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Suicídio, drogas e nova fase: Rafael Ilha fala sobre seus 40 anos

7 mar 2013 - 07h43
(atualizado às 08h06)
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Da juventude sob os holofotes no Polegar até os dias de hoje, pai de um garoto, repórter de TV e namorado apaixonado, aconteceram muitas coisas com Rafael Ilha. Foram acontecimentos difíceis - envolvimento com droga, meses vivendo na rua, um tiro e uma tentativa de suicídio são só alguns exemplos -, mas ele fala de seu passado com a calma de quem conta uma história qualquer. Não deixa de lado, porém, o quase orgulho de ser alguém que, nas palavras dele, "deu a volta por cima". 

Às vésperas de completar 40 anos de vida, ele abriu o jogo em entrevista ao Terra. Falou do tempo na prisão, das inúmeras internações e de como quando levou um tiro em um morro carioca - e estava tão transtornado pela cocaína que nem sentiu. E nesta quinta-feira (7) de aniversário, ele tem motivos para comemorar. Se anos atrás ele pulava de clínica em clínica, hoje planeja lançar filme e livro autobiográfico. Não esconde as cicatrizes dos tempos ruins, mas se comporta como qualquer outro funcionário da produtora que faz o programa A Tarde É Sua, de Sonia Abrão. É cumprimentado pelos colegas e, em um comunicado colado na parede da empresa, aparece como um dos aniversariantes do mês. 

Se "pegava todas" na época da banda O Polegar, hoje ele procura uma mulher para a vida toda. E parece ter achado. Rafael Ilha brinca até com o apelido de Rafael Pilha, que ganhou ao engolir o objeto para fugir de uma internação: "minha namorada disse que precisava da pilha do controle, e eu falei que estava com fome". Ele também não hesita ao responder como encara sua vida aos 40: "uma vitória".

Drogas

Ele descarta ser um daqueles casos que a fama na infância é um dos "causadores" do envolvimento com drogas. "Meu problema com a droga não foi pelo meio artístico. Tem em todos os meios. Comecei com álcool, aí baseado. Namorei uma menina mais velha que cheirava cocaína", contou ele, que também usou cocaína injetável e, em sua pior fase, crack. "Consumia 60 pedras por dia".

"Passei 15 dias acordado, sem comer. Só parei porque não aguentava ficar em pé."

Por conta do vício, ele passou cerca de 3 ou 4 meses vivendo na rua. "Ficava ali na Roberto Marinho. Vejo pessoas dessa época lá ainda. É muito triste".

<p>Rafael Ilha trabalha atualmente como repórter da Rede TV!</p>
Rafael Ilha trabalha atualmente como repórter da Rede TV!
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
Há 11 anos ele está livre do vício de drogas. "Eu não aguentava mais. Falei, 'fico internado quanto tempo for preciso. Foi 1 ano e 2 meses. Aí nasceu o meu filho, o Kauan. Eu falo, hoje em dia: 'filho, você ajuda muito o papai a ficar bem'. Ele é um pilar", disse ele, que afirma contar tudo para o filho de 11 anos.

Atualmente, ele não usa drogas e não bebe. Mas do cigarro não abre mão. Durante a entrevista, saca um do maço de Marlboro vermelho e acende. "Fumo porque eu gosto. Quando quiser parar eu paro", contou.

Tatuagens e cicatrizes: marcas no corpo

Rafael exibe as tatuagens pelo corpo. A primeira foi feita quando ele tinha apenas 9 anos de idade: um sol e uma gaivota no ombro esquerdo. A última, feita semana passada, é uma prova de amor: as iniciais R e A, de Rafael e ALine, no pulso esquerdo. Além dos desenhos, o corpo de Rafael traz as marcas de tempos mais difíceis. No ombro direito, a marca de um tiro que levou quando traficava em um morro carioca. Segundo ele, estava tão drogado que não sentiu a bala, os amigos que precisaram lhe avisar. O curativo foi feito no morro, Rafael não desceu para hospital.

"Lá eles têm de tudo, as facções. Foi uma cirurgia mesmo, feita por uma enfermeira".

Na barriga, um corte comprido causado por uma cirurgia de emergência para retirar pilhas que o ex-Polegar havia engolido, em uma tentativa de sair de um hospital psiquiátrico. "Era hospital de louco, com avental, muro de 10m de altura. Você jogava bituca no chão e 10 caíam em cima. Eu tentava de tudo, fingia ataque epilético, mas eles não me mandavam para hospital. Aí engoli as pilhas. E consegui fugir". 

Hoje, o episódio é lembrado com humor. "Esses dias minha mulher perguntou se tinha pilha pro controle remoto. Eu falei que estava com fome e acabei comendo", contou, rindo.

Sonia Abrão

Um cartaz perto de um bebedouro indica os aniversariantes do mês. Na primeira linha, aparece o nome de Rafael Ilha. Cumprimentado pelos colegas de trabalho e bem à vontade na produtora, ele se diz muito feliz com o emprego, que já se dedica há três anos. "Tem 28 anos que eu conheço a Sonia, desde que íamos com o Polegar em programas. Foi um convite dela trabalhar, ela foi me visitar após eu tentar o suicídio, e perguntou o que eu queria. Eu respondi: 'quero trabalhar'. Ela disse, 'então você vai trabalhar comigo'."

Além do trabalho no programa, Sonia está por trás de outro projeto do ex-Polegar: um filme e um livro, ambos baseados na vida dele, intitulados Um Anjo no Inferno.

Ele lembra a data exata: 13 de janeiro de 2010, o dia em que começou a trabalhar no programa como produtor. Um dia, na falta de repórter, foi cumprir a função. E ficou. 

A admiração pela Sonia é visível. "Gosto muito dela, a equipe aqui é ótima".

<p>Rafael mostra as tatuagens que acumulou pelo corpo</p>
Rafael mostra as tatuagens que acumulou pelo corpo
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra

Amor

No ano passado, após outra separação, Rafael decidiu que encontraria outro amor no Facebook. Fez um post polêmico, dizendo que procurava uma garota para romance sério. De certa maneira, a tentativa funcionou: uma amiga antiga viu a publicação e ligou para ver se era verdade. Aline (ele prefere não divulgar o sobrenome) ainda estava casada, mas seu relacionamento estava em crise. Eles passaram a conversar com frequência e em janeiro deste ano ela se separou. Hoje, moram juntos e pensam em "encomendar um bebê" para o meio do ano. "Estou apaixonadíssimo", revelou, mostrando com orgulho as fotos da namorada de 30 anos, bonita. Em algumas, ela posava com o filho Kauan. Apesar da paixão, eles não pensam em se casar no papel.

"Peguei tanta mulher na época do Polegar que cansou. Era moleque, e as meninas davam em cima. Pegamos muitas fãs. Quero uma esposa que fique ao meu lado o resto da minha vida", disse, romântico. 

Internação compulsória

Rafael se diz a favor da internação compulsória de usuários de droga. "Mas não sou a favor do que está acontecendo no RJ. Lá é faxina. Tiram os usuários da rua para ficar mais bonito, aí enfiam em uma clínica sem estrutura. Às vezes não tem espaço. Mas sou a favor porque quando o usuário de crack está viciado, ele não quer se tratar. Quer só a droga. Só pensa nisso. Só fui querer parar depois de anos, depois de nove overdoses com parada cardíaca. Mas quer saber? Não me arrependo. Só me arrependo do tempo que eu perdi. Foram quase 15 anos".

<p>Rafael Ilha falou sobre polêmicas de seu passado e atual fase</p>
Rafael Ilha falou sobre polêmicas de seu passado e atual fase
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
Internações em clínicas de reabilitação

"Minha primeira internação foi muito dificil. Na época não tinha clinica. Foi traumatizante, eu tomava choque. Era hospital psquiátrico". Ao todo, Rafael passou por 30 internações. A última ocorreu em 2009, quando tentou se suicidar.

Suicídio

O ex-Polegar tentou se matar em 2009 em um elevador cortando o pescoço com cacos de vidro. "Foi um pico de depressão. Eu perdi um paciente (da clínica que administrava), que morreu de overdose a caminho de lá. Em seguida me separei da mãe do meu filho, que me proibiu de vê-lo. Em 2009 dei uma surtada. Fui visitar minha avó e não quis subir, fiquei no elevador. Quebrei um vidro e depois não me lembro de nada. Só flashes. Eu no elevador, sangue, eu no carro do bombeiro, ele falando "a gente está perdendo ele", contou. Ele tem cicatrizes no pescoço até hoje e acredita ter levado 40 pontos no local. "Na época eu não consumia drogas, foi pura depressão. Nunca pensei que fosse ter depressão, era uma palavra fora do meu vocabulário".Clínica

Por quatro anos, ele foi dono de uma clínica de reabilitação, que chegou a ter duas unidades. Segundo ele, optou fechar por conta própria. "Até hoje me pedem para reabrir, recebi propostas de subprefeituras. Mas é muito trabalho, muito desgastante. Intenso. Ia ganhar cinco vezes mais do que ganho hoje, mas fechei porque eu quis", disse ele, descartando ter sido por intervenção da vigilância sanitária, com quem ele teve problemas.

Prisões 

Ele contou que foi preso por um mês ao tentar internar à força uma paciente. Segundo ele, o ex-marido dela pediu para que ele a internasse, já que ela estava cuidando dos filhos. "Eu já tinha sido preso, e lá fui muito bem tratado. Encontrei dois ou três ex-internos da clínica". A primeira prisão, segundo ele, aconteceu quando ele apenas estava pedindo dinheiro e um bilhete de ônibus. "Não estava roubando. Mas os PM me reconheceram. E eu estava muito louco, então assinei um papel que falava que era um assalto a mão armada. Mas não era". Nesta época, ficou quase 60 dias. 

Roubos/Tráficos

Quando o dinheiro acabou, Rafael começou a roubar para comprar drogas. O pulo para o tráfico não demorou. "Comecei a roubar, me envolvi com o tráfico. Fiquei quase um ano em um morro no Rio de Janeiro (ele não quis divulgar o nome). Tomei tiro", contou. 

Christiane Oliveira, ex-namorada, e ex-integrantes

Quando tinha 17 anos, ele namorou a atriz Cristiana Oliveira. Os dois passaram um tempo distante, mas se viram recentemente. "Encontrei ela em 2012, após muito tempo. Ela é ótima, me visitava na clínica", afirmou. Rafael também ainda fala com integrantes do Polegar. O advogado dele, inclusive, é o vocalista que entrou no seu lugar na banda. Mas não pretende montar outra. "Isso eu já sabia quando deixei o Polegar". 

Fonte: Terra
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