Brasil vai tapar o sol (carros chineses) com a peneira (impostos)
Entenda a queda de braço entre a Anfavea e a ABVE sobre a questão dos impostos de importação para carros elétricos
A qualquer momento o governo deve anunciar a volta do imposto de importação para carros elétricos e híbridos no Brasil. É o que indica a recente declaração de Uallace Moreira, secretário do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços).
Em entrevista à agência Reuters ele disse: “O que podemos fazer para estimular a produção local? Tornar as importações um pouco mais difíceis e caras”. Num momento de tanta transformação energética, de urgência climática e do surgimento de novas tecnologias, a declaração está sendo duramente criticada.
No último balanço mensal, o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, disse: “Temos uma invasão de produtos asiáticos, principalmente chineses, na América Latina”. O presidente da ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico), Ricardo Bastos, rebateu: “As vendas de veículos eletrificados hoje são 2% do mercado; 2% não é invasão”.
Segundo dados da Anfavea, considerando somente os carros 100% elétricos, a participação desses veículos nas vendas de 2023 é de 0,4%.
Embora representem duas entidades, os dois executivos estão alinhados com os interesses de suas montadoras de origem. Lima Leite é ligado à Stellantis (Fiat, Jeep, Peugeot, Citroën e Ram) e Bastos é diretor da GWM (Haval e Ora).
Recentemente, num evento da Anfavea em Brasília, Márcio de Lima Leite disse que os carros elétricos a bateria e os carros híbridos flex podem conviver juntos. Mas, posteriormente, pediu de forma enfática a volta do imposto de importação, o que incomodou as montadoras que estão apostando alto nos veículos elétricos.
Na visão de Ricardo Bastos, a isenção do imposto de importação “está trazendo anúncios de investimentos”. Segundo o site Motor 1, Bastos teme um retrocesso justamente agora que carros elétricos das chinesas BYD e GWM estão forçando a queda de preços.
Trata-se de um movimento que também está sendo acompanhado pela Volvo, que já anunciou a importação (da China) do inédito SUV elétrico EX30, com preços entre R$ 220 mil e R$ 280 mil. Da mesma forma, a Ford pretende produzir o SUV Bronco na China para torná-lo mais competitivo.
“Voltar com o imposto agora seria jogar fora todo o esforço que o Brasil tem feito em eletrificação, não só das montadoras, mas de fornecedores”, disse Bastos, numa referêcia às empresas que estão investindo em baterias, carregadores e eletropostos.
Do lado da Anfavea, Lima Leite afirma que a indústria transnacional presente no Brasil precisa de “tempo e previsibilidade”. Seu desejo é que o imposto volte a 35%, mas não disse em que período.
A Anfavea entende que não está sozinha em sua luta para dificultar a entrada dos carros chineses em mercados ocidentais. A União Europeia iniciou uma investigação sobre os subsídios aplicados a veículos elétricos vindos da China.
“Mercados globais são inundados por carros elétricos chineses com preços mantidos artificialmente baixos por grandes subsídios estatais”, disse Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, no jornal Valor Econômico.
Eventuais medidas protecionistas, de qualquer forma, ainda não foram anunciadas. No Brasil, conforme a fala de Uallace Moreira, essa proteção deve surgir a qualquer momento.
Resta saber se isso não equivale a tapar o sol (carros chineses) com a peneira (impostos). Afinal, não apenas na indústria automobilística, a China está se tornando dominadora da economia global.
Ainda na metade desta década tanto a BYD quanto a GWM passarão a fabricar veículos eletrificados no Brasil. E a Caoa Chery mantém em pé a promessa de fabricar veículos elétricos na fábrica de Jacareí, SP.
