André Esteves: 'Momento atual é oportunidade para o Brasil, mais que qualquer outro recente'
Para banqueiro, sócio do BTG Pactual, no reordenamento das cadeias produtivas, Brasil é competitivo em vários dos fatores agora considerados fundamentais, como o ambiental
PORTO ALEGRE - O banqueiro André Esteves, sócio do BTG Pactual, avalia que o momento atual no mundo, marcado por mudanças na economia e na geopolítica, é de oportunidade para o Brasil mais do que qualquer outro momento de mudança na história recente.
A queda do Muro de Berlim ajudou a levar adiante a globalização na economia mundial, com a redefinição das cadeiras mundiais de produção em busca de mais eficiência - e menor custo. Este processo, porém, ajudou muito mais economias da Ásia, como o Vietnã e a Coreia do Sul, do que o Brasil, disse o banqueiro nesta quarta-feira, 29, no South Summit, evento de tecnologia, inovação e empreendedorismo realizado em Porto Alegre.
"Todo grande deslocamento geopolítico no mundo sempre teve vencedores e perdedores", disse Esteves, mencionando que na Segunda Guerra foi uma oportunidade para os Estados Unidos saírem vencedores.
Juros baixos
Segundo Esteves, o cenário de juros muito baixos no mundo após a crise financeira mundial, aliado ao aumento da liquidez no mercado, com dinheiro farto e barato, criou um ambiente "onde qualquer ideia era financiável". Até porque, disse, o dinheiro não custava nada.
Agora, com inflação e juros em alta, estes estímulos dos bancos centrais - que vinham sendo adotados desde a crise financeira mundial de 2008 e 2009, e foram ainda mais usados na pandemia - estão sendo retirados. Os juros estão sendo elevados para combater a inflação e a liquidez do mercado financeiro caiu.
"Como consequência do capital excessivamente barato e do processo inflacionário excessivamente agudo, os bancos centrais têm de dar resposta", ressaltou Esteves. Assim, nos Estados Unidos, as taxas de juros saíram rapidamente de 0% para 5%, encarecendo o custo do capital.
Com essa mudança, excessos que existiam no período foram sendo corrigidos, como o preço das empresas de tecnologia, aquelas que ainda não davam lucro e prometiam alto crescimento no futuro.
Ainda se vê pressão inflacionária global "muito importante", seja nos EUA, Europa e Japão, comentou o sócio do BTG. Com os juros altos para conter a inflação, outra consequência foram as quebras de bancos nas últimas semanas, nos Estados Unidos e Europa, como o Silicon Valley Bank (SVB), que quebrou em questão de dois dias, além do colapso de algumas empresas de criptomoedas.
O aumento do custo do dinheiro, nas palavras de Esteves, vai trazer uma "bem-vinda disciplina", filtrando projetos que fazem sentido dos que não fazem sentido. No financiamento dos projetos, haverá mais cuidado.
"O mundo não está muito simples", disse Esteves ao começar sua palestra. Ele citou que há dois grandes deslocamentos acontecendo atualmente na economia global, o econômico-financeiro e o geopolítico.