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Harley-Davidson culpa tarifas europeias e deve tirar parte da produção dos EUA

Fabricante de motocicletas deve transferir parte da produção para o exterior para evitar tarifas retaliatórias da União Europeia

25 jun 2018 - 19h37
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A Harley-Davidson informou nesta segunda-feira que vai mudar parte da sua produção das suas icônicas motocicletas para o exterior e assim evitar as tarifas retaliatórias da União Europeia em resposta às medidas adotadas pelo presidente Donald Trump.

A decisão anunciada é o mais recente e mais notório exemplo de como a guerra comercial lançada por Trump começa a se propagar pela economia americana à medida que as empresas domésticas se vêem às voltas com uma cascata de tarifas, internas e externas. Embora Trump afirme que sua política comercial tem por objetivo reviver o setor de manufatura americano, a decisão da Harley-Davidson mostra como as medidas do governo podem ter o efeito inesperado de reduzir o emprego nos Estados Unidos e estancar o crescimento da economia.

Na semana passada a União Europeia revidou contra as tarifas impostas por Trump sobre o aço e o alumínio com penalidades sobre o equivalente a US$ 3,2 bilhões de produtos dos Estados Unidos, incluindo o uísque americano, suco de laranja, cartas de baralho e as motos Harley-Davidson. Na segunda-feira a companhia com em Wisconsin declarou que as tarifas impostas pelos europeus sobre suas motocicletas aumentaram de 6% para 31%, o que levará a uma aumento de US$2.200 em média do valor de cada moto exportada dos Estados Unidos para o bloco europeu. Em vez de transferir esse custo, a companhia mudará a produção para fábricas no exterior de modo a evitar as tarifas européias.

"Achamos que o tremendo aumento de custos, se o passarmos para nossas concessionárias e clientes, terá um efeito nocivo imediato e duradouro para os negócios da companhia na região, reduzindo o acesso do consumidor aos produtos Harley-Davidson e impactando negativamente a sustentabilidade das suas concessionárias", informou a companhia em seu registro.

A decisão da empresa tem um enorme significado diante da freqüente defesa por parte de Trump da companhia de Wisconsin qualificando-a como um ícone americano e uma fabricante de sucesso dos Estados Unidos que vem gerando empregos no país. Trump recebeu executivos da Harley-Davidson na Casa Branca em fevereiro de 2017, quando afirmou que a companhia é "um verdadeiro ícone americano" e agradeceu por ela estar "criando coisas na América".

Trump criticou outros países, como a Índia, por impor tarifas sobre as motos e no fim de semana ameaçou revidar contra qualquer país que estabelecer "barreiras artificiais contra produtos americanos".

A Harley-Davidson não especificou quantos empregos podem ser transferidos para suas fábricas no exterior. A companhia já produz motos e peças em fábricas na Índia, Brasil, Austrália e Tailândia, mas esclareceu que a mudança levará de nove a 18 meses para estar concluída. A companhia vendeu 40.000 novas motos no ano passado na Europa, o equivalente a um sexto de suas vendas em todo o mundo, o que torna o bloco europeu seu mercado mais importante depois dos Estados Unidos. As ações da empresa caíram mais de 6% no pregão do início da tarde.

"Aumentar a produção internacional para aliviar a carga tarifária da União Europeia não é a opção preferida da companhia, mas é a única medida sustentável para tornar nossos motos acessíveis aos clientes europeus e manter um comércio viável na Europa", declarou a empresa em sua conferência com acionistas.

A mudança da produção para o exterior deve provocar a ira de Donald Trump, que já como candidato publicamente atacou companhias, como a fabricante de aparelhos de ar-condicionado Carrier, que planejava fechar uma fábrica nos Estados Unidos e transferir suas atividades para o México.

Trump foi em frente com seus planos de impor tarifas sobre as importações de aço e alumínio num esforço, segundo afirmou, para que os outros países diminuam suas barreiras comerciais. Mas em vez disto ocorreu o contrário, uma vez que União Europeia, México e Canadá reagiram estabelecendo suas próprias tarifas.

O deputado Paul Ryan, republicano de Wisconsin e presidente da Câmara, afirmou na segunda-feira que a decisão da Harley-Davidson é uma evidência de que o aumento das barreiras comerciais foi uma má idéia.

"É mais uma prova do prejuízo causado por tarifas unilaterais. A melhor maneira de ajudar os trabalhadores americanos é abrir novos mercados para eles e não erigir barreiras ao nosso próprio mercado", disse ele.

Outros setores também manifestaram temor de que as tarifas impostas por Trump e as medidas retaliatórias de outros países serão nocivas para os negócios.

A Mid Continent Nail Corp, fabricante de pregos do Missouri, declarou na semana passada que demitirá a metade dos seus empregados e poderá fechar por causa dos custos mais altos do aço que importa do México. Produtores de uísque dos Estados Unidos também estão inquietos quanto às suas vendas na Europa e alguns, como a Brown-Forman, reagiram enviando mais das suas bebidas para o exterior antes de as tarifas entrarem em vigor.

Chad Bown, membro do Peterson Institute for International Economis, disse esperar que mais empresas sigam o exemplo da Harley-Davidson.

"Isto é incrivelmente contraproducente, Poderá haver um aumento da produção doméstica de aço e alumínio por causa das tarifas, mas agora vamos ter uma produção menor de motocicletas para exportação", afirmou ele.

"Acho que veremos esse mesmo tipo de atividade cada vez que o presidente Trump tentar impor novas tarifas".

Donald Trump não deu nenhum sinal de que vai afrouxar. No Twitter, no domingo, ele ameaçou com novas tarifas ainda mais draconianas. Tradução de Terezinha Martino

Estadão
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