Brasil pode surfar em cenário global desafiador, mas tem encontro marcado com ajuste nos gastos
É inevitável que em 2027 haja ajuste nas contas públicas, observou Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco, no Summit Imobiliário, na manhã desta segunda-feira, 30
Desde a Segunda Guerra Mundial, o comércio internacional não passava por tantas turbulências, analisa Fernando Honorato, economista-chefe do banco Bradesco. Tudo motivado pelo aumento das tarifas internacionais, capitaneadas pelo republicano Donald Trump, na presidência dos Estados Unidos.
"É um processo que tem forçado empresas a reorganizar suas cadeias produtivas, reduzindo a eficiência econômica global", resume Honorato, um dos palestrantes do Summit Imobiliário, realizado nesta segunda-feira, 30, em São Paulo, dentro do Dia do Mercado Imobiliário Estadão.
Com a dívida americana também cresce, o dólar perde valor fazendo com que os investidores busquem outras economias. Como o mundo corta juros, ao contrário do Brasil, a economia nacional acaba se beneficiando. O real valoriza e ajuda a segurar a inflação. Entre outros motivos, porque as exportações brasileiras dependem mais da China do que dos Estados Unidos.
"O câmbio (no Brasil) chegou a R$ 6,30 no fim do ano passado, mas hoje o real está se apreciando. Poderia estar ainda mais forte", afirma Honorato.
Para o economista, a moeda brasileira pode chegar perto dos R$ 5,00 no fim do ano. A curva de juros futuro também se beneficia. A economia real brasileira, portanto, segue resiliente.
O economista do Bradesco enfatizou que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) superou em oito pontos porcentuais as projeções dos analistas nos últimos cinco anos, puxado sobretudo pelo agronegócio. A taxa de desemprego é a menor da série histórica, apesar das diferenças regionais.
"Essa melhora no mercado de trabalho tem impulsionado o consumo das famílias, que em 2025 deve crescer 4,7% acima da inflação, sustentando setores como o imobiliário, mesmo com a Selic a 15%. A economia real está muito bem."
Apesar da boa performance atual, Honorato alerta que os juros reais elevados devem provocar a desaceleração da economia no País. "Com a Selic nesse patamar, é difícil manter o ritmo atual da economia", disse, apontando que 61% das empresas listadas na B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, não conseguem obter retorno superior ao custo da dívida.
Ainda assim, o economista avalia que o esfriamento da economia permitirá ao Banco Central reduzir a Selic. A projeção do Bradesco é de que ela chegue a 11,75% em 2026, o que daria algum alívio ao setor produtivo.
Ajuste fiscal para evitar colapso
Mas, passadas as eleições presidenciais do ano que vem, vem o ano de ajuste, espera Honorato. Até mesmo o governo atual, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sinaliza que uma reorganização fiscal será inevitável em 2027, sob pena de um estrangulamento total do orçamento.
"A inflação não está fora de controle, apesar de fora da meta. O Brasil não precisa de medidas radicais, mas sim sinalizar que existe um plano para melhorar o resultado primário. Isso pode ajudar a reconquistar a confiança dos investidores e a derrubar a Selic."
Pelos cálculos apresentados por Honorato, se o Brasil tivesse crescido ao ritmo da economia mundial nos últimos 45 anos, o PIB nacional, hoje, poderia ter dobrado.
"Se colocarmos de pé uma agenda crível de médio prazo, é possível replicar um cenário como o de 2016, com inflação sob controle e juros baixos. A oportunidade está dada." Neste cenário, o setor imobiliário e o agronegócio tendem a ser os mais beneficiados.
O Dia do Mercado Imobiliário Estadão tem patrocínio da AW Realty Incorporadora e do QuintoAndar e apoio da CDHU.