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Os humanos poderão ser esquecidos daqui a milhões de anos?

Se algum dia formos extintos e outra espécie inteligente tomar o nosso lugar daqui a milhões de anos, ainda haverá vestígios de que habitávamos a Terra antes dela?

28 dez 2025 - 18h07
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Um esqueleto humano sendo desenterrado por pesquisadores.
Um esqueleto humano sendo desenterrado por pesquisadores.
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Nós, humanos, sempre fomos fascinados pelo passado.

Desenterramos inúmeros fósseis do solo — relíquias dos 4,5 bilhões de anos de história da Terra, que nos dão pistas sobre como espécies antigas viviam muito antes de existirmos.

Mas se nós mesmos fôssemos extintos e outra espécie inteligente surgisse daqui a milhões de anos, será que eles saberiam que existimos? Ou como era a nossa civilização?

Pequena chance de virar fóssil

Não podemos contar com que paleontólogos futuros encontrem nossos fósseis, diz Adam Frank, professor de astrofísica da Universidade de Rochester, nos EUA.

"Apenas uma pequena fração da vida na Terra se fossilizou, especialmente se a sua civilização durou apenas um breve período geológico", explica ele.

Segundo um artigo de 2018 de Adam Frank e Gavin Schmidt, poucos fósseis de dinossauros quase completos foram encontrados diante dos 100 mil anos de sua existência
Segundo um artigo de 2018 de Adam Frank e Gavin Schmidt, poucos fósseis de dinossauros quase completos foram encontrados diante dos 100 mil anos de sua existência
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Um artigo de 2018, coescrito por Frank, aponta que, apesar de todos os dinossauros que vagaram pela Terra durante 165 milhões de anos, poucos fósseis quase completos foram encontrados até hoje.

Assim, o artigo sugere que, dado que nossa espécie humana existe há apenas cerca de 300 mil anos (até agora), talvez não deixemos muita marca no registro fóssil.

Mas podemos deixar vestígios diferentes.

Alterando a química da Terra

Como parte da geologia natural do planeta, as rochas são continuamente depositadas no solo em camadas ou estratos.

A composição química de cada estrato está relacionada condições do planeta naquele momento.

Segundo Frank, o aumento das temperaturas e as mudanças no nível do mar devido às alterações climáticas provocadas pelo homem afetarão o que será depositado nas rochas, algo que vai ser detectável "provavelmente daqui a centenas de milhões de anos".

"Veríamos que havia uma diferença nos isótopos de oxigênio e nos isótopos de carbono devido ao fato de o sistema climático da Terra ter mudado por causa da atividade humana", diz o astrofísico.

Remodelando a evolução

Mesmo que nossos próprios ossos não apareçam muito no registro fóssil, é bem possível que tenhamos alterado os fósseis de outras espécies por meio das plantas e animais que transportamos pelo globo ou da biodiversidade que alteramos.

Um estudo de 2018 comparou a biomassa de mamíferos vivos e descobriu que apenas 4% era proveniente de mamíferos selvagens.
Um estudo de 2018 comparou a biomassa de mamíferos vivos e descobriu que apenas 4% era proveniente de mamíferos selvagens.
Foto: BBC News Brasil

Um estudo de 2018 descobriu que 96% de todos os mamíferos do mundo eram nós ou nosso gado, medido pela biomassa — o peso total de toda a matéria viva.

Mais de dois terços da biomassa de aves do mundo vieram de nossas aves domésticas.

Abatemos mais de 75 bilhões de galinhas todos os anos, de acordo com a publicação sem fins lucrativos Our World in Data.

Portanto, os fósseis de todas essas aves quase idênticas, morrendo em grande número, podem muito bem causar surpresa no futuro.

"Alteramos o curso da evolução biológica", diz Jan Zalasiewicz, geólogo, paleontólogo e professor emérito da Universidade de Leicester, no Reino Unido.

"Nossos exploradores do futuro distante vão se perguntar: 'O que aconteceu? Por que isso aconteceu?'", sugere ele. "E eles vão se concentrar na camada onde tudo isso começou, e essa é a nossa camada."

Nosso 'legado final'

Em seu livro intitulado Discarded: How Technofossils Will Be Our Ultimate Legacy (Descartados: Como os Tecnofósseis Serão Nosso Legado Final, em tradução livre), Zelasiewicz e sua colega da Universidade de Leicester, Sarah Gabbott, argumentam que serão nossos objetos do cotidiano que continuarão vivos no registro geológico da Terra.

Eles chamam esses objetos de tecnofósseis - seja uma lata de alumínio de bebida, um suéter de poliéster ou uma vaga de estacionamento subterrânea.

Objetos do cotidiano que deixam marcas nos sedimentos da Terra podem fornecer pistas para as civilizações futuras sobre como vivíamos.
Objetos do cotidiano que deixam marcas nos sedimentos da Terra podem fornecer pistas para as civilizações futuras sobre como vivíamos.
Foto: Sarah Gabbott / BBC News Brasil

Um estudo de 2020 estimou que produzimos 30 gigatoneladas de objetos anualmente. Isso equivale a cada pessoa na Terra produzir mais do que o seu próprio peso corporal por semana.

Na verdade, os autores descobriram que agora temos no mundo mais coisas feitas pelo homem do que seres vivos, quando comparamos seu peso seco.

A maior proporção de produtos humanos vem do concreto, que pode não parecer muito natural para futuros descobridores.

"Uma das maneiras como fazemos concreto hoje em dia é adicionando cinzas volantes… sob o microscópio, [esse material] parece absolutamente bizarro", diz Zelasiewicz.

"Se as bordas de edifícios de concreto e lajes de pavimentação virarem formas fossilizadas, [os arqueólogos do futuro] verão que é algo bem diferente de um estrato natural."

Em 2020, havia o dobro de plástico produzido pelo homem no mundo do que animais vivos, de acordo com um estudo publicado na revista Nature
Em 2020, havia o dobro de plástico produzido pelo homem no mundo do que animais vivos, de acordo com um estudo publicado na revista Nature
Foto: BBC News Brasil

Muitos dos nossos materiais permanecerão por muito tempo.

O plástico "provavelmente pode durar não apenas milhares de anos, mas potencialmente milhões de anos", diz Gabbott.

Produzimos tanto desse material que, até 2050, poderá haver mais plástico do que peixes no oceano, segundo as Nações Unidas. Mas não é só o plástico.

"Temos rochas com quatro bilhões de anos que contêm grafite", continua Gabbott.

"Portanto, o grafite na forma de um lápis poderia durar quatro bilhões de anos."

A paleontóloga afirma que folhas fossilizadas de centenas de milhões de anos atrás foram encontradas.

"O papel é feito de celulose, que é a mesma substância das folhas. E então... o papel no ambiente certo provavelmente poderia durar centenas de milhões de anos", especula ela.

Mudanças em escala planetária

É bem possível que os humanos já tenham deixado uma enorme marca na geologia da Terra. Se outra espécie inteligente a verá um dia, muito depois do nosso desaparecimento, é uma incógnita.

Mas será útil imaginar o nosso legado milhões de anos no futuro?

O professor Frank acredita que sim.

"Acho que é vital para nós superarmos este período de imaturidade tecnológica, sermos capazes de pensar na história de longo prazo da Terra", argumenta ele.

"Estas são mudanças em escala planetária que terão consequências por séculos, milênios, dezenas de milênios", afirma.

Baseado em um episódio do podcast CrowdScience (em inglês), do Serviço Mundial da BBC. Com reportagem de Ellen Tsang.

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