Relembre prova que confirmou "maldição" de Piquet em Mônaco
Ayrton Senna venceu o Grande Prêmio de Mônaco em seis ocasiões. Graham Hill e Michael Schumacher, cinco cada um. Alain Prost, quatro. Stirling Moss e Jackie Stewart foram os primeiros no principado em três ocasiões. Se você procurar a lista de vencedores da tradicional prova de Monte Carlo, verá o nome de grandes pilotos, sendo a maioria deles campeões da Fórmula 1. Mas... Cadê Nelson Piquet na lista?
Eis uma das lacunas da quase impecável carreira de Nelson Piquet na Fórmula 1: tricampeão da categoria máxima do automobilismo mundial, Piquet jamais subiu ao topo do pódio em Mônaco. Esteve bem perto disso em algumas ocasiões, é verdade, mas o primeiro lugar jamais foi dele.
Ao longo de 14 anos de carreira, Piquet correu 13 vezes em Mônaco – em 1978, seu primeiro ano, disputou apenas as últimas provas. Nas melhores apresentações, foi segundo em duas vezes - 1983 pela Brabham e 1987 pela Williams, tendo terminado o ano como campeão nas duas ocasiões. Em nove outras participações, o brasileiro abandonou.
Um dos abandonos aconteceu justamente na prova em que Piquet esteve mais próximo de vencer, em 1981 – coincidência ou não, em outra temporada na qual se sagraria campeão. Naquele ano, largou da pole position e caminhava para uma vitória de certa forma tranquila, até que bateu.
“Tive duas oportunidades (de vencer). Uma, o carro quebrou (1979, pela Brabham); na outra (1981), o retardatário bateu”, lembrou Piquet, em entrevista no mês de março ao Programa do Jô, da Rede Globo. “Foi um francês, o Tambay. Eu ia ganhar a corrida. Ele era retardatário e me fechou”, completou.
Aquela prova de 1981, disputada em 31 de maio, parecia ser destinada à vitória de Piquet. Na largada, manteve a primeira posição do grid, com a Ferrari do canadense Gilles Villeneuve logo atrás. Andrea de Cesaris (McLaren) e Mario Andretti (Alfa Romeo) se enroscaram logo após a Saint-Devote, nos primeiros metros da corrida, e abandonaram prematuramente.
Enquanto o pelotão intermediário era o centro das atenções da prova, Piquet fazia a melhor volta, a nona da corrida, em 1min29s044. Bem distante dele, coisa de 8s, vinham a Ferrari de Gilles Villeneuve, a Lotus de Nigel Mansell e as Williams de Carlos Reutemman e Alan Jones, andando praticamente em fila indiana.
Na 15ª volta, Mansell – outro que jamais venceu em Monte Carlo – entrou nos boxes e abandonou com problemas de suspensão. Na volta seguinte, o então campeão Alan Jones – mais um que nunca venceu ali – conseguiu a façanha de ultrapassar em Mônaco, deixando Gilles Villeneuve em terceiro.
Piquet em primeiro, Jones em segundo e Villeneuve em terceiro – seriam as prováveis posições do pódio, mas acabaram sendo as posições que definiram as últimas voltas da prova. Elio de Angelis (Lotus), Jacques Laffite (Ligier) e René Arnoux (Renault) completavam as seis primeiras posições.
As zebras começaram a aparecer na volta 32, quando Arnoux bateu na entrada da emblemática Curva Loews e abandonou. Segundos depois, perto da Curva da Tabacaria, o motor de De Angelis foi pelos ares, tirando o italiano da corrida. Enquanto os carros eram recolhidos, Eddie Cheever (Tyrrell) foi tocado por Didier Pironi (Ferrari) na Mirabeau e só não deixou a prova porque foi recolocado na pista por rivais.
Piquet nadava de braçada lá na frente, mas sua vantagem para Jones foi caindo à medida que encarava o tráfego. Assim, não foi surpresa quando o australiano da Williams fez a melhor volta da prova (1min27s470 na volta 48); afinal, naquele momento, a diferença entre os dois carros era pequena, praticamente visual.
A 26 voltas do fim, Michele Alboreto (Tyrrell) rodou na Saint-Devote e foi atingido por Bruno Giacomelli (Alfa Romeo), em um acidente que por pouco não fechou a pista e complicou a corrida. Por sorte, os dois carros foram removidos a tempo para a prova. Ou para o que se veria a seguir: a reviravolta que deu a vitória ao ofuscado Gilles Villeneuve.
Na volta 53, Piquet sofria menos com a pressão de Jones. Saiu do túnel, passou pela Chicane do Porto e entrou na Curva da Tabacaria. Ali, atrás do francês Patrick Tambay (Theodore) e do americano Eddie Cheever, fez a manobra para superar os dois retardatários, botando o carro para a direita. Só que deu errado: a Brabham passou reto e acertou o guard-rail. Ali mesmo, cercado por fiscais, Nelson Piquet deixou o carro e saltou para fora do traçado, deixando o primeiro lugar para Alan Jones.
“Se eu não passasse logo o Tambay, o Jones voltaria a se pendurar no meu pescoço. Àquela altura, não havia uma fração de segundo a perder. Nunca pensei que acabaria sofrendo um acidente logo na ultrapassagem de um carro com três voltas de atraso”, declarou Nelson Piquet, segundo reportagem do jornal O Globo do dia 1º de junho de 1981. “Pensei que ele (Tambay) me daria caminho, mas ele não o fez. Assim, eu – que pisara fundo para passá-lo, como o Cheever havia feito – tive que frear, senão iria em cima dele”, completou.
Piquet deixou então a corrida e foi descansar no iate de amigos mexicanos. Tambay, que seguiu na pista e terminou a corrida em sétimo, não gostou nada do argumento do brasileiro.
“Se Nelson Piquet está atrás de uma desculpa para explicar sua batida, é bom procurar outra melhor, sem acusar os outros. Esta não cola”, disse o francês, também segundo o jornal O Globo do dia seguinte à corrida. “Ninguém pode dizer que eu não obedeci os sinais para dar passagem aos outros carros (...). Não havia nenhum motivo para que, na hora da batida, eu procurasse impedir a passagem de algum outro carro”, completou.
Mas... E Alan Jones? Bem, o australiano seguiu tranquilo na liderança até as voltas finais, quando o motor Ford da Williams começou a apresentar problemas no bombeamento de combustível. Aí, a quatro voltas da bandeira quadriculada, Gilles Villeneuve aproveitou a reta dos boxes e atacou o rival, tomando o primeiro lugar antes da freada da Saint-Devote. Aí, não perdeu mais e venceu pela primeira – e única – vez em Mônaco. Jones foi segundo, em sua melhor apresentação nas ruas de Monte Carlo.