Preta quebrou tabu da bolsa de colostomia e representou pacientes abandonadas por parceiros
Vítima de câncer aos 50 anos, cantora deixa legado de coragem e transparência na luta contra a doença
Dezenas de milhares de brasileiros são ostomizados, ou seja, vivem com uma bolsa de colostomia ou ileostomia, ambas para armazenar fezes. Mas poucos se mostram publicamente com o acessório.
Ainda há desinformação na sociedade e, consequentemente, preconceito e vergonha. A grande maioria prefere não falar do tema e mantém a bolsa escondida para que ninguém saiba de sua existência.
Preta Gil quebrou esse tabu.
Após a cirurgia em dezembro de 2024, ela passou a usá-la permanentemente. “Dessa vez, eu tive que colocar uma bolsinha definitiva, e não provisória, como foi a do ano passado", contou num post. "Vou ficar para sempre com essa bolsinha e sou muito grata a ela.”
Dando valiosa normalidade ao procedimento, a cantora posou de biquíni numa piscina, com o acessório à mostra. Sorria, feliz com o momento de lazer.
Aliás, falar abertamente sobre o câncer e a possibilidade de morte foi outra grandeza demonstrada pela cantora. No tobogã de emoções típico de quem enfrenta uma grave doença, ela foi esperançosa e realista ao mesmo tempo.
No ‘Domingão do Huck’, no fim de março, ela abriu o jogo. “Eu agora vivo dento de uma fase difícil, complicada, porque aqui no Brasil a gente já fez tudo o que podia. Então agora as minhas chances de cura estão fora do Brasil, é para lá que eu vou. Pra voltar pra cá curada.”
Preta Gil teve a coragem de admitir em rede nacional de TV que a chance de cura era pequena, entretanto, demonstrou disposição para guerrear até o fim contra o câncer.
“Tenho muita coisa pra fazer aqui nessa vida, então, me recuso aceitar que se findou para mim agora. Ainda tenho uma caminhada”, avisou.
“... tenho muito amor à vida, muito amor a isso aqui. Sei que a gente tem de aprender a lidar com a finitude… É isso aí, muita fé em Deus, fé nos meus orixás, nas minhas santinhas. Fé na vida, fé no amor e vamos embora.”
Dias depois, na última visita a Salvador, a artista realizou o desejo de dar um mergulho — com a bolsa de colostomia sob o maiô e outra, de um dreno, pendurada na lateral do corpo.
“Esperei muito por esse dia, ficava sonhando no hospital”, disse. E se jogou ao mar para “receber o axé de Iemanjá”.
Outra contribuição relevante de Preta Gil foi às mulheres abandonadas após o diagnóstico de câncer. Segundo artigo no site do Dr. Drauzio Varella, 70% das pacientes são deixadas pelos companheiros durante o tratamento.
A artista viveu a mesma situação com o então marido, o personal trainer Rodrigo Godoy. "Enquanto a gente não fala, enquanto a gente vai passando pano para esses homens, eles continuam fazendo essas perversidades, essas monstruosidades contra as mulheres", desabafou ao ser entrevistada no programa ‘Roda Viva’.
“Casamentos acabam. As pessoas podem se apaixonar por outras. Ok, mas você tem um acordo com o seu caráter, com a sua dignidade, com o outro, que é maior do que convenções, que é o carinho, o afeto, a empatia. Então, aí você entende que alguma coisa faltou a ela. Faltou caráter. Faltou empatia. Faltou muitas coisas.”
Preta Maria Gadelha Gil Moreira deixa importante legado como artista e cidadã.