Com investimento de R$ 1,1 bilhão, bets se consolidam como maior patrocinadora do futebol brasileiro
Cerca de 17,7 milhões de brasileiros realizaram apostas esportivas no primeiro semestre de 2025
Para qualquer fã ou observador do futebol brasileiro, é impossível ignorar o fenômeno das bets. As casas de apostas esportivas se tornaram onipresentes, dominando a paisagem do esporte: suas propagandas pulam da tela nos intervalos dos jogos, estampam uniformes de clubes e inundam as redes sociais. Essa massiva exposição não é casual. Desde 2019, as operadoras de apostas se estabeleceram como pilares centrais no investimento do futebol nacional, se transformaram nas patrocinadoras majoritárias de grandes e pequenos times, e assumindo o controle das principais competições do País.
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O levantamento Panorama do Mercado de Apostas de Quota Fixa, desenvolvido pela LCA Consultores Econômicos e pela Cruz Consulting, a pedido do Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR) e da Associação Nacional de Jogos e Loterias (ANJL), aponta que o valor do patrocínio master por temporada dos clubes da Série A do Brasileirão é superior ao montante de R$ 1,1 bilhão.
Até 2018, o cenário era completamente diferente, com as equipes da elite estampando o logo de empresas estatais como, por exemplo, a Caixa Econômica Federal. Com a entrada em vigor da Lei 13.756/2018, o setor de apostas de quota fixa passou a ser regulamentado, e as operadoras começaram a integrar os uniformes dos clubes brasileiros já em 2019, ainda de forma tímida.
Em 2025, 18 dos 20 clubes da Série A contam com apoio master do setor, com as operadoras de apostas representando 90% das instituições patrocinadoras dos times da primeira divisão do Campeonato Brasileiro. O investimento de R$ 1,172 bilhão, segundo a pesquisa, é quatro vezes maior do que no início da década, e equivale a 5 campanhas de título da Libertadores; ou 8 campanhas de título da Copa do Brasil; ou 23 campanhas de título no Brasileirão.
Entre os clubes, os maiores patrocínios são: Flamengo (R$ 268,5 milhões); São Paulo (R$ 113 milhões); Corinthians (R$ 103 milhões); Palmeiras (R$ 100 milhões); Vasco (R$ 70 milhões); Atlético-MG (R$ 60 milhões); Botafogo (R$ 55 milhões); Santos (R$ 52,5 milhões); e Fluminense (R$ 52 milhões).
Risco do mercado de apostas
Fã de carteirinha dos esportes desde que “se conhece por gente”, Breno Fernandes* sempre gostou de acompanhar o seu time de coração, o Grêmio, e a Seleção Brasileira --além das principais competições sul-americanas, europeias e americanas, como a NFL e a NBA--, o que o ajudou a desenvolver um maior entendimento sobre o futebol e algumas táticas utilizadas pelos treinadores dos clubes. Ao perceber que o seu conhecimento no esporte já estava mais bem desenvolvido, Breno então decidiu trilhar um novo caminho: o das apostas esportivas. O que era para ser uma ‘resenha’ e brincadeira entre os amigos, acabou virando uma dor de cabeça que fez o torcedor perder cerca de R$ 80 mil entre 2019 e 2025.
“Quando eu comecei a apostar, eu comecei por brincadeira. Coloca [nas apostas] R$ 50, que era um valor que se eu perdesse não iria me fazer falta. Só que o problema dessa brincadeira é que ela te gera uma ganância e também expectativas de lucro, de algum retorno”, conta Breno. Essa sensação de expectativa, segundo o torcedor, também é impulsionada pelo fato de os apostadores começarem a pensar que existe a possibilidade de uma rentabilidade extra mensal advinda das apostas, em especial quando o apostador conhece e acompanha bastante os clubes.
A frequência de apostas, segundo o entrevistado, costumava ser sazonal, visto que, em alguns meses e competições, ele costumava realizar muitas apostas, enquanto, em outras temporadas, por falta de dinheiro, ele deixava as apostas de lado.
O pico de perda de dinheiro em apostas esportivas, conforme narra Breno, foi durante a Copa do Mundo do Catar de 2022, em específico no jogo entre Brasil e Croácia, no qual a amarelinha disputava uma vaga para a semifinal do Mundial. Naquele fatídico 9 de dezembro, o apostador perdeu R$ 8 mil.
“Eu apostei R$ 4 mil na vitória do Brasil e eu perdi porque o jogo foi para a prorrogação. Depois, eu coloquei mais R$ 2 mil pensando que a Seleção Brasileira iria se classificar no tempo adicional. E, novamente, eu perdi, porque o jogo foi para os pênaltis. E aí eu coloquei mais R$ 2 mil apostando que a classificação viria nas penalidades máximas, e a gente acabou sendo eliminado”, narra.
A inserção no mercado de apostas também trouxe uma nova preocupação para Breno: os empréstimos bancários. Percebendo a gravidade da situação, um dos amigos contatou familiares para que eles pudessem auxiliá-lo de algum modo. Além dos problemas financeiros, o apostador notou algumas mudanças em seu emocional e precisou buscar terapia.
“A sensação de perder, ela é muito maior do que a sensação de ganhar. O mesmo peso de felicidade para quando eu ganho 100% em cima daquilo que eu investi, é a mesma sensação de dor para quando eu perco 10%. E sempre que o apostador perde, ele quer colocar mais [dinheiro] para recuperar o que perdeu”, explica. “É isso que muitas vezes prejudica quem aposta, porque você perde e já começa a procurar outros eventos para tentar recuperar o lucro de maneira rápida.”
Segundo dados divulgados pelo Ministério da Fazenda, cerca de 17,7 milhões de brasileiros realizaram apostas esportivas no primeiro semestre de 2025. Deste total, a maior concentração de apostadores é do sexo masculino, que concentram 71%, enquanto as mulheres concentram 28,9% do número de apostadores. Em média, o gasto mensal do brasileiro com apostas esportivas é de R$ 164, de acordo com a Fazenda. Quando considerado o volume total de apostas no primeiro semestre deste ano, a média de gasto por apostador ativo foi de R$ 983.
*O entrevistado pediu para manter sua identidade preservada.