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Sonho americano na Copa morre, mas paixão pelo futebol nasce

Apesar da eliminação dos EUA pela Bélgica, entusiasmo dos torcedores mostra como o torneio ajudou a plantar a semente do futebol no país

2 jul 2014 - 13h45
(atualizado em 4/12/2014 às 11h16)
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Torcedores se reuniram para assistir ao jogo em bar do Queens
Torcedores se reuniram para assistir ao jogo em bar do Queens
Foto: Patrick Brock / Especial para Terra

Perto dos trilhos do elevado do metrô no Queens, em um escuro bar, os torcedores se preparam para assistir ao que alguns consideram ser o jogo mais importante dos Estados Unidos na história da Copa. O lugar é uma filial da torcida organizada American Outlaws, criada em 2007 para apoiar a seleção americana. Chamado Olde Prague, o bar no estilo europeu reflete um pouco da energia americana que tudo absorve e cuja expressividade nacionalista faz com que os filhos dos imigrantes já não torçam mais para as nações de seus pais na Copa do Mundo.

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Bola rolando. Cerca de 70 pessoas assistem. Este é um lugar para iniciados e muitos batem palmas ou reclamam quando o meia Michael Bradley não chuta para o gol ou o ataque americano desperdiça mais uma chance. Mas também há espaço para novatos:

“Até que ponto pode usar as mãos para impedir um adversário?”, diz um torcedor de feição asiática e vestido como quem saiu do escritório – muitos americanos chegam a encerrar o dia mais cedo para acompanhar o Team USA.

“Não pode usar as mãos, só se for por acidente,” diz o outro, devidamente equipado com a camisa da seleção.

No segundo tempo a Bélgica redobra os esforços. O diálogo fica mais tenso:

“Eles estão chegando perto...” diz o torcedor mais experiente.

“Isso não é nada bom, nada bom,” diz o asiático.

Chega a hora de roer as unhas e levantar da cadeira. O time americano pode não ter técnica, mas tem raça e paixão, como seus torcedores. Cada roubada de bola, cada defesa, é motivo para palmas; xingam o juiz quando dá cartão amarelo a Geoff Cameron, mas também aplaudem quando é a Bélgica a ser penalizada. O mais exaltados temperam a fé no time com o realismo de que os EUA ainda têm muito a evoluir no futebol, como um jovem de barba ruiva e quepe estilizado com as cores da bandeira, dando tapas na própria testa nas inúmeras vezes em que os americanos erram passes ou não conseguem concluir jogadas ofensivas.

Wayne Haneke, um professor de 64 anos e morador de Long Island, aprendeu a gostar do esporte quando morava na Inglaterra. Ele assiste à partida com o filho, que vive nas redondezas do Olde Prague. Ao final do primeiro tempo, Wayne dispara torpedos do celular. “Eu adoro Copa do Mundo, mas estou muito nervoso, está difícil, estou aqui avisando o pessoal para preparar a ambulância.”

Wayne Haneke e filho torcem juntos pelos Estados Unidos contra a Bélgica
Wayne Haneke e filho torcem juntos pelos Estados Unidos contra a Bélgica
Foto: Patrick Brock / Especial para Terra

Wayne conta que ele o filho acordavam de madrugada durante a Copa da Coreia do Sul e do Japão, em 2002, para acompanhar os jogos. “Depois nós dois íamos para a escola,” diz o professor, rindo. Mas encara com sobriedade o estado do futebol nos EUA. “Nossa cultura não está muito conectada ao futebol, mas é bom ver tantos torcedores apoiando a seleção, é muito empolgante para nós (que somos fãs de futebol). Agora estamos nos aclimatando à Copa do Mundo e é lindo ver todo mundo unido torcendo. Quando você torce para o beisebol, é muito mais regional, mas na Copa é todo mundo junto por uma causa nacional, é como lutar uma guerra.”

Ficou evidente, no desesperador final da partida, como a dinâmica veloz do futebol suscita paixão e fúria, não importa a nacionalidade ou grau de popularidade. Quando a Bélgica faz o primeiro gol, inúmeros xingamentos chovem no goleiro americano. Quando vem o segundo, então, parece que a sala morreu. Mas na hora em que Julian Green marca o primeiro e único gol dos EUA na partida, os espíritos se levantam numa onda otimista que torce até o último minuto aos berros de “I believe that we will win” (eu acredito que vamos ganhar, canto de guerra nascido na torcida do time de futebol americano da Marinha dos EUA). Ao final, o bar esvazia mas não há um clima de tragédia no ar. É só esporte e a festa acabou.

Se o objetivo da Fifa é disseminar o futebol para o mundo, não há dúvida: o sonho americano na Copa pode ter morrido aos pés da Bélgica, mas a campanha de 2014 definitivamente plantou no país a semente da paixão pelo esporte.

Fonte: Especial para Terra
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