PUBLICIDADE

Águas do Brasil mira segunda fase de leilão de saneamento no Rio e vê concorrência forte

Grupo planeja arrematar o bloco 3, que foi ofertado no leilão bilionário - e acirrado - feito pela Cedae em abril, mas não teve nenhum interessado; concessões em outros Estados também fazem parte dos planos do ano que vem

22 out 2021 - 20h22
Compartilhar
Exibir comentários

RIO - A concessão do bloco 3 da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae), que inclui áreas da zona Oeste da capital e mais 19 municípios fluminenses, será a prioridade do Águas do Brasil neste fim de ano. O grupo prevê concorrência acirrada, com os mesmos grupos que disputaram e pagaram outorgas recordes em abril.

Claudio Abduche, presidente do Águas do Brasil, diz que o prazo para o leilão ficou corrido. O edital deve ser publicado em 6 de novembro e o certame está previsto para 29 de dezembro. "É apertado, mas factível", afirmou ao Estadão/Broadcast. "Estamos preparando a parte técnica, aprofundado os estudos, com equipes visitando os municípios previstos na concessão."

O bloco 3 foi originalmente ofertado no leilão da Cedae em abril, mas não recebeu proposta. Ele incluía bairros da zona Oeste do Rio e mais seis municípios. Naquele mesmo certame, os blocos 1, 2 e 4 foram arrematados por R$ 22,6 bilhões, o dobro do previsto. Antes de colocar o bloco 3 em licitação novamente, o governo do Estado atraiu mais 13 municípios interessados em gestão privada do saneamento.

Abduche afirma que o bloco 3 tinha viabilidade mais "apertada" do que os demais e, por isso, não foi arrematado. Ele refere-se às perdas de água por furto e à baixa renda dos moradores. Com as adições de novos municípios, que abrigam agora 500 mil pessoas na área total a ser concedida, a conta parece fazer mais sentido. "O projeto tem municípios pequenos, de 10 mil habitantes, alguns deficitários, mas tem valor agregado", afirma.

Para o próximo ano, a empresa avalia outros projetos de concessão: dois blocos com cidades do interior de Alagoas e o município de Porto Alegre. A expectativa é que o leilão da capital do Rio Grande do Sul ocorra no fim do primeiro semestre. O Águas do Brasil monitora ainda possíveis concessões de saneamento na Paraíba e em Sergipe, que estão programados para estudos dentro do BNDES.

Responsabilidade financeira

Desde que foi aprovado o novo marco de saneamento do País, o Águas do Brasil não venceu leilões de projetos de água e esgoto. Segundo Abduche, a empresa tem tido responsabilidade financeira. "Queremos crescer de forma responsável, é a vontade do nosso acionista", afirma. "Temos concessões com ótimo desempenho e vamos disputar com responsabilidade."

Apesar disso, ele diz que o financiamento dos projetos não seria problema. Além de recursos do BNDES, a empresa tem recorrido, sem dificuldades, ao mercado de capitais. Recentemente, levantou R$ 120 milhões com emissão de debêntures para a operação Águas de Juturnaíba. Segundo ele, será necessária nova captação para eventual sucesso no leilão do bloco 3 da Cedae.

"Também podemos usar a capacidade de alavancagem da própria holding, que tem nível de endividamento baixo, com uma relação entre dívida líquida e Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) inferior a 1,5 vez", diz.

Controlado pela Developer SA, o grupo tem ainda como sócios a Queiroz Galvão e a New Water Participações. O Águas do Brasil opera 13 concessões de saneamento nos Estados do Rio, São Paulo e Minas Gerais, num total de 4 milhões de habitantes atendidos. Entre as cidades, estão em parte da capital do Rio e Niterói (RJ). Em 2020, a empresa registrou receita bruta de R$ 1,6 bilhão e Ebitda de R$ 445 milhões.

Novas oportunidades

Victor Burke, analista de saneamento da XP, diz que o leilão da Cedae deve atrair os mesmos operadores da primeira fase de licitação, como Aegea Saneamento, Iguá Saneamento e Equatorial. Ele não descarta a participação da Sabesp no consórcio da Aegea, mas novamente por meio de uma opção de direito de participar, a ser exercida ou não após o leilão.

Burke afirma que novas oportunidades no setor de saneamento devem surgir, a partir de março. É quando as companhias estaduais de saneamento que operam serviços de água e esgoto de municípios por meio de convênio, sem licitação, vão informar se conseguirão cumprir metas de universalização até 2033.

Ilan Arbetman, analista de saneamento da Ativa, afirma que será preciso acompanhar as consequências da mudança do regime fiscal do País sobre o apetite das empresas. A taxa de juros básica deve subir e isso poderia, em tese, fazer com que as empresas demandassem retorno mais elevado nas concessões, o chamado custo de oportunidade.

"Realizar o leilão com taxa de juros caminhando para dois dígitos é diferente, é claro, do que realizar o leilão com taxa de juros de 2% ao ano, que era o cenário do começo do ano", afirma Arbetman. "Mas estamos falando de concessões com prazo de 30 anos e de um negócio de natureza e receita estável. Existe grande confiança das companhias de que conseguirão reduzir perdas e tornar a operação redonda."

Estadão
Compartilhar
TAGS
Publicidade
Publicidade