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Argentina tem 9º default soberano em meio a intensificação de negociações sobre dívida

22 mai 2020 - 19h29
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A Argentina deixou de fazer nesta sexta-feira pagamentos de cerca de 500 milhões de dólares em cupons de bônus já atrasados, disseram credores e uma agência de classificação de risco, marcando o nono default soberano do país em meio a negociações de reestruturação com credores.

Bandeira da Argentina é erguida. 24/10/2019. REUTERS/Carlos Garcia Rawlins.
Bandeira da Argentina é erguida. 24/10/2019. REUTERS/Carlos Garcia Rawlins.
Foto: Reuters

A inadimplência em três títulos ocorreu no momento em que as negociações para dar nova cara a cerca de 65 bilhões de dólares em dívida externa se intensificaram, com o ministro da Economia, Martín Guzmán, dizendo que as negociações estavam em um curso positivo, apesar da "distância importante" até um acordo.

Uma fonte próxima às negociações e familiarizada com o pensamento do governo disse à Reuters que os dois lados estavam fazendo progressos substanciais e que um acordo abrangente era possível em "questão de dias, não meses".

A Argentina e seus credores, que negociaram propostas no último mês, indicaram que estavam ansiosos para evitar um default conturbado que poderia desencadear anos de litígio e bloquear o acesso ao mercado global de capitais ao país, importante produtor de grãos.

A Argentina adiou o prazo para um acordo até 2 de junho, em meio a sinais de que os dois lados podem estar mais perto de um consenso.

O default, no entanto, pode complicar as coisas.

"A Argentina hoje falhou no pagamento de 503 milhões de dólares em juros originalmente previsto para 22 de abril", disse em comunicado Gabriel Torres, um dos vice-presidentes da Moody's, acrescentando que isso é consistente com a atual avaliação de crédito soberano da agência para o país.

Os pagamentos dos títulos tiveram um período de carência de 30 dias.

"Esperamos que o caminho a seguir para a reestruturação da dívida na Argentina provavelmente se torne mais problemático", acrescentou Torres.

O embaixador da Argentina nos Estados Unidos havia escrito anteriormente em uma carta obtida pela Reuters que o país deixaria de fazer os pagamentos desta sexta-feira, dada a "perspectiva de chegar a um acordo com seus credores sobre novos termos para seus títulos".

Guzmán disse em comunicado que o pagamento de juros faz parte de uma discussão mais ampla sobre reestruturação "e esperamos que isso seja tratado no acordo mais abrangente que estamos buscando".

O ministro disse à Reuters na quinta-feira que o governo planeja alterar sua oferta aos credores com base em negociações nos próximos dias.

"Esses são tempos críticos. O que é alcançado agora afetará as vidas de milhões de pessoas e provavelmente terá efeitos em toda uma classe de ativos", disse ele.

"AÇÕES FALAM MAIS ALTO QUE PALAVRAS"

Os credores também têm mostrado sinais de flexibilidade e indicaram que não devem tomar medidas imediatas contra a Argentina por causa de qualquer default, desde que as negociações estejam no caminho certo.

Um grande grupo de credores, que detém cerca de 16,7 bilhões de dólares em bônus internacionais da Argentina, disse nesta sexta-feira que, embora o não cumprimento de pagamento provoque default em vários títulos, a Argentina está buscando um acordo abrangente.

O Ad Hoc Bondholder Group, incluindo nomes como Ashmore, BlackRock e AllianceBernstein, alertou que deseja mais compromisso da parte da Argentina, o que, para o grupo, ainda está faltando.

"O grupo saúda a expressão argentina de uma intenção de trabalhar com credores, mas as ações falam mais alto que as palavras", afirmou. "No último mês, a Argentina não teve praticamente nenhum compromisso substancial com seus credores."

O Comitê de Credores da Argentina, outro dos principais grupos, disse que se opôs à decisão do país de deixar de pagar seus títulos internacionais, embora continue comprometido a buscar um bem-sucedido acordo de reestruturação.

"Esse último default, se não for prontamente resolvido, impedirá o acesso ao mercado de capitais internacional necessário para a recuperação da economia argentina e, portanto, será prejudicial para o povo argentino."

A diretora regional da Economist Intelligence Unit para a América Latina e o Caribe, Fiona Mackie, disse em nota que um default tornaria o acordo ainda mais crucial para a economia argentina, que já está em recessão há dois anos.

"Sem ele, a Argentina enfrenta uma perspectiva perturbadora não apenas neste ano, mas nos próximos anos", escreveu ela, acrescentando que o medo de perder o acesso aos mercados de crédito estimularia o governo a fechar um acordo.

"A alternativa é sombria e inclui o risco crescente de uma espiral hiperinflacionária, enquanto a atividade econômica permanece contida por restrições de financiamento", disse ela.

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