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Programa treina jovem para ?subir? rápido

25 jun 2018 - 10h18
(atualizado em 2/7/2018 às 15h06)
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Cargos de gerência e altos salários para recém-formados são uma realidade em algumas empresas. Os programas para ?supertrainees?, que minguaram durante a crise e começam a ser retomados, abrem espaço para estudantes ambiciosos que sabem o que querem. Os salários para quem vence a acirrada disputa por uma vaga oscilam entre R$ 7 mil e R$ 10,2 mil mais benefícios - mas a remuneração é o que menos conta. O que atrai esses profissionais é rápida aceleração na carreira e a experiência internacional oferecida. Gerente da consultoria de recrutamento Page Talent, Carla Biasi diz que, por serem caros e trabalhosos, as companhias interromperam os programas trainees durante a crise econômica. Agora, os retomam com um processo seletivo mais refinado. Segundo ela, os trainees têm adaptação mais rápida à empresa e maior engajamento do que funcionários contratados. Aos 26 anos, a administradora de empresas Clara Bravo vai concluir seu programa na Souza Cruz agora em julho. Ela recebe R$ 7,5 mil mais benefícios e ao término do processo assumirá a posição de gerente de talentos na sede da British American Tobacco (BAT), controladora da Souza Cruz, em Londres. "O que me chamou atenção para o programa foi a oportunidade de atuação internacional." Clara entrou na companhia como estagiária e antes atuava como analista de RH. "Se continuasse no cargo, teria um desenvolvimento mais lento", afirma. No último processo aberto pela Souza Cruz, havia 30 mil inscritos para 15 vagas direcionadas às áreas de finanças, jurídico, industrial e marketing. Ou seja, 2 mil candidatos por vaga. A título de comparação, um dos cursos mais concorridos do País, o de medicina na Unesp, teve 266,2 candidatos para cada vaga em 2017. Para a gerente sênior de talentos da Souza Cruz, Marina Castro, a remuneração oferecida é compatível com o nível de cobrança e responsabilidade exigidos. "Não é só a remuneração que faz o programa ser diferenciado. Eles assumem desafios, desde o primeiro dia." Também para comparar, uma pesquisa da plataforma interativa Love Mondays, que avalia empresa, indica que o salário médio para trainees oscila entre R$ 4,6 mil para o setor de bens de consumo e R$ 2,4 mil em serviços. Os demais setores ficam em faixas intermediárias. O pacote não deve, no entanto, guiar os jovens profissionais na escolha de um programa. "A remuneração é o atributo que os jovens menos deveriam observar", ressalta a sócia e diretora de recrutamento da consultoria MatchBox, Flávia Queiroz. "Eles recebem um tratamento diferenciado porque as empresas esperam resultado diferenciado. Por isso, os jovens precisam avaliar qual empresa e área se identificam, entender o segmento de mercado e conhecer os pontos fracos e fortes da cultura organizacional." Na avaliação da CEO da Love Mondays, Luciana Caletti, a identificação com a cultura corporativa é fundamental para o profissional apresentar bom desempenho e galgar oportunidades. "Esses programas são só o começo do desafio na carreira desses jovens. Eles precisam saber onde querem chegar e qual é a propensão de crescimento." Turbo. Formar líderes aptos a cargos de gestão, como Clara, é um dos principais objetivos dos programas de trainee. Segundo a consultoria de recrutamento Page Talent, 70% dos programas são formulados para formar gerentes e 30% profissionais de cunho técnico. A ascensão para cargos gerenciais ocorre em até cinco anos após o programa. Em comparação, um profissional leva em média o dobro desse período para atingir o mesmo status. Isso se deve à exposição a distintas áreas de negócio e à prioridade nas promoções. O rápido desenvolvimento e a aceleração na carreira levaram Matheus Santana, 23 anos, a investir em um segundo programa de trainee. O jovem administrador de empresas ingressou na consultoria PWC e, em seguida, na Ambev. "Em dez meses, conheci toda a companhia, desde o processo produtivo até a reunião de estratégia com o vice-presidente." Na Ambev, o salário inicial para um trainee é de R$ 6,1 mil. Hoje, gerente de vendas em Brasília, Santana foi promovido a gestor apenas seis meses depois do programa. O objetivo de formar futuros líderes é atribuído pela diretora de desenvolvimento e gente da cervejaria Ambev, Camilla Tabet, como o motivo para expor os trainees a uma visão geral da organização. "Eles têm contato com as lideranças de cada setor, que compartilham seus conhecimentos e experiências com os candidatos selecionados", diz. A Gerdau resolveu mudar o foco do programa de trainee quando percebeu que perdia talentos treinados para outras empresas. O novo programa, batizado de Gmaker, recruta profissionais com até cinco anos de experiência e perfil protagonista, inovador e colaborativista. Os salários atingem R$ 10 mil e a concorrência supera 1 mil candidatos por vaga. Segundo a gerente de RH da siderúrgica, Caroline Carpenedo, 92% dos jovens continuam na empresa. Gerentes de departamentos de recursos humanos e de consultorias de recrutamento listam os principais atributos que as empresas mais procuram em um ?supertrainee?: proatividade, criatividade, resiliência e espírito de equipe. Também costumam pesar positivamente uma boa formação acadêmica, saber línguas estrangeiras e ter experiência profissional na área. Outros diferenciais são trabalho voluntário, projetos pessoais, liderança de organizações na universidade e intercâmbios. Para ter acesso aos programas de formação nas empresas, é preciso enfrentar uma concorrência muito mais acirrada do que um vestibular de Medicina em universidade pública. Nos trainees, as inscrições podem atingir 35 mil candidatos, a depender da empresa. E as vagas variam entre dez e 50, no máximo. Gerente de RH da IBM, Rafael Kuhl, afirma que o trainee pode ser a porta de entrada para uma carreira. "O jovem ganha reconhecimento e relacionamento", afirma. Já a empresa ganha sangue novo e vínculo com os futuros líderes. Segundo o gestor, mesmo que deixem a empresa para novos postos, esses ex-trainees ainda terão uma relação afetiva com a companhia em que aprenderam tudo. Por isso, Kuhl recomenda que o jovem desenvolva autoconhecimento para escolher a dedo onde quer trabalhar. "Precisa ser o lugar que a pessoa escolheu, não aquele que sobrou", opina. "Precisamos de pessoas com vontade de aprender. Se você não se move nem redefine seus estilos, esse não é o perfil de profissional que buscamos", afirma. A coordenadora de atração de talentos da Riachuelo, Luciana Medeiros, concorda. "É um investimento a longo prazo para a empresa." Na Riachuelo, cerca de 80% dos gerentes da empresa são oriundos de seus programas anuais de trainee.

Estadão
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