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Pesticidas podem estar mudando forma de acasalamento das baratas

As baratas machos se adaptaram para continuar cortejando as fêmeas, segundo estudo

29 mar 2023 - 11h13
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Algumas baratas fêmeas desenvolveram aversão à glicose — algo que prejudica a vida sexual.
Algumas baratas fêmeas desenvolveram aversão à glicose — algo que prejudica a vida sexual.
Foto: Pexels

A prática de humanos em usar armadilhas de açúcar para atrair baratas levou fêmeas do inseto a serem repelidas pelos "presentes" açucarados que os machos usam para atraí-las para o acasalamento.

No entanto, isso não significa o fim da espécie, em vez disso, alguns machos adaptaram novas maneiras de continuar cortejando-as, inclusive encurtando a duração das preliminares do acasalamento.

É o que afirma um estudo nesta quarta-feira (29), publicado na revista científica Proceedings Royal Society. 

Acasalamento de baratas

Naturalmente, as baratas machos secretam algumas gotas de líquido açucarado em suas costas para atrair as fêmeas com a finalidade de acasalar — enquanto isso, as fêmes montam neles e comem o “presente nupcial” deixado. 

Na sequência, o macho desliza seu gancho genital nela, prendendo-a no lugar por 90 minutos de cópula. E tem sido assim durante milhares de anos. Apesar disso, as fêmeas desenvolveram um tipo de "aversão à glicose", e recusam os presentes açucarados nas costas dos macho.

Por que baratas recusam glicose

A glicose, uma forma de açúcar, tem sido usada há muito tempo para atrair essas baratas em uso de pesticidas, que costumam misturar xarope de milho nas iscas para mascarar o amargor do veneno. 

Há cerca de 30 anos, em um estudo de insetos, pesquisadores descobriram que as baratas na Flórida, nos EUA, estavam evitando iscas comerciais porque desenvolveram uma aversão à glicose.

De acordo com a nova análise de pesquisadores da Universidade Estadual da Carolina do Norte, em Raleigh, essa prática as salvam da morte, mas prejudica a vida sexual — e talvez a reprodução. 

“É incrível que uma única mudança no sentido do paladar possa estimular a evolução tanto da estratégia de forrageamento quanto dos comportamentos sexuais”, disse Ayako Wada-Katsumata da North Carolina State University, ao New Scientist.

Atraindo baratas fêmeas 

Para saber se essa adaptação evolutiva desses insetos afetou a maneira como as fêmeas respondem aos  presentes nupciais dos machos, a equipe de pesquisa gravou vídeo 251 pares de baratas alemãs (Blattella germanica) em laboratório. 

As baratas incluíam algumas de uma população da Flórida que desenvolveu aversão à glicose e outra que não desenvolveu.

Eles descobriram que as fêmeas avessas à glicose rapidamente pararam de se alimentar dos líquidos doces dos machos da população não avessa ao açúcar e não acasalaram com eles.

Os resultados mostraram que, em vez disso, as baratas se alimentaram das secreções dos machos da população avessa à glicose por tempo suficiente para bloquearem seus órgãos genitais com sucesso.

A equipe também descobriu que esses machos estavam presos nas fêmeas dentro de 2,2 segundos após a fêmea começar a se alimentar, em oposição ao intervalo normal de 3,3 a 3,9 segundos.

As análises mostraram também que os machos dos grupos avessos ao açúcar tinham secreções feitas principalmente de maltotriose, um açúcar complexo que se decompõe em glicose após cerca de 5 minutos na saliva.

De acordo com os pesquisadores, isso significa que, quando a fêmea sentir o gosto da glicose de que não gosta, será tarde demais. “Ela pode ficar com um gosto amargo, mas não importa. Ela está envolvida em cópula e se envolverá nisso por 90 minutos. Não há como escapar”, explicaram.

As descobertas fornecem mais innformações para pesquisas futuras sobre a ligação entre seleção natural e seleção sexual, que muitas vezes é difícil de demonstrar em biologia.

Fonte: Redação Byte
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