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"O diesel não tem mais salvação"

28 jul 2017 - 16h17
(atualizado às 16h30)
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Escândalos envolvendo montadoras alemãs vêm colocando o diesel nas manchetes do país. Em entrevista à DW, especialista afirma que é preciso abandonar o uso do combustível e abrir o caminho para carros elétricos.

O diesel, combustível mais usado na Alemanha, vem ocupando as manchetes do país nos últimos dois anos. Tudo começou com o escândalo dieselgate, da Volkswagen, após a montadora usar um software para reduzir emissões apenas quando carros a diesel estavam em testes pelas autoridades. Neste mês, veio à tona que a Daimler teria cometido fraude semelhante.

Nesta sexta-feira, um tribunal de Stuttgart, no sul da Alemanha, abriu caminho para uma possível proibição da circulação de veículos movidos a diesel na cidade, capital do estado de Baden-Württemberg.

A decisão foi anunciada a poucos dias da chamada "cúpula do diesel", organizada pelo governo federal da Alemanha e que será realizada em Berlim em 2 de agosto. O objetivo é debater alternativas à proibição de circulação de veículos para reduzir a poluição.

Altamente poluente, diesel é o combustível mais usado na Alemanha
Altamente poluente, diesel é o combustível mais usado na Alemanha
Foto: Deutsche Welle

Para Ferdinand Dudenhöffer, diretor do centro de pesquisa automotiva (CAR) da Universidade de Duisburg-Essen, a "cúpula do diesel" será mais voltada para o passado do que para o futuro.

"Pelo que parece, vai ser mais uma cúpula de reparos, com jeitinhos e arranjos. Na qual vai se tentar contornar a proibição de conduzir nas cidades com uma leve alteração de software", disse em entrevista à DW.

"Um encontro rumo ao futuro seria aquele em que se anunciasse a desistência do diesel", afirmou, apontando que o combustível "não tem mais salvação" e é um peso para a indústria automobilística.

Deutsche Welle: Níveis de consumo manipulados em carros novos, fraudes na medição de gases de combustão e, agora, a suspeita de cartéis: estamos vivenciando o início do fim de uma indústria-chave alemã?

Ferdinand Dudenhöffer: Parece que atualmente a própria indústria automobilística alemã está se corroendo. Nos últimos dois anos, toda semana há más notícias: buscas do Ministério Público na Porsche, Mercedes, Audi, Volks. Emissões de diesel que possivelmente não permitam mais que os motoristas conduzam através das cidades. Leis aprovadas com lacunas, fraudes. A situação parece estar bem ruim.

A indústria automotiva alemã precisa mudar rapidamente de direção. Para tal, esta cúpula do diesel na próxima semana pode ajudar - com a condição de se tratar de uma verdadeira cúpula e não se tentar chegar a nenhuma solução de reparo para veículos a diesel, com novas atualizações de software, mas olhando para o futuro.

Como foi anunciado, por exemplo, nesta semana pelo Reino Unido, que da mesma forma que a França divulgou o fim do motor a combustão. É preciso que se anuncie a desistência do diesel, pois o diesel não tem mais salvação. Em vez de apoiar a indústria, o combustível é um peso para o setor.

Num futuro previsível, nenhum carro com motor a combustão deverá ser licenciado mais no Reino Unido. Qual a sua opinião sobre medidas desse tipo?

É bom e correto que, no longo prazo, a política emita os sinais certos. Até 2040 restam ainda mais que 20 anos. É possível fazer a transição de forma racional. É melhor do que agir com pressa.

Precisamos trocar a mobilidade causadora de CO2 por uma mobilidade livre do gás tóxico, precisamos tornar as nossas cidades mais habitáveis - para tal precisamos do carro elétrico. Por isso, é bom que já se diga hoje quando se vai desistir, e não fazer de conta que o diesel vai continuar sendo usado para sempre.

Aparentemente, a meta de Angela Merkel de se chegar a um milhão de carros elétricos até 2020 já fracassou. Com vista ao encontro de cúpula sobre o diesel na próxima semana, medidas do tipo seriam um modelo para a Alemanha?

Seria um grande modelo se o encontro da próxima semana for uma cúpula honesta. Mas, pelo que parece, vai ser mais uma cúpula de reparos, com jeitinhos e arranjos. Na qual vai se tentar contornar a proibição de conduzir nas cidades com uma leve alteração de software. E essa modificação vai ser gratuita.

A chanceler federal da Alemanha almeja uma eleição legislativa tranquila, esse é o principal objetivo da cúpula. Por esse motivo, esse encontro retrógrado é uma cúpula voltada para o passado.

Um encontro rumo ao futuro seria aquele em que se anunciasse a desistência do diesel, em que se comunicasse que se passaria a taxar os carros a diesel da mesma forma que os automóveis a gasolina e que se destinaria esse dinheiro para ampliar a infraestrutura de recarga.

Uma cúpula voltada para o futuro seria aquela em que se emitisse um claro sinal aos empresários sobre a partir de quando somente carros elétricos seriam licenciados, como na Noruega, França e no Reino Unido.

Mas não seria hora de se pensar em outros conceitos de mobilidade: no transporte público, no transporte de longa distância por via férrea, através de novas redes de transporte intermodal?

Isso já está sendo feito. Os diferentes modos de transportes já se conectam um pouco. Mas essa velha história "das ruas para os trilhos", por exemplo, com o transporte de cargas, já é contada há 50 anos. Mas contar histórias durante meio século não nos ajuda.

Além da eletromobilidade, também estamos entrando na era dos carros de direção autônoma ou semiautônoma. E aí as redes de conexão são infinitamente fáceis, infinitamente simples. Automóveis que circulam como táxis, mas muito mais baratos. Esse é um modelo de futuro. E eles estão 100% conectados com ônibus e trens.

Mas, para tal, é preciso que se pense no futuro do trem e das empresas de ônibus. Hoje, tem-se medo de perder uma conexão de trem, porque as portas não abrem; por causa de atrasos devido a chuvas. Ou seja, é preciso que o sistema ferroviário seja mais confiável, e, então, vamos conseguir.

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