Como os planos de impostos e gastos de Kamala e Trump afetam a dívida dos EUA
A vice-presidente Kamala Harris e o seu adversário republicano Donald Trump têm prometido novos planos de isenções de impostos e de gastos públicos, tentando ganhar votos persuadindo os norte-americanos de que suas ideias serão mais efetivas para aliviar seus fardos financeiros.
As projeções orçamentárias estão tendo dificuldades para acompanhar os ajustes mais recentes, e novas ideias ainda podem ser expressas no debate entre Kamala e Trump nesta terça-feira, mas até agora todas as estimativas mostram que a plataforma de Trump acumulará muito mais dívidas federais.
O ex-presidente diz que planeja estender todos os cortes de impostos que conseguiu aprovar no Congresso em 2017, isentar a Previdência Social e receitas de gorjetas e reduzir ainda mais o imposto de renda das empresas.
Essas mudanças provavelmente acrescentariam de 3,6 trilhões de dólares a 6,6 trilhões de dólares aos déficits primários dos EUA ao longo de 10 anos, de acordo com estimativas individuais e abrangentes publicadas por quatro previsores orçamentários analisadas pela Reuters: o Penn-Wharton Budget Model, o Committee for a Responsible Federal Budget (CRFB), a Tax Foundation e a Oxford Economics.
Os planos de Kamala, que incluem a expansão de um bônus de crédito tributário de 6 mil dólares para recém-nascidos, um crédito tributário de 25 mil dólares para quem estiver comprando imóveis pela primeira vez e nenhum imposto sobre gorjetas, poderiam reduzir os déficits em até 400 bilhões de dólares ou adicionar até 1,4 trilhão a eles ao longo de uma década, segundo os mesmos analistas.
As estimativas baseiam-se na pontuação orçamentária estática e são comparadas com a "linha de base" da lei atual do gabinete orçamentário do Congresso, que já pressupõe um aumento maciço de 22 trilhões de dólares na dívida até 2034.
ANÁLISE CONTÍNUA
As previsões variam consideravelmente dependendo de quais ideias mencionadas na campanha estão incluídas.
As estimativas da dedução fiscal recentemente apresentadas por Kamala, de até 50 mil dólares para custos de abertura de empresas e um imposto sobre ganhos de capital mais baixo do que o proposto pelo presidente norte-americano, Joe Biden, não foram incluídas.
As previsões incluem a proposta de Trump de reduzir o imposto de renda corporativo de 21% para 15%, mas não considera seus comentários mais recentes de que essa taxa seria reservada apenas para empresas que fabricam seus produtos nos Estados Unidos.
"Os pontos de discussão da campanha estão se movendo mais rapidamente do que os modelos orçamentários", disse Shai Akabas, diretor de política econômica do Bipartisan Policy Center. "Acho que estamos vendo, em grande parte, o que já esperávamos nos últimos anos, ou seja, que os candidatos vão colocar suas prioridades políticas populares à frente da responsabilidade fiscal em ambos os lados."
O Congresso precisa aprovar a legislação tributária e de gastos, dificultando que o vencedor da eleição de 5 de novembro alcance suas prioridades se não tiver uma maioria esmagadora tanto no Senado quanto na Câmara.
ABISMO FISCAL DE 2025
O principal diferencial entre Trump e Kamala é como eles abordam a expiração, em 2025, dos cortes de impostos individuais aprovados pelos republicanos durante a presidência de Trump em 2017. Sem uma ação do Congresso, essas alíquotas voltariam a seus níveis anteriores, mais elevados.
Trump prometeu estender permanentemente todos os cortes de impostos que estão expirando, inclusive para os norte-americanos mais ricos, o que, segundo especialistas em impostos e orçamento, reduziria as receitas ao longo de uma década em cerca de 3,3 trilhões de dólares, para 4 trilhões de dólares.
Kamala estenderia os cortes de impostos de 2017 apenas para aqueles que ganham menos de 400 mil dólares, mantendo uma promessa de Biden, mas isso acrescentaria até 2,5 trilhões de dólares a uma agenda de gastos já estimada em 2 trilhões de dólares ao longo de uma década.
Harris apoiou discretamente os quase 5 trilhões de dólares em aumentos de impostos na solicitação orçamentária de Biden para o ano fiscal de 2025, incluindo a taxação de ganhos não realizados de fortunas acima de 100 bilhões de dólares e o aumento da alíquota de impostos corporativos para 28%
Isso causou consternação em Wall Street, mas compensaria substancialmente o custo de seus planos de gastos.
"Acho que a conclusão de que a abordagem de Trump em relação aos impostos é mais voltada para a dívida está correta", disse Steve Rosenthal, membro sênior do Urban-Brookings Tax Policy Center. "Digo isso porque Harris, pelo menos, tem algumas propostas de aumento de receita muito bem desenvolvidas."
Trump não ofereceu nenhum aumento de impostos convencional para compensar seus cortes fiscais estendidos. Outras reduções, incluindo a isenção da renda da Previdência Social, reduziriam a receita em 1,6 trilhão de dólares, estimam o CRFB e a Tax Foundation.
A Tax Foundation, de tendência conservadora, chamou a medida de "insalubre e fiscalmente irresponsável", enfraquecendo a Previdência Social e o Medicare.
Trump disse que seus cortes de impostos seriam pagos com "trilhões de dólares" gerados por um crescimento econômico mais forte, novas tarifas de importação, o fim dos subsídios de Biden para energia limpa e uma nova comissão de eficiência governamental chefiada pelo empresário bilionário e presidente-executivo da Tesla, Elon Musk.