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Vittorio Storaro, o 'mago' que escreve com a luz (2)

Diretor está no Brasil para promover mostra de fotografia

11 jun 2018 - 19h28
(atualizado às 19h58)
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Por Beatriz Lia - ANSA: Quais são os principais problemas da indústria cinematográfica hoje em dia?

Vittorio Storaro, o "mago" que escreve com a luz
Vittorio Storaro, o "mago" que escreve com a luz
Foto: EPA / Ansa - Brasil

Storaro: Muitos anos atrás, na Europa, fizeram uma divisão entre "cinema de autor" [em que o diretor é fundamental para o filme em todos seus aspectos, iluminação, produção, direção, etc] e "cinema de gênero" [que engloba filmes de fantasia, ficção científica e de terror].

Os jovens diretores não são considerados "autores", e isso é um grande erro. Há jovens que não têm uma experiência na escrita e que não conseguem realizar personagens com solidez e histórias com boas estruturas.

Contudo, Federico Fellini, por exemplo, não é considerado um "autor", é um cineasta. Bernardo Bertolucci também não é um autor, mesmo tendo buscado inspiração em romances.

Não sei se há um equilíbrio na nova geração de diretores.... São filmes que às vezes são interessantes, porque não seguemos padrões cinematográficos. Mas não necessariamente um bom diretor é um bom escritor.

Depois, há uma arrogância dos jovens que, pensando ser "autores", não podem colocar nada em discussão. E, com isso, alienam a figura do produtor e dos que fazem a distribuição, que podem discutir a história de um filme com um diretor.

ANSA: Você foi escolhido como embaixador do "Fare Cinema" no Brasil e terá uma exposição no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Como o senhor se sentiu?

Storaro: Eu faço diversos seminários no mundo. Porque eu adoro contar aos jovens a minha experiência e quais são as "diretrizes" que eles devem seguir, como não ter medo de arriscar, de conhecer bem história e todas as várias artes que compõem o cinema e de fazer uma boa preparação antes de começar qualquer projeto.

Com relação ao programa do Museu de Arte Moderna, estou muito contente pela exposição, porque ela vem da publicação de uma trilogia de livros que preparei por trinta anos que não são sobre mim. São sobre a pesquisa sobre a filosofia da visão que apliquei em tantos filmes.

Isso é uma coisa que alimento desde o começo com diretores italianos: uma sensação de que cada filme precisava da sua visão em específico. Fomos educados a tentar entender o contexto principal dos filmes e traduzi-los no plano visual, e isso me ajudou muito a estudar, pesquisar e fazer relações com a pintura e filosofia.

Eu consigo fazer belas fotografias, eu tenho o dom de ser um escritor de imagens e não de palavras. E, pouco a pouco, vi que a linguagem da luz com a qual eu me expressava poderia ser exprimida na fotografia fixa, ou em movimento, ou no teatro, ou na arquitetura, etc.

A linguagem da luz é universal, isso me agrada, me completa, me permite conhecer vários aspectos da arte.

ANSA: O senhor é conhecido como "mago da luz". Qual é a importância da luz nos filmes?

Storaro: Ser considerado um mago, por mais que seja divertido, não é verdade. Não há nada de sobrenatural na nossa profissão. Ela é muito séria, com conhecimento de várias artes, e te permite se expressar na arte, principalmente nesse período em que usamos a imagem digital, e não química.

Havia um pouco de "magia" quando a gente filmava e não via o que estava sendo gravado. O resultado só era visto dias, semanas depois, quando o laboratório te enviava o material.

Hoje em dia, vê-se imediatamente o nosso pensamento, então, de certa forma, a "magia", o "mistério" que a palavra "cinema" poderia ter, foi cortado. Com o cinema digital, tudo é bem visível.

Portanto, precisamos de conhecimento dos significados das artes visíveis, de forma que possamos modificar as imagens com os diretores de maneira apropriada, englobando a história, personagens e o período de gravação.

ANSA: Você mencionou a mudança da tecnologia no cinema. Como é possível fazer uma luz "bela" para todos os tipos de tela, como celular, tablet, e mesmo o cinema?

Storaro: Eu acho que não existe uma luz "feia" ou "bela". Há, no campo da arte visível, luzes apropriadas para cada conceito, como pintura, teatro, fotografia, filme e para espetáculos televisivos que contam um tipo de história e devem ser iluminados de uma maneira apropriada.

A linguagem da luz é maravilhosa, mas precisa ser conhecida e estudada, no plano teórico, técnico, artístico e filosófico.

No meu caso, eu uso lições de luzes de Caravaggio, Leonardo da Vinci e Michelangelo, porque eles exprimiram em uma única imagem um conceito universal.

Por fim, o que precisamos pensar é que a luz deve envolver formas sentimentais, equilibradas, políticas e contar histórias diferentes.

Ansa - Brasil   
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