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Galípolo: 'Dizer não para pessoas importantes é uma das funções do presidente do BC'

Durante evento, Galípolo afirmou que se sentiu 'bastante abraçado' pela comunidade de ex-comandantes do Banco Central e chamou de 'privilégio' pode ligar para Armínio Fraga

6 out 2025 - 11h51
(atualizado às 12h06)
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O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou nesta segunda-feira, 6, que faz parte do trabalho da autoridade monetária "dizer não" para algumas pessoas importantes.

"O Banco Central tem acesso a algumas alavancas que colocam ele nessa posição de muitas vezes ter que dizer não para pessoas bastante importantes", afirmou, ao participar de evento na Fundação FHC, em São Paulo.

Ele destacou que se sentiu "bastante abraçado" pela comunidade de ex-presidentes do BC brasileiro. "Vocês não sabem o privilégio que é poder passar a mão no telefone e poder ligar para o Armínio (Fraga, ex-presidente do BC)", disse Galípolo, dirigindo-se ao próprio Armínio, que também estava no evento.

Para Galípolo, política econômica dos Estados Unidos é uma tentativa de resolver o déficit nas transações correntes do país, mas sem que o dólar perca a condição de moeda global
Para Galípolo, política econômica dos Estados Unidos é uma tentativa de resolver o déficit nas transações correntes do país, mas sem que o dólar perca a condição de moeda global
Foto: Wilton Junior/Estadão / Estadão

Na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o Brasil tem "um problema com a taxa de juros". Segundo ele, a Selic "está alta e vamos ter que cuidar para ela baixar um pouco mais". O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve em setembro a taxa básica de juros em 15% ao ano.

No final daquele mês, o presidente do BC afirmou considerar um "luxo" as declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre o andamento da política monetária — e, consequentemente, da taxa básica de juros. O ministro disse que o atual patamar da Selic era "injustificável".

Comando legal

Galípolo reafirmou que o compromisso da autoridade monetária é perseguir a meta de inflação de 3%. "A meta é 3%. De maneira nenhuma foi dada ao Banco Central a liberdade de interpretar diferente esse comando legal. Não é uma sugestão, é um comando legal. A banda (piso e teto da meta de inflação) é feita para absorver choques", afirmou, destacando que a inflação hoje está em 5,1%. "É bastante acima, inclusive, da banda superior", reforçou.

Neste contexto, o banqueiro central mencionou que, de acordo com o boletim Focus, não há convergência das expectativas de inflação para a meta até 2028.

"A partir desse movimento é o que justifica a gente ter colocado a taxa de juros no patamar em que a gente colocou, e temos reiterado que enxergamos esse processo de convergência lenta para a meta. Temos reiterado que vislumbramos uma manutenção da taxa de juros em patamar restritivo por período bastante prolongado", repetiu.

Ao comentar sobre o nível da inflação, ele observou que houve uma "dispersão" da inflação em diversos itens da cesta de consumo. E destacou, por exemplo, os bens industriais, que sofreram pressão por conta da desvalorização do real. "A gente enxerga uma inflação de serviços, e aqueles componentes da inflação que respondem mais ao ciclo econômico, num patamar incompatível com a meta", acrescentou.

Ganho de produtividade

O presidente do Banco Central voltou a afirmar que o mercado de trabalho no Brasil é o mais exuberante das últimas três décadas.

Ao comentar os sinais de que a economia doméstica estava bastante aquecida, Galípolo mencionou o crescimento do déficit em transações correntes do País, que subiu para cerca de 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Neste contexto, disse que os gastos do Brasil em viagens registraram, em julho deste ano, o maior valor desde 2014. "É um cenário bastante de livro-texto, vamos chamar assim, de uma economia que se encontra aquecida", afirmou.

Na avaliação de Galípolo, é preciso reconhecer que o Brasil cresceu acima do seu potencial nos últimos anos. Segundo ele, houve crescimento de produtividade não na economia como um todo, mas algo mais concentrado no setor agropecuário. Ele também mencionou que houve quedas no desemprego, mas que isso pode ser explicado pela queda na taxa de participação.

"Mas, traduzindo de uma maneira menos hermética, a gente está crescendo menos porque teve um aumento da produtividade e mais porque eu coloquei mais insumos de produção para produzir", disse.

Com isso, o presidente do BC pontuou que para o Brasil crescer sem pressões inflacionárias é preciso alcançar ganhos de produtividade. "Uma produtividade que permite termos uma sustentabilidade, uma duração mais longa nesse crescimento. Essas pressões inflacionárias foram o que movimentaram, o que mobilizaram o Banco Central a fazer a elevação de juros que a gente fez", disse.

Política econômica de Trump

O presidente do BC disse que a política econômica do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, é uma tentativa de resolver o déficit nas transações correntes do país, mas sem que o dólar perca a condição de moeda global.

"Países que detêm a sua moeda como moeda internacional costumam ter déficit em transações correntes", disse Galípolo, acrescentando que esse também foi um problema enfrentado pela Inglaterra nas primeiras décadas do século 20.

Na avaliação de Galípolo, porém, a situação atual nos EUA é um pouco mais complexa. Ele citou algumas questões históricas, como a entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC), o que fez com que produtos mais baratos produzidos em países asiáticos passassem a ser consumidos nos EUA.

"O déficit em transações correntes que os Estados Unidos têm é uma forma de subsídio ao consumo das famílias norte-americanas", disse, acrescentando que hoje as relações sociais e econômicas não se dão mais, necessariamente, em um mesmo espaço nacional. "Isso gera uma complexidade mais ampla", apontou.

Nesse contexto, Galípolo destacou que a estratégia adotada por Trump parece a de "confinar" o debate à questão do comércio bilateral, sobretudo entre os países com os quais os EUA têm mais déficit comercial. Essa estratégia, acrescentou Galípolo, parece ter sido a escolhida porque, nessas negociações, os EUA teriam mais poder de barganha e, como já há déficit comercial, teriam também mais a ganhar do que a perder.

Estadão
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