Vendas do comércio varejista caem 0,2% em maio, e resultado fica abaixo do esperado
Número coincidiu com piso das estimativas dos analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast, cujo teto era uma alta de 1,2%, com mediana positiva de 0,2%
RIO - O comércio varejista voltou a sinalizar perda de fôlego em maio. As vendas caíram 0,2% em relação a abril, após já terem diminuído 0,3% no mês imediatamente anterior. Os dados são da Pesquisa Mensal de Comércio, divulgados nesta terça-feira, 8, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado de maio ficou em linha com as estimativas mais pessimistas dos analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast, que esperavam uma alta mediana de 0,2%. Quanto ao varejo ampliado — que inclui as atividades de material de construção, veículos e atacado alimentício —, as vendas subiram 0,3% em maio ante abril, desempenho também próximo ao piso das previsões, que apontavam uma expansão mediana de 1,0%.
A expectativa é de desaceleração no ritmo de crescimento do varejo à frente, refletindo a retirada dos estímulos fiscais e de crédito, além dos efeitos ainda presentes da inflação e dos juros elevados, estimou o economista Igor Cadilhac, do banco PicPay.
"Apesar desse cenário mais desafiador, projetamos que a perda de dinamismo será relativamente moderada", ponderou Cadilhac. "Fatores como o mercado de trabalho aquecido e a massa salarial ainda robusta devem continuar sustentando o consumo das famílias", acrescentou o economista, que estima expansão de 2% para o varejo no ano de 2025.
O economista-chefe da G5 Partners, Luis Otávio Leal, considera relevante a segunda surpresa negativa em sequência com o resultado das vendas do varejo ampliado em maio, visto que é o segmento mais importante para o cálculo do Produto Interno Bruto (PIB). Contudo, ele pondera que o setor atingiu o maior patamar da série histórica em março, sendo natural algum tipo de acomodação na margem.
Leal diz que é preciso aguardar mais dados para confirmar se o varejo ampliado está, realmente, em processo de desaceleração mais forte do que o previsto. "Por ora, a expectativa é de perda de ritmo gradual do setor e da economia brasileira como um todo", afirmou.
A queda no varejo em maio é efeito de uma base de comparação elevada, uma vez que o avanço de 0,8% nas vendas em março ante fevereiro não foi uma alta qualquer, mas sim o topo da série histórica iniciada em 2000, avaliou Cristiano Santos, gerente da pesquisa do IBGE.
"O pico da série está em março, então claro que é muito mais difícil crescer quando você já tem uma base alta. Então tem um efeito base", afirmou Santos, acrescentando que as últimas duas taxas negativas ficaram próximas da estabilidade. "É o segundo mês consecutivo com um dado muito próximo de zero, mas esse resultado muito próximo de zero tem viés negativo pelo segundo mês consecutivo", reconheceu.
Em maio, o comércio varejista operava apenas 0,5% abaixo do patamar recorde de vendas alcançado no mês de março de 2025. O varejo ampliado estava 1,6% aquém do pico também registrado em março deste ano.
No desempenho das vendas em maio, houve impacto negativo da concessão de crédito a pessoas físicas, sob influência da elevação na taxa de juros, citou Santos. Por outro lado, pressões inflacionárias arrefeceram nos últimos dois meses, influenciando positivamente o varejo, assim como a massa de renda ainda em crescimento, completou.
Houve disseminação de resultados positivos no mês entre as atividades investigadas. Cinco dos oito segmentos varejistas registraram expansão nas vendas: equipamentos de informática e comunicação (3,0%), móveis e eletrodomésticos (2,0%), artigos farmacêuticos e de perfumaria (1,7%), vestuário e calçados (1,1%) e supermercados (0,4%).
Segundo o pesquisador do IBGE, a trégua do dólar beneficiou, sobretudo, a atividade de equipamentos de informática e comunicação, mas teve resquícios positivos também na parte de vestuário e calçados importados e alguns artigos farmacêuticos. Já o Dia das Mães neste ano não se traduziu em impacto expressivo nas vendas do varejo.
"O Dia das Mães acaba não tendo impacto muito forte. A gente entende que essa é uma data importante, mas não houve uma movimentação nos dados com impacto expressivo", disse Santos.
Quanto ao bom desempenho de artigos farmacêuticos, ele menciona que o setor tem exibido novo ano de crescimento, apoiado também numa expansão "constante do número de estabelecimentos", de farmácias. "Isso continua acontecendo no ano de 2025", contou.
O segmento de artigos farmacêuticos operava em maio em patamar recorde na série histórica da pesquisa, assim como o de supermercados. Ambas as atividades têm dado sustentação às vendas no varejo próximas ao pico histórico.
"Em alguns momentos também ajudando a acelerar e chegar no topo, e depois também tendo esse efeito âncora e segurando esse indicador em patamar elevado", confirmou Santos.
Na direção oposta, a queda de 1,7% no volume vendido de combustíveis ajudou a manter o comércio varejista no negativo na passagem de abril para maio. O setor já tinha encolhido nos dois meses anteriores, março (-1,0%) e abril (-1,6%), impactado pelo fechamento de postos de combustíveis na região Sudeste, justificou Cristiano Santos.
"A gente tem trajetória de queda nos últimos três meses para combustíveis e lubrificantes. Essa queda é basicamente de combustíveis, e tem ali um componente também de troca de algumas bandeiras (de postos)", disse Santos. "Alguns postos já tinham fechado, isso também diminui o volume (de vendas)."
Também registraram perdas em maio ante abril as atividades de outros artigos de uso pessoal e doméstico (-2,1%) e livros e papelaria (-2,0%).
No varejo ampliado, veículos cresceram 1,5% em maio ante abril, material de construção apresentou estabilidade (0,0%) e o atacado alimentício não teve as informações divulgadas, por ter uma série histórica ainda curta para a metodologia de dessazonalização.
Na comparação com maio de 2024, as vendas do varejo tiveram alta de 2,1% em maio de 2025. No varejo ampliado, houve expansão de 1,1%.