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'País gastou mais, tudo bem. Mas que pare por aí', diz Abilio Diniz

Empresário e presidente da Península Participações acha exageradas as críticas à economia, mas pede ao governo 'estabilidade e clareza'

28 out 2021 - 05h11
(atualizado às 05h25)
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O importante, no sofrido Brasil de hoje, não são os R$ 30 bilhões destinados ao Auxilio Brasil. E, sim, o governo deixar claro que esta retirada, além do teto de gastos, pare por aí. "Que não seja uma porta aberta..." É nesses termos que Abilio Diniz vê a situação da atual política econômica. Falar "em caos ou catástrofe, como tantos estão fazendo", lhe parece exagero. Entretanto, o empresário admite que coisas essenciais têm de ser recuperadas - em especial a capacidade de investir.

Nesta entrevista a Cenários, Diniz, presidente da Península Participações, pede estabilidade, clareza, confiança. E critica projeções feitas sobre possível recessão. Aqui vão trechos da conversa.

O Brasil e o mundo vivem hoje uma crise econômica, e muitos acham que vem por aí uma realidade bem diferente. Consegue prever algo para frente?

Não vejo o Brasil desse jeito, acho que temos de ser um pouco mais condescendentes e não ficar olhando só para o retrovisor. Nosso PIB caiu 4,1% no ano passado, número igual ao dos Estados Unidos. A Europa caiu entre 9% e 10%. Este ano vamos crescer 5% em cima de uma base que não caiu tanto. Então, dizer que estamos "numa crise monumental", não é bem assim. Vivemos uma certa incerteza, e o que precisamos é de estabilidade e clareza. Temos instituições fortes e precisamos é ter mais confiança no País.

A crise é mais política do que econômica? É de comunicação, com as redes sociais a cada hora espalhando uma coisa diferente?

Estamos vindo de uma pandemia brutal, que assolou o mundo inteiro, e aumentamos muito o número de desempregados. Mas já voltamos a gerar emprego, voltamos a entrar numa estabilidade na economia. O que está faltando é mais serenidade e tranquilidade.

E quem pode trazer isso?

Todos nós. Primeiro os governantes - Executivo, Legislativo e Judiciário -, e depois nós mesmos, a mídia também ajudando. Por exemplo, essa onda agora de catastrofismo que assolou o Brasil - "ah, estourou o teto de gastos, o Brasil vai acabar, não tem mais jeito..." É uma crise criada, o anúncio de um caos que não existe. Primeiro, não estourou o teto de gastos. Foi feita alguma coisa além desse teto. Se olhar o quanto esse número impacta a relação dívida-PIB, isso que foi feito agora para atender os vulneráveis, os que mais precisam... Não vai acontecer nada com o nosso País. O importante é que essa retirada do teto de gastos pare por aí. Que não seja uma porta aberta para continuar, pois aí ninguém realmente sabe onde irá parar.

Essa é a questão, não é? Como controlar isso? Os EUA derramaram trilhões na economia interna, e ninguém gritou por lá. Aqui se grita porque não se sabe qual é o limite?

Não é só por isso. Os EUA têm orçamento, eles não têm um teto rígido como o nosso. Aqui pusemos R$ 700 bilhões além do permitido. E o que está sendo dado agora é algo ao redor de R$ 30 bi. Não é isso que vai desestabilizar a economia. Nós precisamos é de um pouco mais de clareza nas coisas. O governo precisa declarar, tanto o presidente da República quanto o da Câmara: "Olha, acabou, não vai ter mais nada além disso".

Isso poderia ao menos diminuir a confusão.

E a gente precisa parar de fazer barulho, pois tem muito barulho em torno disso. Agora, temos nos debatido ultimamente com a inflação, e uma das coisas que mais pressionam para a inflação é a taxa de câmbio. E como a taxa de câmbio pode cair? Não é por ato do Banco Central, é por confiança no País. O dinheiro só está saindo, não tem voltado. Veja, o Brasil tem tudo para chegar aos 5% de crescimento este ano e já tem gente fazendo prognóstico de 0,5% negativo no ano que vem. Acho uma temeridade se falar uma coisa desse tipo.

Para ter investimento precisa de confiança, não é?

Precisamos de investimento, sem ele não se cresce. Na hora em que dermos confiança política e segurança jurídica, virá muito dinheiro de fora. Acho que isso pode ser reconquistado. Tem muito dinheiro no mundo que precisa de ter lugar para investir.

Em quais setores a Península, no Brasil de hoje, está de olho?

A Península é uma empresa de investimento, certo? Abrimos uma gestora, a 03 Capital no meio do ano também para investidores externos. E ela vai muito bem. Há dois campos que olhamos com muita atenção, os da educação e da saúde. O campo dos cuidados pessoais também olhamos. Na educação, há muita coisa a ser feita e na saúde, mais ainda.

Na saúde, o que está sendo feito?

Veja só, a gente tem uma tendência para desvalorizar nosso País. Olha o baile que o SUS deu. Começamos a ter grande quantidade de vacinas mais tarde, e veja a quantidade que já vacinamos. É fantástico. Temos que nos queixar do que não está bom, mas temos de ver qual é a nossa parte, o que podemos fazer para ajudar. Como empresário, a coisa que eu mais posso fazer é tocar bem a empresa e gerar emprego. Gerar emprego é o mais importante que podemos fazer no Brasil.

Estadão
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