Preta Gil passou a vida assumindo posição de 'bandeira'; relembre frases marcantes da cantora
Empoderar sempre foi um verbo ativo no dicionário de Preta -- talvez não exatamente em seu vocabulário, mas, definitivamente, em suas ações
Preta Gil, cantora e ativista, faleceu neste domingo, 20 de julho de 2025, deixando um legado de luta contra preconceitos, aceitação do corpo e empoderamento, utilizando sua vida como uma bandeira em prol de diversas causas.
Preta Gil nunca deixou sua voz se calar --ou ser calada. Fosse lutando contra preconceitos ou expondo suas próprias situações pessoais, a cantora foi fiel a um compromisso de fazer da sua vida, por si só, uma bandeira. Ela mesma assumia essa posição, que pode ser vista como um legado da cantora, que morreu neste domingo, 20, após conviver por mais de dois anos com um câncer de intestino.
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Foi Gilberto Gil, seu pai, quem disse que Preta era "a própria bandeira". "Ao defender a minha existência como uma mulher gorda, bissexual, preta, isso há tantos anos, quando nada desses assuntos era pauta ainda, coloquei meu corpo a esse serviço", afirmou a cantora, em uma entrevista à Marie Claire, em 2023, ano em que descobriu a doença. Logo, ela emendou que a partir de então seria uma voz potente sobre cura.
A mesma postura, de não se esconder dos holofotes, foi adotada por Preta quando tudo parecia ruir. A cantora expôs a sua separação do ex-marido Rodrigo Godoy, que a traiu enquanto ela enfrentava o câncer, para destacar a força das mulheres.
Empoderar, inclusive, sempre foi um verbo ativo no dicionário de Preta --talvez não exatamente em seu vocabulário, mas, definitivamente, nas ações. Ela não escondia as cicatrizes do corpo, muito pelo contrário, e fez questão de mostrar sua rotina com a bolsa de colostomia.
Relembre algumas frases marcantes de Preta Gil sobre diversos temas:
Sobre aceitação do corpo
"Sempre gostei de mostrar o meu corpo, mas, primeiro, ele foi muito exposto. Vi o meu corpo sendo atacado logo no início da minha carreira. E foi a partir daí que eu entendi que o meu corpo é político... Ao me defender, eu defendia a existência do meu corpo e a existência do corpo de outras mulheres” - à revista Marie Claire
“Sim, eu uso bolsa de ileostomia e não tenho vergonha de mostrar, pois essa bolsinha salvou minha vida e me deu a possibilidade de me restabelecer de uma cirurgia que retirou o tumor que eu tinha! Sei que não é fácil, mas acreditem: sou grata!” - em publicação nas redes sociais.
Sobre relacionamentos
“A gente coloca muita expectativa no amor romântico, mas nossos amores são os amigos.” - à revista Quem.
“Tomara que você se cure de quem nunca reconheceu que te feriu” - em publicação nas redes sociais.
Sobre luto e perdas
"É uma realidade que a finitude pode chegar para mim mais rápido. Sempre tive muito medo de morrer, hoje não tenho mais. No fundo, sei que a morte não vai chegar agora. Mas estou preparada" - à revista Marie Claire.
“Aos poucos a compreensão das perdas vai tomando uma forma. Aos poucos nos fortalecemos na força da nossa própria existência. Sou grata a vida e ao que ela me permite viver, mesmo doendo muito às vezes" - em publicação nas redes sociais.
Sobre o tratamento
“Eu mantenho a minha fé através do amor que eu tenho pela vida. Valorizo muito a minha existência. Tudo isso mantém a minha fé” - em reflexão publicada no Instagram.
“Foi um período duro, mas muito bonito. É inacreditável como a nossa família se fortaleceu, se juntou ainda mais” - ao Fantástico, em fevereiro.
“Deus escreve certo por linhas tortas. Voltar aos palcos faz parte do meu processo de cura. Estou recebendo, assim como na radioterapia e quimioterapia, essa dose de cura. É uma prescrição médica: voltar ao palco, estar com a familia” - na volta aos palcos
Filha de Gilberto Gil, Preta ganhou fama para além do pai
Nascida no Rio de Janeiro, Preta Maria Gadelha Gil Moreira era a terceira filha do cantora e compositor Gilberto Gil. Sua mãe, Sandra Gadelha, conhecida como Drão, foi musa inspiradora de Gil na música Drão, que falava do rompimento do casamento entre os dois.
Preta tinha como irmãos Nara e Marília, filhas de Gil como Belina de Aguiar, Maria e Pedro (morto em 1990), também filhos de Sandra, e Bem, José e Bela, filhos de Gil com a empresária Flora Gil. Era sobrinha de Caetano Veloso por parte de mãe e afilhada da cantora Gal Costa.
Preta foi casada com o ator Otávio Müller, com quem teve seu único filho, o músico Francisco Gil. Era avó de Sol de Maria, nascida em 2015. Preta namorou os atores Caio Blat, Marcos Palmeira, Paulo Vilhena e o apresentador Marcos Mion.
Ela também foi casada com Rodrigo Godoy, com quem rompeu no período em que tratava o câncer. Preta acusou Godoy de traí-la enquanto ela fazia quimioterapia. O assunto gerou debates na sociedade.
Atriz, cantora e empresária, Preta ganhou fama depois de lançar seu primeiro álbum, em 2003, Prét-A-Porter. O trabalho, em um primeiro momento, ficou marcado por uma polêmica. A foto de capa trazia Preta nua. Anos mais tarde, em uma entrevista, Preta revelou que até mesmo seu pai, Gil, achou a foto "desnecessária".
"Meu pai é um sábio. Ele sabia exatamente o que eu iria passar depois. E não deu outra. Eu lancei o disco achando que eu estava abafando, que era bonita e gostosa. E aí veio um enxurrada de muitas críticas na época, de muito conservadorismo, muito preconceito", disse Preta em uma entrevista ao jornalista Pedro Bial.
Passado esse momento inicial, o álbum ganhou destaque pela faixa Sinais de Fogo, uma composição de Ana Carolina e Antonio Villeroy. Preta, então, passou a se apresentar como cantora e ganhou forte identificação sobretudo com o público gay. Preta, então, se tornou uma importante voz contra o preconceito, racismo e homofobia. Mais tarde, com a doença, Preta também se tornou uma voz importante na divulgação da prevenção e no diagnóstico precoce do câncer.
Como cantora, Preta ainda lançou outros cinco álbuns. O último deles, Todas As Cores, de 2017, trouxe as participações de Gal Costa, Pabllo Vittar e Marília Mendonça. Seu projeto Bloco da Preta foi um dos mais bem sucedidos do carnaval carioca.
Como atriz, Preta trabalhou em novelas como Agora É Que São Elas, Caminhos do Coração, Os Mutantes e nas séries As Cariocas e Pé Na Cova.
Preta também teve destaque como empresária. Ela foi um das fundadoras da agência de marketing de influência e entretenimento Music2 + Mynd8. A empresa desenvolveu projetos para nomes como Pabllo Vittar, Xamã, Camilla de Lucas, Jessi Alves, Douglas Silva, Pequena Lo, entre outros artistas, atletas e influenciadores. Em 2019, a agência ganhou Prêmio Caboré, voltado aos profissionais da propaganda. (*Com informações do Estadão Conteúdo)

