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Tarifaço: Como exportadoras de menor porte estão lidando com a ameaça do governo Trump

Sem lobistas ou 'pai rico', empresas médias buscam antecipar exportações, renegociar com fornecedores e clientes e voltam às planilhas de custos

25 jul 2025 - 17h22
(atualizado às 19h40)
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Nos últimos dez anos, o número de empresas brasileiras que passou a exportar aos EUA cresceu quase 70%. Em 2024, mais de 9,5 mil companhias nacionais venderam produtos e serviços àquele país, com a entrada de quase 4 mil novos fabricantes nesse mercado em uma década, segundo estudo da Amcham (Câmara Americana de Comércio) e do Ministério da Indústria, Desenvolvimento e Comércio (MDIC).

Boa parte dessas empresas não faz parte de grandes corporações. Em sua maioria, são fabricantes e prestadores de serviço de médio porte que investem por anos a fio para conquistar a confiança dos clientes, num dos mercados de consumo mais disputado do mundo.

Sem "pai rico" ou com limitações de acesso a grupos organizados que defendam seus interesses, essas companhias ficaram sem interlocução — a não ser a do governo brasileiro — para negociar junto aos EUA, que ameaça impor tarifa de 50% a todos os produtos fabricados no Brasil, a partir de 1º de agosto.

Na prática, começaram uma corrida contra o tempo. Treinados graças às muitas adversidades que enfrentam no Brasil cotidianamente, têm negociado com clientes e fornecedores, antecipado exportações, refeito planilhas de custos e planos, apesar do cenário incerto.

"Estamos encarando o tarifaço como outros desafios que já superamos", diz André Rezende, fundador e CEO da Prática Produtos, fabricante de equipamentos para cozinhas industriais, restaurantes e panificadoras. "Na época da crise energética, aumentamos nossa linha de produtos, na pandemia, buscamos novos mercados, e agora também estamos indo atrás de soluções."

Fundada há 34 anos por Rezende, a Prática chegou aos EUA há exatamente uma década. Hoje, o mercado norte-americano responde por 10% do faturamento anual de cerca de R$ 400 milhões e por 30% das exportações. A empresa tem uma filial em Dallas, na qual emprega dez funcionários, sendo a maioria americanos - só dois são brasileiros.

Rezende estima ter investido US$ 4 milhões nessa conquista da América, usados em estrutura física, certificações e uma série de requisitos a serem cumpridos para estar naquele mercado. Além dos EUA, a empresa tem filiais no Chile e na Alemanha e vende para 40 países.

"Pagamos dez anos de pedágio para estar nos EUA", diz ele. "Independentemente de qualquer contingência, o mercado americano é vigoroso e as oportunidades são imensas: não dá para abrir mão de estar lá."

Já a Mecalor, que faz equipamentos industriais para operações com temperatura e umidade controladas, começou a trilhar caminho parecido com o da Prática há cerca de três anos. Com operações no México, na Colômbia e nos EUA, a empresa exporta para mais de 25 países e se preparava para crescer com mais força nos próximos anos no mercado norte-americano. Tem 500 funcionários, sendo 450 no Brasil e fábrica na zona Norte de São Paulo.

Hoje, cerca de 20% de sua receita de R$ 450 milhões vêm de exportações, sendo 1,5% proveniente dos EUA. Até a majoração das tarifas ser anunciada, o plano era dobrar receita e exportações aos EUA em cinco anos. George Szegö, CEO da Mecalor, estima ter investido R$ 10 milhões em três anos, em testes, certificações e montagem de sua estrutura nos EUA.

"Entramos aos poucos para controlar riscos e porque a competição nos EUA é muito grande, mas conseguimos obter certificações e atender a exigências legais bastante rígidas daquele país", diz Szegö. "Como temos capacidade produtiva no Brasil, nossa ideia era aumentar as exportações nos próximos anos, até ter certeza de que valeria um investimento maior naquele país ou no México."

Mesmo com as perspectivas desfavoráveis, a Mecalor não abandonou os planos de crescer nos EUA. Com equipamentos feitos sob medida para grandes indústrias, hospitais e farmacêuticas, a empresa não teve como antecipar encomendas.

Nos EUA, seus produtos são usados em fábricas operadas por robôs nas quais é necessário ter controle preciso de umidade e temperatura. Também numa fabricante de embalagens, durante o processo de resfriamento dos frascos, em câmaras de validação de choque térmico na indústria automotiva e em equipamentos da área diagnóstica.

"Somos líderes no Brasil, e os EUA são de oito a dez vezes maiores do que o mercado brasileiro inteiro", diz Szegö. "Além disso, ao estar lá, desenvolvemos novas expertises e buscamos o estado da arte em nossa área, que acaba sendo trazido de volta para o Brasil."

Segundo ele, o País tem vocação para produzir máquinas e equipamentos com tecnologia - e o mercado externo é essencial para manter essa engrenagem em funcionamento. "No ano passado, o segmento encolheu por conta das condições conjunturais no Brasil, e a exportação ajudou a minimizar esse efeito", diz ele. "Estamos otimistas e podemos continuar crescendo, mas o momento é de cautela."

Estadão
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