Dispositivo da Unicamp promete ajudar a emagrecer sem bariátrica
Cientistas da Unicamp testam novo dispositivo eletroestimulador que age no estômago para induzir a perda de peso; tecnologia é promissora em testes com animais
A previsão é que, até 2035, mais da metade da população mundial estará acima do peso, o que terá diferentes graus de complicações na saúde pública. Buscando novas soluções para indivíduos com obesidade severa, pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desenvolvem um dispositivo eletroestimulador que induz o organismo a produzir hormônios que dão a sensação de saciedade, capaz de gerar emagrecimento sem a necessidade de uma cirurgia bariátrica.
Ainda em fase de pesquisa, o dispositivo médico que promete ajudar no emagrecimento poderá ser usado como uma opção para pessoas que não respondem aos tratamentos para obesidade, como a reeducação alimentar. Além disso, a proposta é que a nova alternativa esteja no meio-termo entre a bariátrica — procedimento considerado bastante invasivo — e o balão gástrico — menos invasivo, mas nem sempre efetivo. Também poderá substituir remédios como a semaglutida.
Vale apontar que a pesquisa para o dispositivo estimulador começou ainda em 2015. Na época, os estudos foram iniciados após proposta feita pela empresa InPulse, fundada em Florianópolis (Santa Catarina), que é parceira no desenvolvimento.
Como funciona o dispositivo da Unicamp para emagrecimento?
No momento, os cientistas ainda não sabem precisar como o dispositivo implica na perda de peso nos modelos animais — nenhum teste foi feito com seres humanos, por exemplo. No entanto, o equipamento gera atividade elétrica na parede do estômago, o que ativa o sistema nervoso cerebral e, possivelmente, gera uma resposta hormonal associada com a sensação de saciedade.
Para isso, são instalados um ou mais cabos com eletrodos na parede gástrica anterior (próxima do piloro) para a condução dos sinais. Isso é possível por meio de uma cirurgia de laparotomia, ou seja, através de uma pequena incisão no abdômen.
Testes com a técnica de eletroestimulação
Durante os testes pré-clínicos já realizados, os pesquisadores mediram o impacto do dispositivo durante 30 dias em porcos que estavam na fase de crescimento, com cerca de 15 kg. Nestes testes, a tecnologia contribuiu com o emagrecimento, o que levou ao registro de patente.
Agora, a equipe da Unicamp irá iniciar uma nova rodada de estudos, com previsão de duração de dois anos. Neste momento, o dispositivo eletroestimulador será testado em porcos adultos, com cerca de 50 kg. Se os resultados forem novamente positivos, análises mais detalhadas buscarão entender como o mecanismo gera a perda de peso, através de exames em tecidos do fígado e da gordura (tecido adiposo), além de amostras de sangue.
Futuro da tecnologia para emagrecimento
"Pessoas com obesidade grave têm prognóstico muito ruim devido às comorbidades associadas. Por isso, a importância de ter [novas] alternativas para esses pacientes", como a eletroestimulação do estômago, afirma Raquel Franco Leal, pesquisadora do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp e responsável pela pesquisa, em nota.
Hoje, os testes com animais ainda avançam, mas a ideia é que, quando o dispositivo estiver pronto para ser implementado em humanos, a cirurgia seja menos invasiva. Por exemplo, os eletrodos poderão ser instalados através de uma videolaparoscopia, feita com a ajuda de um tubo com uma pequena câmera no abdômen.
Na ciência, "o desejo de médicos em desenvolver um equipamento como este é antigo, tanto que há artigos científicos sobre o assunto desde a década de 1970. No entanto, é preciso ter conhecimento em engenharia para que a tecnologia seja desenvolvida", explica Gabriel Veloso Paim, diretor técnico da InPulse. Atualmente, este nível de tecnologia já está disponível, como apontam os primeiros resultados positivos.
Fonte: Inova Unicamp
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