Sérgio Sette Câmara, do Atlético-MG.

Casado e pai de um filho, Caboclo assume o posto de direito amanhã, pois de fato já comanda a confederação desde que Del Nero foi forçado a se afastar. Na ocasião, o coronel Antonio Nunes foi alçado ao cargo por ser o vice mais velho da CBF. Mas a total inaptidão de Nunes para a função e uma série de besteiras cometidas por ele fizeram Caboclo tomar as rédeas antes - jamais admitiu ser ele, e não Antonio Nunes, o presidente na prática.

Nos últimos meses, o Estado tentou entrevistá-lo várias vezes em função da influência de seu trabalho na CBF - foi ele que renovou o contrato de Tite, por exemplo, após a Copa. Todos os pedidos foram rejeitados, com o argumento de que respeita a hierarquia.

Essa é outra das características do novo presidente. Ele odeia insubordinação. Mas, mesmo quando está contrariado, raramente perde o controle. No máximo, "fecha a cara". Por sinal, ele não é de muitos sorrisos. Porém, é sempre cortês. E um hábil negociador.

Foi Caboclo que apagou o incêndio quando o coronel Nunes, contrariando acordo das confederações filiadas à Conmebol, votou na candidatura do Marrocos para sede da Copa de 2026 e não no trio EUA/México/Canadá. A traição irritou cartolas da Conmebol e Fifa que, em plena Copa da Rússia, falaram em passar a tratar a CBF como uma "confederaçãozinha qualquer."

Caboclo entrou em cena, Nunes foi colocado para escanteio - havia dias em que só saía de seu quarto de hotel em Moscou para fazer as refeições - e passou a costurar um armistício.

Com o passar do tempo, as arestas foram aparadas. Amanhã, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, estará na posse de Caboclo no Rio, acompanhado de dirigentes da cúpula da entidade. O da Conmebol, Alejandro Dominguez, e a "nata" da cartolagem sul-americana também estarão presentes.

RESISTÊNCIAS

O novo presidente da CBF também venceu resistências internas. No seu início na entidade, vivia dizendo "não" a pedidos de ajuda, muitas financeiras, de dirigentes de clubes e federações. Com isso, era visto com maus olhos.

Ele começou a ficar bem na foto em 2017, quando comprou a briga dos dirigentes contra uma exigência estabelecida na lei que criou o Profut (programa de refinanciamento das dívidas dos clubes), que determinava o rebaixamento de divisão dos times que não apresentassem a Certidão Negativa de Débitos (CND). "As competições devem ser resolvidas dentro de campo", defendeu ele.

A exigência foi derrubada em setembro daquele ano, em decisão liminar do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.

Na época, Del Nero já estava bastante encalacrado com acusações de corrupção e passou a articular a sucessão. Escolheu Caboclo e fez valer sua influência para que, em abril passado, ele fosse eleito com votos das 27 federações, dos 20 clubes que estavam na Série B à época e de 17 dos 10 da Série A - o Flamengo se absteve, o Corinthians votou em branco e o Athletico-PR não votou.

Para a vitória contribuiu o modelo da eleição, que só permite registro de chapas que tenham o aval de oito federações e cinco clubes. O presidente da FPF, Reinaldo Carneiro Bastos, até tentou registrar uma chapa de oposição. Foi abatido antes mesmo de levantar voo.

O sistema de escolha, que estabeleceu pesos diferentes no colégio eleitoral por meio de mudança do estatuto da CBF (federações têm peso 3; clubes da Série A, 2; e da Série B, 1), motivou ações do Ministério Público do Rio de Janeiro e do Ministério Público Federal pedindo a anulação da eleição. O argumento foi que a assembleia da CBF que alterou o estatuto foi ilegal porque os clubes não participaram. As ações não tiveram êxito na Justiça.

Caboclo não se abalou com elas. Nem demonstrou preocupação, de acordo com pessoas próximas, quando teve questionado o crescimento de seu patrimônio, com compra de imóveis e veículos, com indicações de que teria ocorrido a partir do momento em que se tornou CEO da Copa de 2014. Rebateu dizendo que, ao longo dos anos, aferiu ganhos compatíveis com seu patrimônio e que todos os seus bens são declarados no Imposto de Renda.

Seu salário no COL da Copa era de R$ 100 mil por mês.

Rogério Caboclo passou incólume pelos escândalos que envolveram Marin e Del Nero. Seu nome não apareceu em nenhuma investigação. E, embora seja centralizador, promete fazer uma gestão participativa, dialogando com clubes, federações, atletas, ex-atletas e árbitros, e transparente. Esse é um anseio praticamente comum no futebol brasileiro.

Estadão
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