De R$ 3 mil a R$ 10 milhões: CEO de sex shop cria loja após frustração com produtos íntimos em viagem
Natali Gutierrez fundou a Dona Coelha ao sentir a necessidade de saber como os objetos eram usados
A frustração ao usar os primeiros produtos de sexy shop e dar errado levou Natali Gutierrez a criação de um e-commerce de produtos eróticos, que tem previsão de encerrar o ano com R$ 10 milhões em faturamento. Ela e o marido, Renan de Paula --que também é seu sócio na Dona Coelha--, fizeram do limão uma limonada, e há mais de dez anos, ajudam outras mulheres na busca pelo prazer.
Inicialmente, a Dona Coelha surgiu como um blog que fazia reviews de sex toy na web. A ideia de escrever sobre os brinquedos eróticos começou após uma viagem do casal. Na época, eles ainda eram namorados, e Nat comprou vários produtos para aproveitar o momento, mas o fim da história não foi tão prazeroso assim.
“Eu estava louca pra experimentar alguma coisa. E quando eu cheguei lá, eu não lembrava de absolutamente nada do que aquelas coisas faziam. O que usava, como abria, aonde botava, o que lambia, o que chupava, o que tinha, sabia nada. E acabei machucando ele com uma pomada chinesa, e ele ficou super machucado”, relembrou em entrevista ao Terra.
Ainda durante a mesma viagem, Nat chegou a ir a uma sex shop com o companheiro e encontrou um ambiente intimidador e desconfortável. Quem já visitou uma dessas, sabe como pode ser um tanto constrangedor.
“[Pensei] O que eu estou fazendo aqui? Eu só queria um buraco pra me enfiar”. Foi daí que ele entendeu que havia espaço e necessidade de falar sobre isso de uma forma mais descontraída na web. Inclusive, o incentivo veio de Renan.
Mais que um blog de prazer
Há 12 anos, a empreendedora começou a comprar produtos, testar e escrever sobre sua experiência, sozinha e acompanhada. Ela também destaca os modos de uso de cada produto, da maneira mais didática possível, mostrando novas formas de explorar o corpo e o prazer. O marido também contava o lado dele da história.
Várias coisas eram analisadas pelos dois: O que estou introduzindo na minha genitália? Isso pode me causar alguma alergia? Ele causa algum tipo de desconforto ao causar? Quais os tamanhos desses brinquedos? Qual a diferença entre o produto mais barato e o mais caro?.
A experiência era revelada para que esse momento, que é para ser íntimo e prazeroso, não causasse nenhum trauma ou frustração em quem pudesse usá-lo. O despertar da curiosidade sexual e a ascendência do tema ao longo dos anos, sobretudo para as mulheres, --embora o prazer feminino ainda seja tratado como um grande tabu na sociedade--, trouxe a necessidade de vender esses sex toys, já que muitas pessoas não sabiam onde encontrar.
De reviews na web a loja de sucesso
A parceria de Nat e Renan vai muito além dos momentos íntimos que dividem. A loja é encabeçada por ela, e conta com a parceria do marido, que diferente de muitos outros homens, apoia desde o começo a jornada da companheira. Os dois são apaixonados por sexualidade e relacionamento, inclusive, foi ele quem incentivou a primeira compra de um vibrador para ela. Por isso, tudo flui tão bem entre eles e os negócios
A loja Dona Coelha começou com R$ 600, sendo R$ 300 de cada um. No primeiro ano, eles fecharam o faturamento em cerca de R$ 3 mil, só com vendas presenciais. A empreendedora fazia eventos e quando vendia R$ 1 mil no mês, era um grande acontecimento.
Três anos depois, surgiu a loja online, e naquele ano, o fechamento do faturamento foi de R$ 18 mil. Já em 2023, a expectativa é fechar o ano em R$ 10 milhões. “Eu fico muito orgulhosa mesmo, porque nunca tiramos investimento de ninguém. Nunca tiramos acordo de banco, investidor, nada. Então, a Dona Coelha é o maior orgulho e a maior missão da minha vida”, afirmou. orgulhosa.
Percurso
A verdade é que ser mulher e empreendedora não é fácil. Quando se é para o ramo voltado para a sexualidade, isso se torna ainda mais difícil. Além da ‘porta na cara’ que tomou de alguns bancos, e até de corretores para alugar um espaço para alocar a Dona Coelha, Nat também sofreu com o machismo e a objetificação.
Ela relata que já até se masturbaram com ela no telefone durante um atendimento, situações constrangedoras que só quem é mulher sabe o quanto é constrangedor. Falar sobre sexualidade não é um convite para o corpo da mulher, e aquele não é um corpo público. Além disso, a empreendedora também já foi descredibilizada por ser mulher, e seu trabalho ser tido como “fácil”.
“Já passei umas situações bem constrangedoras, de me deixar no fundo do poço. Tento lidar de uma forma menos pessoal hoje, porque acho que às vezes as pessoas só querem alguém para apontar o dedo. As pessoas se sentem no direito de falar qualquer coisa, pelo simples motivo de você trabalhar com sexo, é como se você tivesse aquela frase péssima: ‘você tá pedindo?’ Cara, eu não tô pedindo nada. Nem a tua opinião eu tô pedindo. Mas tem muito homem que não faz metade do que eu faço aqui dentro”, enfatizou.
Garante a qualidade
A marca é uma das pioneiras do ramo no Brasil. Nat começou vendendo produtos terceirizados, que só entravam na loja se fossem aprovados por ela. Essa máxima continua, mas agora, com produtos da linha própria. Na loja, é possível encontrar sugadores, vibradores, dildos, lubrificantes e outros acessórios, e de vários tamanhos, para a hora do prazer.
A loja também preza pela discrição na hora da compra e também da entrega. Na fatura do cartão, por exemplo, o nome que aparece é DC COMERCIO LTDA. As caixas de entrega não chamam a atenção, para não despertar a curiosidade de nenhum vizinho ou porteiro.
Que a Dona Coelha é um sucesso, isso não dá para negar, e mais ainda, a empresa foi construída com muito esforço, mas numa caminhada leve e divertida. Agora, o objetivo da Dona Coelha para 2024 é de fato abrir uma loja física, além de vários lançamentos. Nat resume toda a jornada como desafiadora, mas de muita gratidão.
"É uma mistura de felicidade com orgulho, com gratidão, com desafiadora. Tudo que você pode imaginar. Quantas pessoas hoje se preocupam em falar de sexo de uma forma leve e divertida que eu batelei tanto há tantos anos atrás. Eu não sou uma pessoa de falar ‘eu fiz’, mas me sinto responsável. E ver o resultado disso hoje, de tantas outras mulheres traçando esse mesmo caminho. Quando a gente vai podando ali, você olha pro lado, você não se vê mais sozinha”, completou.