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Rússia

Estádios se despedem da Copa com risco de virarem 'elefantes brancos'

Quatro cidades já saíram do Mundial, sem saber ao certo como dar rentabilidade às suas arenas

1 jul 2018 - 05h03
(atualizado às 05h03)
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Terminada a Copa para quatro dos doze estádios do Mundial, a Rússia mergulha em um debate tradicional em todos os eventos esportivos de grandes proporções: o que fazer com novos "elefantes brancos", deixados a cada quatro anos pelo mundo? Com o fim da primeira fase do torneio, estádios como o de Ecaterimburgo, Kaliningrado, Saransk e Volgogrado encerram suas participações no torneio. Já o estádio de Rostov terá apenas mais uma partida, nesta fase de oitavas de final.

O Comitê Organizador Local explicou ao Estado que um fundo com recursos públicos foi criado para manter as arenas por dois anos. Até lá, os clubes locais e prefeituras precisam encontrar um plano para assumir os estádios e passar a usá-los de forma financeiramente viável.

O governo russo deve destinar aos estádios um total de US$ 31 milhões (R$ 119 milhões) até 2020 em gastos com operações. Mas sete dos doze estádios da Copa serão inteiramente bancados pelo novo fundo criado pelo Kremlin, em gastos que podem chegar a US$ 8 milhões (R$ 30,8 milhões) em manutenção apenas em 2019. Além dos estádios que já abandonam o Mundial depois da fase inicial, vão se beneficiar do pacote ainda as arenas de Nijni Novgorod e Samara.

No caso de Kaliningrado, antes mesmo de a Copa começar o governador local, Anton Alikhanov, fez uma reunião com o presidente russo Vladimir Putin para pedir dinheiro. O único time local é o FC Baltika, da segunda divisão, que não tem ilusões sobre sua capacidade de lotar um estádio com 35 mil lugares.

Em Volgogrado e Nijni Novgorod, os clubes locais não conseguem passar de um público médio de 5 mil pessoas. No caso de Saransk, a equipe da cidade está na terceira divisão. Já em Sochi, que hoje não conta com um clube, a negociação é para que o Dínamo de São Petersburgo se mude para o balneário em 2019.

Os times que atuam na primeira divisão de Ecaterimburgo e Rostov não chegam a vender mais de 9 mil entradas por jogo. Por isso, no caso de Ecaterimburgo, o estádio foi construído com arquibancadas móveis - uma espécie de "puxadinho". Assim, a capacidade de 35 mil lugares será reduzida para apenas 23 mil, num esforço de o manter sustentável.

Ajuda

"Na Rússia, o problema que ocorre a cada quatro anos (com estádios construídos para o Mundial que acabam sem uso) era totalmente telegrafado, especialmente em lugares como Volgogrado e Kaliningrado", disse ao Estado o acadêmico da Pacific University, de Oregon, e ex-jogador da seleção americana olímpica Jules Boykoff.

"Nesses locais, os clubes das cidades não terão a capacidade de lotar os estádios da Copa."

A consultoria Aecom também prevê problemas para a manutenção dos estádios russos. Mas alerta que os desafios não estarão resolvidos com os dois anos de resgate do governo.

O assunto entrou até mesmo na agenda do Conselho da Federação Russa. Ali, líderes regionais solicitaram mais ajuda financeira de Moscou. Delegados de Nijni Novgorod, por exemplo, chegaram a propor que a manutenção das arenas esportivas fosse colocada no orçamento do governo de forma fixa, por três anos seguidos.

"Isso tudo mostra o problema persistente que sedes de eventos esportivos enfrentam ao receber uma Copa do Mundo: os custos escondidos de manutenção de estádios depois que o espetáculo (da bola) deixa a cidade", disse Boykoff.

Estadão
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