Doença degenerativa é diagnosticada em 6º jogador da NFL
Danos cerebrais mais usualmente associados aos boxeadores foram diagnosticados em um sexto jogador de futebol americano da NFL morto antes dos 50 anos de idade, o que estimula ainda mais o debate quanto à importância desses resultados, no interior da organização.
Médicos da escola de medicina da Universidade de Boston identificaram uma condição conhecida como encefalopatia traumática crônica no cérebro de Tom McHale, um bloqueador que jogou na NFL entre 1987 e 1995 e morreu em maio, aos 45 anos. Conhecida como ETC, a doença progressiva deriva de repetidos traumas na cabeça e pode resultar em demência para pessoas na casa dos 40 ou 50 anos de idade.
Usando técnicas que só podem ser empregadas pós-morte, médicos identificaram ETC em todos os seis veteranos da NFL, mortos em idades de entre 36 e 50 anos, que foram examinados em busca dessa condição, e isso representa nova prova dos riscos de traumas cerebrais tratados de forma incompleta entre os jogadores de futebol americano.
"É assustador, amedronta horrivelmente", disse Randy Grimes, que jogava no centro do ataque do Tampa Bay Buccaneers, em companhia de McHale. "Eu mesmo passei por diversas concussões. Mais do que deveria ter passado. Minha mulher diz que eu tenho problemas de memória de curto prazo. É realmente assustador pensar no que pode estar acontecendo lá em cima".
A descoberta quanto a McHale foi anunciada na tarde de terça-feira em uma entrevista coletiva em Tampa ¿a cidade em que McHale vivia e na qual o Super Bowl será disputado no domingo. O evento foi promovido pelo Centro de Estudo da Encefalopatia Traumática da Universidade de Boston.
"Trata-se de uma descoberta significativa em termos médicos", disse o médico Daniel Perl, diretor de neuropatologia da Escola Mount Sinai de Medicina, em Nova York, que não está associado aos pesquisadores de Boston. "Creio que, com a identificação de um sexto caso, de um total de seis pacientes submetidos ao estudo, há prova mais que suficiente de que a prática do futebol americano está fortemente associada à presença dessa doença, já que se trata de uma condição incrivelmente rara para a média da população".
O médico Ira Casson, co-presidente do comitê da NFL que estudou os casos de concussões registrados entre os jogadores desde 1994, disse que não comentaria sobre o assunto até que o caso de McHale e outras recentes descobertas sobre a ETC fossem publicados em uma revista científica que submeta os trabalhos a revisão por especialistas.
"É muito difícil comentar assuntos e estudos de caso apresentados em formato que não se enquadra à prática científica e que não tenham passado por revisão de especialistas", diz Casson, neurologista do Centro Médico Judaico de Long Island. Ele acrescentou que "creio que restem ainda muitas questões para determinar se esse tipo de encefalopatia traumática está associado ao futebol americano. Creio que não estejamos certos disso, e que não existam provas científicas suficientes para alegar o contrário".
A médica Ann McKee, co-diretora do grupo de pesquisadores da Universidade de Boston, disse que estava completando um estudo sobre casos de ETC entre atletas do futebol americano, e que o trabalho pode ser publicado já em maio. Ela acrescentou que a presença de ETC em McHale e em um caso anterior, o de John Grimsley, jogador da segunda linha defensiva do Houston Oilers, foi confirmada pelo Dra. E. Tessa Hedley-Whyte, diretora de neuropatologia do Hospital Geral de Massachusetts.
McHale jogou como bloqueador de linha de ataque por nove temporadas, na NFL, a maioria das quais com o Bucaneers, antes de se aposentar e começar a trabalhar como restaurateur. De acordo com sua viúva, Lisa, ele desenvolveu dores tão crônicas nos ombros e em outras juntas que, por volta de 2005, começou a usar indevidamente doses maciças do analgésico OxyContin, o que exacerbava sua letargia e depressão e fez com que ele passasse a utilizar cocaína ocasionalmente para compensar esse efeito.
McHale entrou em queda livre, passou por três tentativas de desintoxicação e morreu em 25 de maio de 2008, depois de usar uma mistura letal de oxycodone e cocaína, em um episódio que a polícia definiu como acidental. A morte dele causou choque a muitos torcedores e de seus ex-colegas, diversos dos quais o recordavam como homem sempre inteligente e responsável.
Lisa McHale diz que não se lembra de o marido ter sofrido concussões na universidade - ele defendeu a equipe de futebol americano da Universidade Cornell - ou na NFL. McKee diz que os danos cerebrais encontrados em Tom McHale - que não podem ter sido causados por abuso de drogas, os médicos acrescentam- provavelmente influenciaram seu comportamento autodestrutivo em seus últimos anos de vida.
"Seria de esperar que sintomas como falta de perspicácia, más decisões, concentração e atenção reduzidas, incapacidade de realizar múltiplas tarefas e problemas de memória o afligissem", disse McKee sobre a condição do cérebro de McHale.
Lisa McHale diz que o diagnóstico de ETC a ajuda a superar melhor a morte do marido, e sabe que a doença pode tê-lo poupado de um futuro terrível. De acordo com o médico Robert Stern, da Universidade de Boston, que estudou com McKee o caso de McHale, se ele tivesse sobrevivido provavelmente estaria sofrendo de demência completa aos 60 anos.
"Fiquei muito triste por Tom, por seu cérebro estar daquele jeito", disse Lisa McHale. Todos os esforços dele nos últimos anos para tentar melhorar e voltar aos seus melhores dias, tanto trabalho e frustração - isso me abalou muito".
"Espero que um diagnóstico de seis casos de ETC em seis jogadores estudados chame a atenção das pessoas", disse Lisa McHale sobre os jogadores mortos antes dos 50 anos, entre os quais Grimsley; Andre Waters, defensor do Philadelphia Eagles; e Mike Webster, Terry Long and Justin Strzelczyk, os três do Pittsburgh Steelers.
Tradução: Paulo Migliacci ME