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Por que o criador do Studio Ghibli acha que a era de ouro dos animes acabou?

Em discurso durante o Festival de Cannes, filho do diretor Hayao Miyazaki revelou que cineasta acredita que era de ouro e sua própria carreira chegaram ao fim

22 mai 2024 - 22h09
(atualizado em 23/5/2024 às 01h54)
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Um dos fundadores do Studio Ghibli e ícone das animações japonesas, o lendário diretor Hayao Miyazaki acredita que a era de ouro dos animes chegou ao fim. mais do que isso, o cineasta responsável por clássicos como Meu Amigo Totoro, A Viagem de Chihiro e o ganhador do Oscar de Melhor Animação em 2024 O Menino e a Garça vê que sua própria carreira acabou.

Foto: Divulgação/Studio Ghibli / Canaltech

As declarações pesadas foram dadas pelo seu próprio filho, o também diretor Goro Miyazaki, durante o Festival de Cinema de Cannes. Ele foi até o evento receber a Palma de Ouro Honorária entregue ao Studio Ghibli e, em um discurso de 20 minutos, revelou as visões de seu pai sobre o atual momento dos animes. 

O Menino e a Garça é o mais recente filme de Hayao Miyazaki e ganhador do Oscar de Melhor Animação (Imagem: Divulgação/Studio Ghibli)
O Menino e a Garça é o mais recente filme de Hayao Miyazaki e ganhador do Oscar de Melhor Animação (Imagem: Divulgação/Studio Ghibli)
Foto: Canaltech

Para os fãs de Miyazaki, a fala não é exatamente nova. Há anos Miyazaki traz um olhar mais crítico sobre o mercado nipônico de animações, tanto que ele próprio já anunciou sua aposentadoria mais de uma vez. O próprio O Menino e a Garça tinha sido apresentado como seu último longa, mas já foi confirmado que ele está trabalhando em um novo projeto.

Ainda assim, a ideia de que a era dos animes está acabando trouxe alguns questionamentos e reflexões sobre a real situação do mercado. 

O fim dos animes?

Antes de qualquer coisa, é preciso deixar claro que Hayao Miyazaki não está prevendo o fim dos animes ou qualquer outra visão mais apocalíptica assim. Quando ele fala no fim da era de ouro, ele trata justamente desse período mais criativo e de exploração de novas ideias que vimos surgir das animações ao longo das últimas décadas.

Embora o discurso de Goro Miyazaki não entre em detalhes do porquê seu pai acredita nisso, declarações anteriores e a própria situação do mercado apontam para as possíveis razões desse olhar mais pessimista. 

Pessimismo de Miyazaki com o mercado de animes vem desde a década de 1980, época de Meu Amigo Totoro (Imagem: Divulgação/Studio Ghibli)
Pessimismo de Miyazaki com o mercado de animes vem desde a década de 1980, época de Meu Amigo Totoro (Imagem: Divulgação/Studio Ghibli)
Foto: Canaltech

Uma de suas batalhas mais antigas é contra a produção em massa de animes. Ainda na década de 1980, o diretor já tinha escrito um texto em que criticava essa urgência dos estúdios e do próprio público sobre essa demanda exagerada por novas produções. Com autores tendo que criar novas histórias em um ritmo industrial, ele acredita que a beleza e a arte da animação se perde.

Tanto que, não por acaso, o Studio Ghibli sempre se manteve fiel a filmes e nunca se aventurou em produzir histórias episódicas.

Obras mais pobres

Mais uma vez, é uma visão bastante dura de Miyazaki, mas não sem razão. Em uma entrevista publicada no livro Course Japanese Movies 7 - The Current Situation of Japanese Movies, de 1988, o fundador do Studio Ghibli explica como os animes mudaram a animação e para pior, priorizando muito mais a quantidade do que a qualidade.

Para Miyazaki, cada elemento de uma animação — da iluminação às texturas — ajuda a contar a história e os animes atuais estão abrindo mão disso (Imagem: Reprodução/Studio Ghibli)
Para Miyazaki, cada elemento de uma animação — da iluminação às texturas — ajuda a contar a história e os animes atuais estão abrindo mão disso (Imagem: Reprodução/Studio Ghibli)
Foto: Canaltech

Segundo ele, em seus filmes, cada quadro contém uma pequena informação que ajuda a contar aquela história e os animadores precisam ter em mente que iluminação, sombras e até texturas também são elementos narrativos que dão vida à obra — e que os animes atuais abriram mão disso.

Miyazaki aponta que, para dar conta desse ritmo industrial de produção, os animes se tornaram mais pobres e passaram a trazer movimentos mais limitados e focar demais na expressão na tentativa de informar algo que deveria ser feito de forma muito mais natural e sutil. O resultado, para o diretor, é uma animação monótona em que os personagens parecem cada vez mais sem motivação.

E isso é algo que também reflete nos próprios profissionais. Com uma carga de trabalho exaustiva, os animadores precisam trabalhar muito mais e encarar jornadas exaustivas para dar conta das demandas — o que acaba refletindo na qualidade do anime final. 

Isso é algo que o próprio público vem notando ao longo dos últimos anos. Boa parte dos animes busca simplificar traços e trazem animações até bastante pobres para dar conta da rotina semanal de produção. Isso fica bem claro com obras mais longas, como One Piece e o próprio Dragon Ball, em que os episódios mais recentes contrastam demais com a quantidade de detalhes que seus capítulos iniciais traziam.

Fonte: Nausicaa.net, CBR

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