PUBLICIDADE

Produtores de grãos dos EUA apertam os cintos e cortam gastos para competir com América do Sul

26 out 2017 - 15h54
(atualizado às 16h21)
Compartilhar
Exibir comentários

Quando o produtor do Kansas Tom Giessel passou com sua colheitadeira por cima de uma carcaça de um cervo e furou seu pneu durante a colheita neste outono (no Hemisfério Norte), ele não teve o tempo ou dinheiro para consertá-lo. Ele pegou emprestado o trator de seu vizinho para terminar o trabalho.

Silos de grãos são vistos em propriedade em Morocco, Indiana
13/9/2016 REUTERS/Jim Young
Silos de grãos são vistos em propriedade em Morocco, Indiana 13/9/2016 REUTERS/Jim Young
Foto: Reuters

Produtores dos Estados Unidos estão cortando gastos do jeito que podem para competir com produtores com menores custos da Argentina e do Brasil. Quatro anos de excedentes globais pressionaram as cotações dos grãos, reduziram as receitas agrícolas e colocaram produtores com mais custos sob pressão financeira.

Em resposta, produtores dos EUA compraram sementes mais baratas, gastaram menos em fertilizantes e adiaram compras de equipamentos enquanto buscam atravessar a crise. Mas previsões de mais colheitas recordes e crescentes preços de energia anunciam outro ano difícil para produtores em 2018.

"A coisa lógica a se fazer é parar de produzir", disse Giessel, de 64 anos, que cultiva cerca de 5 mil acres e trabalhou com isso ao longo de toda sua vida adulta.

Giessel cortou gastos naquilo que pode controlar — sementes, químicos, fertilizantes, terras arrendadas — e gastou quase todas suas economias. Ele poderá perder até 93 dólares por acre, ou quase 15 mil dólares, em apenas uma plantação de milho neste ano.

"Minha 'burn rate' (valor gasto para bancar a operação) está pegando fogo. E eu não sou diferente de ninguém lá fora", disse Giessel.

Alguns produtores tiveram que vender ativos para se manterem. Outros tiveram que declarar falência.

Produtores dos EUA sofreram um outro abalo neste ano em função dos crescentes custos de mão de obra, combustível e eletricidade. Esses custos juntos correspondem a cerca de 14,5 por cento dos gastos totais e estão completamente fora do controle de produtores. As despesas com juros também aumentaram, já que os bancos restringiram o crédito ao setor agrícola.

A expectativa é que esses itens elevem os custos totais em até 1,3 por cento em 2017, que deve ser o primeiro ano desde 2014 em que produtores não conseguirão reduzir os custos totais.

Produtores cortaram 40,20 bilhões de dólares para reduzir os custos totais para 350,49 bilhões de dólares entre 2014 e 2016, segundo dados do Serviço de Pesquisa Econômica do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês).

A retração nos gastos abalou fabricantes de equipamentos agrícolas.

Vendas na divisão agrícola da Deere & Co e CNH Industrial caíram acentuadamente durante 2015 e 2016. A Deere espera que as vendas de equipamentos agrícolas nos Estados Unidos e Canadá caiam outros 5 por cento neste ano, e a CNH disse em julho que as vendas na América do Norte estavam menores.

PREÇOS E PRODUTIVIDADE DA SAFRA

A queda nos preços da safra superaram os cortes que produtores fizeram nos gastos.

Os futuros do milho caíram cerca de 12 por cento durante 2017 ante as médias de 2014, enquanto os preços da soja estão 17 por cento abaixo e os do trigo recuaram 24 por cento.

Produtores estão buscando maiores produtividades por meio de sementes melhores e tecnologia de pesticidas para poderem competir com seus pares na América Latina e em outros locais. Mas eles estão lutando para conseguir comprar as mais recentes e caras variedades no momento em que apertam os cintos.

Economizar dinheiro em aquisições de capital é uma coisa. Mas cortes a insumos agrícolas — desde reduzir quantas sementes serão plantadas a cortar o uso de fertilizantes — podem prejudicar a produtividade, dizem produtores.

David Miller, que cultiva milho e soja em 500 acres no sul do Iowa, economizou cerca de 8 dólares por acre para a oleaginosa e cerca de 20 dólares por acre para o milho ao usar sementes mais baratas.

O risco é o de produzir uma safra menor. Somando-se à essa preocupação: após um verão seco, ele espera que sua pior lavoura de soja produza cerca de 20 bushels por acre, 65 por cento abaixo da média estadual.

Mesmo com os cortes, produtores dos EUA ainda estão gastando mais por acre do que seus concorrentes na América Latina.

Na Argentina, o milho deverá custar pouco menos de 200 dólares por acre na safra 2017/18, segundo Ezequiel de Freijo, analista no Instituto de Estudos Econômicos da associação agrícola Sociedad Rural, bem abaixo dos 310 dólares por acre vistos nos Estados Unidos em 2016.

Produtores de soja no país latino-americano estão gastando cerca de 115 dólares por acre, ante cerca de 163 dólares nos Estados Unidos durante 2016.

Os custos menores ajudaram produtores latino-americanos a tirar participação de mercado de seus concorrentes nos Estados Unidos. O Brasil e Argentina, juntos, deverão capturar quase 42 por cento do mercado global de exportação de milho na safra 2017/18, ante 38 por cento em 2014/15.

Durante o mesmo período, os Estados Unidos viram sua participação nas exportações globais de milho cair para aproximadamente 31 por cento do mercado, ante 33,5 por cento.

Produtores latino-americanos, assim como seus iguais no norte, também estão buscando modos de reduzir custos para impulsionar suas margens e tirar mais do mercado global de seus concorrentes.

"Estamos reduzindo o uso de fertilizantes, por exemplo" disse José Fernandes, que cultiva 400 hectares, ou quase 1.000 acres, de soja no maior Estado produtor do Brasil, Mato Grosso.

"Estamos 'queimando gordura' há um bom tempo aqui nos custos."

Reuters Reuters - Esta publicação inclusive informação e dados são de propriedade intelectual de Reuters. Fica expresamente proibido seu uso ou de seu nome sem a prévia autorização de Reuters. Todos os direitos reservados.
Compartilhar
TAGS
Publicidade
Publicidade