Estudo: movimento das águas-vivas desperta empuxo em oceanos
Roberta Kwok
As pequenas criaturas conhecidas como águas-vivas podem contribuir para a combinação dos oceanos mundiais ao puxar água com elas quando nadam, aponta um novo estudo. O movimento coletivo dos animais poderia despertar empuxo da mesma ordem que o conferido pelo vento e as marés, sugerem os pesquisadores.
Há pesquisadores céticos quanto ao papel do processo na combinação de oceanos. Mas, se surgirem novos indícios, a constatação pode afetar novos modelos que incorporam a combinação oceânica a simulações de climas passados e futuros. "É um mecanismo bastante intrigante", diz Eric Kunze, físico oceânico da Universidade de Victoria, no Canadá, que não participou do trabalho. Mas até que novos dados sejam obtidos, "não saberemos se o processo é importante no oceano", diz.
À deriva
John Dabiri, pesquisador de mecânica dos fluidos, e Kakaki Katija, aluna de pós-graduação no Instituto de Tecnologia da Califórnia, investigaram um mecanismo reportado inicialmente pelo neto de Charles Darwin, em 1953. Quando um objeto se move por um fluido, ele sugeriu, arrasta parte do fluido consigo.
Os dois modelaram o mecanismo proposto para uma série de viscosidades, como as encontradas pelos animais em águas oceânicas, e constataram que um objeto conduz mais fluido consigo quanto maior for a viscosidade. Objetos pequenos como plânctons puxavam até quatro vezes o seu volume corpóreo em fluidos quando se movimentavam mesmo que por distâncias curtas, diz Dabiri.
Os pesquisadores também observaram águas-vivas nadando em meio a nuvens de corantes em um lago de Palau, uma ilha no Pacífico. Cada animal era seguido por uma trilha de corante, tal como previa o modelo de Darwin. A equipe mediu o movimento do corante e o de partículas suspensas na água, na esteira do animal, e constatou que 90% da mistura de água provinha do mecanismo de Darwin e não da turbulência, reportou a equipe em artigo para a revista Nature.
O mecanismo de Darwin poderia produzir um trilhão de watts de energia nos oceanos mundiais, a mesma ordem de magnitude das marés e ventos, estima o grupo. "Precisamos considerar que os animais não só respondem ao oceano mas o propelem, em certos locais", diz Dabiri.
Complicações climáticas?
Mas há quem não se convença. Porque a água puxada para cima é mais densa, ela terminaria caindo em lugar de acompanhar o animal, argumenta Andre Visser, oceanógrafo da Universidade Técnica da Dinamarca. "Para mim, é menos que convincente", diz. Dabiri concorda que a água pode se reacomodar rapidamente, em certos locais, mas diz que essa queda também gera combinação. Se os animais viajarem em grupos densos, o fluido puxado por um animal pode ser apanhado por outro ao cair.
Se a natação dos animais influencia substancialmente a combinação oceânica, a modelagem do clima enfrentará "sério desafio", diz Carl Wunsch, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Por exemplo, cenários futuros teriam de considerar mudanças nas populações animais. Isso desperta "questões acessórias bizarras", como o efeito da pesca excessiva sobre a circulação oceânica, diz Wunsch.
O mecanismo de Darwin também pode afetar o aprisionamento de carbono, sugere Dabiri, porque fezes em queda e outros detritos orgânicos podem levar água que contém carbono dissolvido em direção ao piso oceânico. As opiniões por enquanto estão divididas, diz Wunsch. "Se surgir um consenso, os especialistas em modelagem terão de prestar atenção", diz.
Tradução: Paulo Migliacci