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Leia resenhas dos álbuns de Michael Buble e 'Lua Nova'

19 out 2009 - 15h32
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Crazy Love, de Michael Buble

Trilha sonora de Lua Nova é introspectiva e temperada
Trilha sonora de Lua Nova é introspectiva e temperada
Foto: Divulgação

Michael Buble é mestre na combinação de atitudes musicais, e seu novo CD, Crazy Love, cujo título provém de uma canção de Van Morrison, representa seu mais bem sucedido esforço de equilibrismo. O cantor respeita a tradição de Sinatra mas não tenta copiar o estilo alheio descaradamente. Apreciador do passado mas não reverente em excesso, ele justapõe clássicos do pré-rock, rock e soul sem dar preferência a um dos estilos sobre os demais.

Mesmo nos momentos mais emotivos, ele insiste em se divertir. Cry Me a River, a primeira faixa, bombástica mas brincalhona, é uma ampliação gigantesca de uma canção clássica de vingança que costuma ser interpretada por mulheres. Tanto em termos de arranjo quanto nos vocais volumosos de Buble, a gravação sugere uma resposta contemporânea ao trabalho de Shirley Bassey para trilhas de cinema, e brinca deliberadamente com a cafonice.

Porque boa parte de Crazy Love foi gravado ao vivo no estúdio, com acompanhamento de big band e cordas, em lugar de com vocais adicionados separadamente por sobre a trilha instrumental, o álbum transmite o infeccioso entusiasmo de um cantor que se diverte ao trabalhar com outros músicos. As forças que estão em curso aqui são em geral poderosas. A sessão de metais cacofônica em All of Me estimula Buble ao máximo de swing. A onírica e elegante Georgia on My Mind talvez não revele a mesma dor da versão de Ray Charles, que o arranjo ecoa, mas oferece a calorosa nostalgia que parece ser a especialidade de Buble. E sua regravação, com Sharon Jones e os Dap-Kings, do dueto Baby (Youve Got What it Takes), original de Brook Benton e Dinah Washington, acompanha o espírito leviano do original.

Os momentos mais suaves (uma versão de Stardust à moda dos anos 40, acompanhada pelo grupo vocal Naturally 7; Whatever it Takes, uma balada de Ron Sexmith que ele canta em dueto com o autor) transmitem uma ternura amistosa. Mas a faixa mais reveladora é Heartache Tonight, do Eagles, que combina rock e big band. O que os autores da canção transmitiram em tom de alerta, Buble transforma em celebração da vida noturna e do jogo amoroso, nos quais a aventura e a excitação valem os riscos. (Stephen Holden)

Southern Voice, de Tim McGraw

A maior parte de Southern Voice, o 10° disco de estúdio de Tim McGraw, foi gravada três anos atrás. Isso é digno de menção porque ele provavelmente não tinha ouvido o recente álbum That Lonesome Song, de Jamey Johnson, antes de gravar a excelente e discretamente mordaz de I Didnt Know It at the Time que consta de seu álbum.

O passado, reconhece McGraw, nem sempre é um prólogo. "Quando eu costumava brigar com meu pai", ele canta com tristeza simples, "jamais imaginava que ele envelheceria". Para os ouvintes de Johnson, um cantor maniacamente melancólico, esse é um território conhecido, mas McGraw chega à sensação que transmite de forma honesta. Poucos cantores country se avaliam de maneira tão rigorosa quanto ele, e sua disposição de explorar os trechos mais difíceis de seu passado é uma das qualidades pelas quais não recebe reconhecimento suficiente.

Mas acima de tudo, e isso termina por prejudicá-lo, McGraw quer agradar. Isso explica por que I Didn't Know It at the Time é seguida diretamente por It's a Business Doing Pleasure With You, uma desanimada tentativa de humor sobre diferença de classes na qual McGraw se queixa do custo de sair com uma mulher cujos gostos são dispendiosos. (Melhor presumir que sua mulher, a estrela country Faith Hill, ache graça na brincadeira.) Montgomery Gentry e Toby Keith conseguem se sair bem com esse tipo de canção; McGraw, que vive sob o peso de sua franqueza deliberada, não conseguem despertar nem mesmo um sorriso.

Southern Voice apresenta mais justaposições incômodas como essa, e jamais estabelece um ritmo. Mr. Whoever You Are é sombria e direta, uma história sobre uma moça de cidade pequena sonhando escapar. Mas é seguida pela faixa título, uma bobagem ufanista que imagina uma identidade sulista que abarque, implausivelmente, tanto Dale Earnhardt quanto Rosa Parks e Billy Graham.

Mas apesar das distrações McGraw retorna sempre à melancolia do tempo, e o esforço soa como se ele desejasse, com razão, reconstruir sua carreira em torno de canções que narram a decadência da beleza. A brusca Good Girls fala sobre a amizade destruída entre duas mulheres que desejam o mesmo homem, e Forever Seventeen começa com um chute gentil: "Vamos ser honestos/ Você não é perfeita/ Mas chega mais perto disso do que qualquer outra coisa que eu tenha visto". Perfeição entedia ¿melhor algumas rugas. (Jon Caramanica)

The Twilight Saga: New Moon
Há apenas um ano, vampiros eram uma ameaça - no filme Twilight, certamente, mas também em sua trilha sonora. Se as canções da trilha serviam para avaliar o clima prevalecente entre os jovens adeptos de morder pescoços, o sentimento dominante parecia ser a raiva, em ritmo electro-gótico.

Passado um ano, e agora que o lançamento de um novo filme da série é iminente, o que mudou é que os vampiros, hoje, preferem atacar a si mesmos, e não aos outros.

A trilha de The Twilight Saga: New Moon é introspectiva, mais temperada e incisiva que a do filme precedente, que vendeu mais de dois milhões de cópias. Thom Yorke é caracteristicamente infeliz em Hearing Damage, uma canção new wave sem muito balanço, e o Death Cab for Cutie, com Meet Me on the Equinox, oferece uma canção de amor que só podia terminar com o verso "e tudo acaba".

Algumas das canções fazem referências oblíquas aos problemas dos vampiros marginalizados. "Tudo que fiz de errado, tenho certeza de que vou viver muito", diz o refrão de Done All Wrong, um blues seco e efetivo do Black Rebel Motorcycle Club. Mas os vampiros, como os demais desajustados, em geral preferem refletir e se comiserar quanto ao seu sofrimento e ansiar por amores impossíveis.

Roslyn, dueto entre Bon Iver e St. Vincent, é uma canção atraente, etérea, enquanto White Demon Love Song, do Killers, simplesmente cambaleia. Um par de canções por compositoras e cantoras jovens Possibility, de Lykke Li, e Satellite Heart, de Anya Marina, oferecem leveza a um álbum soturno.

Todas as canções são inéditas, mas ainda que os grupos representem diversos gêneros, todos parecem estar seguindo o mesmo modelo. As guitarras todas são graves, urgentes, e unem muitas das canções em uma espécie de zumbido insatisfeito. (Os vampiros não parecem se preocupar muito com ritmo. O único hip-hop é Solar Midnight, de Lupe Fiasco, disponível como faixa bônus para download.)

Uma exceção notável é The Violet Hour, um flerte otimista e animadinho do Sea Wolf. Em uma coleção que, em geral, parece estar em paz com o lado escuro, a faixa é uma surpreendente indicação de que uma vida vivida sob a luz também pode ter sua graça. (Jon Caramanica)

El Ultimo Trago, de Buika e Chucho

Altamente elegante mesmo à distância, em seu latinismo que atravessa geração, fronteiras nacionais e estilos, El Ultimo Trago é um álbum conceitual que transcende o seu conceito. A cantora Concha Buiko, que está perto dos 40 anos, cresceu em Majorca, mas tem origens na Guiné; Chucho Valdes, que está perto dos 70 anos, é um conhecido pianista cubano. E no disco os dois lidam com um repertório que tem mais de meio século de idade: canções associadas a Chavela Vargas, uma cantora mexicana que ganhou fama com o estilo ranchera.

Buika está no mercado há muito tempo; gravou vocais para faixas de house music e foi imitadora de Tina Turner em Las Vegas. Mas os três discos experimentais de flamenco que gravou com o produtor e músico espanhol Javier Limon, de 2006 para cá, parecem tê-la firmado. Ela usa o estilo cante jondo de flamenco - dinâmico, microtonal, altamente emotivo - e acrescenta elementos pessoais. Sua voz é rouca, imperiosa e sutil, e lembra um pouco a de Nina Simone, mas com maior domínio técnico.

Vargas, que ainda está viva, foi uma heroína cultural nos anos 50 e 60, devido ao seu estilo vocal cáustico e volátil e à sua franqueza sexual. Ela transformou as implicações das canções rancheras, que foram compostas para serem interpretadas por homens, e Buika e Valdes as transformam ainda mais, acrescentando elementos cubanos e espanhóis de rumba, cha-cha-cha e flamenco. A sessão de gravação, em Havana, aparentemente levou apenas dois dias. É difícil acreditar, se considerarmos como é grande a mudança nessas músicas.

Valdes toca um piano limpo e poderoso, com acompanhamento de uma banda básica formada por um baixista e dois percussionistas, e mais a ajuda ocasional de um trompete e de um violão flamenco. Ele dita a atmosfera harmônica da canção e faz solos floridos mas curtos. Já Buika é admirável em cada verso. As primeiras três palavras que canta em El Andariego o irrequieto, uma canção de amor perdido e arrependimento, Yo que fu ("eu que parti") estabelecem de imediato o impacto emocional e o ritmo balançado. Em certos momentos, ela estende sua poderosa voz até quase o limite de ruptura, como no refrão de Se Me Hizo Facil.

Há momentos explosivos como esse em diversas faixas de El Ultimo Trago, entre os quais a faixa título, gravada apenas com voz e piano. O canto de Buika pode se tornar tão intenso que, apesar de sua qualidade, o ouvinte ocasionalmente se sente sentado a fazer uma pausa para tomar fôlego. Mas até isso representa fidelidade à fonte, porque o mesmo se aplica aos vocais de Vargas.

O que distingue Buika é sua disciplina, sua capacidade de chegar bem perto do exagero emotivo sem tropeçar. E sempre que as canções parecem caminhar para um derrame emocional, os arranjos de Valdes servem como um sutil anteparo. Não se preocupa: você vai conseguir chegar ao fim. E valerá a pena. (Ben Ratliff)

The New York Times
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