Globo transformou protagonistas de novela em fenômenos musicais há 13 anos
Globo uniu enredo musical com internet e movimentou redes sociais com ações promovidas para fãs de trama das sete
Em 16 de abril de 2012, há 13 anos, a Globo estreava Cheias de Charme como sua novela das sete. Primeira novela escrita por Filipe Miguez e Izabel de Oliveira, o folhetim foi um sucesso entre o público e, principalmente, na internet. Aproveitando a repercussão, a emissora transformou o trio de empregadas cantoras protagonistas da novela, Cida (Isabelle Drummond), Rosário (Leandra Leal) e Penha (Taís Araújo), em fenômenos musicais.
Internet como palco principal
Cheias de Charme, como relembra o jornalista Nilson Xavier, do Teledramaturgia, foi pioneira ao usar a internet como plataforma complementar à televisão, em um movimento de transmídia que transformou o modo como o público interagia com a trama.
Xavier resgata o sucesso do clipe das Empreguetes, lançado primeiro no site da novela, que ultrapassou 12 milhões de visualizações antes mesmo de ir ao ar na Globo. Segundo o Teledramaturgia, foi um marco: pela primeira vez, um conteúdo da novela gerava esse tipo de repercussão nas redes. A internet, vista até então como uma possível concorrente da TV aberta, passou a ser aliada fundamental.
A aposta no digital se desdobrou em diversas ações criadas pela emissora. Sites fictícios foram integrados à trama real, fanpages alimentadas com conteúdos exclusivos e campanhas de engajamento que mobilizavam fãs. Xavier cita, por exemplo, a campanha "Empreguetes para Sempre", que recebia vídeos e fotos de apoio dos espectadores, somando mais de três milhões de acessos em poucos meses. Até a vilã Chayene (Cláudia Abreu) ganhou um programa para gerar autógrafos personalizados no Facebook.
Humor, crítica social e cultura pop
Xavier destaca que Cheias de Charme chegou em um momento em que protagonistas ricos deixavam de ser regra nas novelas, rompendo padrões ao colocar as trabalhadoras domésticas como centro da narrativa. Mais do que um conto de fadas moderno, a trama se destacava pelo humor ácido e pelas críticas à desigualdade, à fama efêmera e à elitização da cultura.
O sucesso do trio protagonista refletia a força da representatividade: mulheres comuns, com sotaques e histórias de vida diversas, ocupavam o palco principal. A novela também se tornou referência na parte estética e musical, com participações especiais de artistas consagrados e trilha sonora que transitava com facilidade entre o forró, o sertanejo e o pop brega.
Símbolo de época
Apesar da euforia nas redes sociais, o Teledramaturgia afirma que Cheias de Charme manteve uma audiência média esperada para o horário: 30 pontos no Ibope, o mesmo de novelas anteriores como Ti-Ti-Ti e Morde & Assopra.
Seu maior pico foi registrado em 12 de julho de 2012, com 40 pontos na Grande São Paulo. O desempenho, no entanto, não refletia o real impacto cultural da trama, que marcou época ao usar a TV aberta como trampolim para um verdadeiro fenômeno multiplataforma.