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Após duas deflações, IPCA sobe 0,26% em junho, puxado pelos combustíveis 

Resultado da inflação é fundamental para as análises do Banco Central sobre o comportamento da taxa de juros

10 jul 2020 - 09h38
(atualizado às 14h50)
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RIO e SÃO PAULO - A alta nos preços dos combustíveis explica boa parte da virada na inflação oficial do País em junho. Após dois meses de deflações, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) voltou a subir, fechando junho em 0,26%, segundo os dados divulgados nesta sexta-feira, 10, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O índice havia recuado em abril (-0,31%) e em maio (-0,38%), por conta dos efeitos da paralisia na economia provocada pela pandemia da covid-19. Apesar da aceleração em junho, o resultado ainda ficou perto do piso das estimativas dos analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast, que esperavam uma inflação mediana de 0,30%.

"A taxa positiva foi sustentada pela alta do preço do petróleo no mercado internacional", lembrou o estrategista-chefe do Banco Mizuho para América Latina, Luciano Rostagno.

Segundo Rostagno, a recuperação gradual da economia não cria riscos para o cenário inflacionário, que permanece benigno. A elevada ociosidade da capacidade de produção deve manter as leituras de inflação baixas pelos próximos meses, e o IPCA chegará ao fim de 2020 com alta de 1,6%, para acelerar a 3,0% somente ao fim de 2021, previu.

"A nosso ver, as leituras de atividade e de inflação permitem que o Banco Central continue provendo mais estímulo monetário na economia", defendeu Rostagno, que espera um corte de 0,25 ponto porcentual na taxa básica de juros, a Selic, na reunião do Comitê de Política Monetária de agosto, saindo dos atuais 2,25% ao ano para 2,0% ao ano.

O resultado da inflação é fundamental para as análises do Banco Central sobre o comportamento da taxa de juros. Esta semana, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse ser preciso avaliar impacto da retomada da economia nos preços para que a autoridade monetária decida sobre mais um corte residual de juros.

No mês de junho, a alta de 3,24% no preço da gasolina deu o principal impulso ao IPCA, mas também houve pressão dos reajustes dos medicamentos e do encarecimento das carnes. Por outro lado, as passagens aéreas mais baratas ajudaram a conter a inflação.

Embora a cesta de consumo das famílias tenha mostrado mais componentes com variação positiva de preços em junho do que em maio, ainda não é possível perceber uma eventual pressão de demanda sobre a inflação, mesmo em meio à flexibilização das medidas de isolamento social adotadas no combate ao novo coronavírus, apontou Pedro Kislanov, gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE.

"Tem flexibilização em muitas áreas do Brasil sim, em outras tem recuo, tem retomada do isolamento social. De fato, o que se nota é que houve mais componentes com variação positiva. Mas muitos componentes de serviços ainda mostram recuo nos preços, mostram que não houve ainda uma retomada desse setor. Normalmente, os serviços refletem muito a questão da demanda. E a (alta da) gasolina tem muito a ver com o reajuste concedido pela Petrobrás", justificou o gerente do IBGE.

Os serviços passaram de deflação de 0,45% em maio para uma nova queda de preços de 0,26% em junho. Já os preços de bens e serviços monitorados pelo governo - que inclui a gasolina - passaram de uma redução de 1,02% em maio para alta de 0,89% em junho.

As famílias também gastaram mais em junho com artigos de residência. Segundo o IBGE, a alta do dólar elevou os preços de eletrodomésticos e de equipamentos de TV, som e informática.

"Tem certa defasagem nesse repasse cambial. Num primeiro momento, os varejistas seguram esses preços, porque eles têm estoque, e só depois repassam para o consumidor. E isso ainda depende do momento da economia. Se não tem demanda, a capacidade de repasse fica menor", explicou Kislanov.

Estadão
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