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Pesquisadora de Heliópolis integra GT de Juventudes de Lula

Sabrina Santos atua na UNAS, na zona sul de SP, e foi convidada para integrar grupo e apontar necessidades das juventudes no novo governo

29 dez 2022 - 05h00
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Sabrina Santos, no CCBB em Brasília, onde os grupos de transição se reuniram
Sabrina Santos, no CCBB em Brasília, onde os grupos de transição se reuniram
Foto: Arquivo pessoal

“Todas as áreas em um governo são prioritárias, mas todas precisam incluir as juventudes”, enfatiza Sabrina Oliveira Santos, 22, estudante dos cursos de ciências econômicas e gestão de políticas públicas pela UFABC (Universidade Federal do ABC) e pesquisadora da UNAS (União dos Núcleos, Associação de Moradores de Heliópolis e Região). 

Neste ano, ela recebeu um convite para compor o GT (Grupo de Transição) de Juventudes, do governo do presidente eleito Luís Inácio Lula da Silva (PT). O trabalho consiste em um relatório com dados sobre projetos, leis e programas construídos durante a gestão federal anterior e o impacto deles na população. Também deve trazer propostas e demandas da sociedade.  

“Fiquei um pouco apreensiva porque é um trabalho bem técnico, que discute questões orçamentárias, leis que deveriam ser revogadas, programas que foram descontinuados etc., mas quando sentei com o grupo para construirmos esse material, percebi que era só apontar os programas que participei e os problemas que enfrentei sendo uma jovem negra de periferia”, diz. 

Cria do “Fundão do Ipiranga”, como são conhecidos popularmente as periferias do distrito do Sacomã, na zona sul de São Paulo, Sabrina, que mora no Jardim Maria Estela, sempre teve a educação como um pilar. Segundo ela, o estudo foi fundamental para a construção de um pensamento crítico sobre o território. 

“Olhava para a minha realidade e me questionava: por que na minha casa tem dias que não há água e em outros lugares da cidade isso não acontece? E buscava entender as causas por meio da leitura”, conta. 

Aos 14 anos, conseguiu uma bolsa integral de permanência para ingressar em um colégio particular e cursar o ensino médio em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. Foi nesse período que ela finalmente teve uma referência preta periférica dentro da sala de aula: a professora Marilene, de literatura. 

“Ela foi muito importante na minha formação. Aos 15 anos, li ‘Quarto de Despejo’ da Carolina Maria de Jesus, li Abdias Nascimento, obras e autores que quando ingressei na faculdade, o curso pedia, e eu já tinha contato”, comenta. 

Para Sabrina, um dos momentos mais complexos da formação foi o processo de entrada na universidade. “Para quem é favelado, pobre, a universidade ainda é muito distante. Sabia do Enem [Exame Nacional do Ensino Médio], mas muitos colegas meus não tinham conhecimento das cotas para estudantes de escolas públicas, por exemplo, ou da isenção da taxa”, aponta.  

Ela diz que foi amor à primeira vista quando encontrou o curso de gestão de políticas públicas na UFABC, que oferece a oportunidade de terminar a faculdade com duas graduações. A afinidade com temas como economia e orçamentos, definiu a escolha da segunda formação: ciências econômicas.  

“Sempre quis colocar a mão na massa e promover ações que pudessem melhorar o meu bairro e o lugar onde vivo. E políticas públicas me abre essa possibilidade de conhecer os mecanismos e ferramentas para propor isso”, diz.  

Em 2021, Sabrina passou a integrar o grupo de pesquisas da faculdade, que tinha parceria com a UNAS, na comunidade de Heliópolis, na zona sul da capital. “Já fui impactada inúmeras vezes pelo trabalho deles, seja pelos projetos culturais, pelo Helipa Music ou o recebimento de cestas básicas”, conta. 

Com a parceria, a estudante fez parte do projeto “De Olho na Quebrada”, um observatório formado por jovens de 15 a 22 anos que mapeia a região e analisa diversos pontos: violência policial, pontos de comércio, saúde mental, saúde alimentar e internet para transmitirem dados corretos sobre a comunidade. 

No projeto, a jovem estudava a percepção da população de Heliópolis sobre a vacinação contra a Covid-19. “Por conta do isolamento, não podíamos realizar a pesquisa de porta em porta, por isso elaboramos formulários e falávamos por telefone com as pessoas”, comenta. Com o encerramento, veio o convite para trabalhar como pesquisadora na entidade. 

Grupo de Transição Juventudes e equipe com o relatório pronto para entrega
Grupo de Transição Juventudes e equipe com o relatório pronto para entrega
Foto: Arquivo pessoal

Da pesquisa ao GT Juventudes 

Com a proximidade das eleições de 2022, o De Olho na Quebrada mobilizou a juventude da região a tirar o título de eleitor no movimento #BoraVotarQuebrada. Cerca de 300 jovens emitiram o documento e foram conscientizados sobre a importância de votar. 

A ação repercutiu e levou a diretoria da UNAS a propor uma agenda da juventude para o candidato do PT à presidência, que foi aceita. A agenda e o evento foram organizados exclusivamente pela juventude de Heliópolis – intitulado “Lula no Helipa” – e contou com cerca de 200 jovens e lideranças da favela. 

“Organizamos um evento transversal, que contava com moradores de Heliópolis que falariam sobre pautas importantes para a juventude periférica: moradia, cultura, mulheres e LGBTQIAP+. Como tenho um contato muito grande com a educação, fui colocada para falar sobre o tema”, comenta Sabrina. 

“Existe uma ideia deturpada de que o jovem não tem interesse em estudar, quando na realidade não existe escolha para ele: ou a pessoa termina o ensino médio ou ajuda a família a colocar comida no prato. E isso é vivido diariamente na quebrada”, enfatiza. 

Foi a partir da participação no evento e na atuação como pesquisadora que Sabrina recebeu o convite para integrar o GT de Juventudes. “Achei que não fosse verdade, mas era. Então aceitei”, conta. Ela foi até Brasília, no Centro Cultural Banco do Brasil, onde as equipes se reuniram, e trabalhou no relatório com o grupo. 

Juventudes plurais  

O GT contava com nove jovens do país todo, com realidades diferentes. O que, segundo a pesquisadora, foi fundamental para a construção de um material que buscasse atender um pouco de cada demanda das juventudes do país – que são plurais. 

“As vivências são diferentes, dependendo do território. Por exemplo, a juventude quilombola sofre com ações truculentas do garimpo, já a juventude da periferia sofre com a violência policial, com a criminalização dos bailes, mas os jovens indígenas, nordestinos e do campo têm outros enfrentamentos”, comenta. 

“Então, quando você une pessoas diversas, acaba fazendo um diagnóstico muito rico e promove uma política mais robusta”, complementa.  

Mesmo com tantas particularidades, Sabrina acredita que o grupo conseguiu alcançar o objetivo de identificar pontos cruciais que o próximo governo deve ter junto às juventudes. Para ela, participar do grupo de transição significou ampliar o olhar sobre outros territórios e pensar em possibilidades para a própria quebrada.  

“Também pude me sensibilizar mais com as pautas climáticas que impactam absurdamente as periferias. Então aprendi muito com essa experiência”, conclui. 

Agência Mural
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